Um grande dilema médico é conseguir determinar quais pacientes com bacteremia devemos seguir investigação também para endocardite infecciosa (EI). Alguns estudos de coorte e metanálises sugerem uma associação entre hemoculturas persistentemente positivas e EI. No entanto, nenhum dos estudos avaliou o número de frascos de hemocultura inicialmente positivos e não diferenciou os resultados da cultura por patógeno.
Existem diversos algoritmos desenvolvidos para essa análise, porém, são complexos e difíceis de serem implementados à beiro do leito. Dessa forma, um estudo recente buscou avaliar a precisão diagnóstica de diversos parâmetros simples dos resultados de hemocultura, estratificados por patógeno, para auxiliar os médicos nessa tomada de decisão.
Características do estudo
Este estudo foi multicêntrico, retrospectivo e de caso-controle, avaliando dados de hemocultura de adultos com EI e comparando com adultos sem EI. Ele foi realizado em três hospitais públicos de cuidados intensivos de Los Angeles, entre dezembro de 2018 e agosto de 2022.
Os pacientes eram indivíduos com 18 anos ou mais que tinham hemoculturas positivas para Staphylococcus aureus suscetível à meticilina, S aureus resistente à meticilina, Enterococcus faecalis, espécies de Streptococcus de baixo risco para EI (S pneumoniae, S pyogenes, S dysgalactiae, S agalactiae, grupo S viridans – S salivarius, S anginosus/constellatus e S thermophilus) ou espécies de Streptococcus de alto risco (S bovis, grupo S viridans – S mitis/cristatus, S sanguinis, S gordonii, S parasanguinis, S sanguinis e S mutans, Abiotrophia defectiva e Granulicatella adiacens), incluindo casos que preenchiam os critérios de Duke para EI definitiva ou possível e casos controle que não tinham endocardite.
O desfecho primário foi a razão de verossimilhança negativa (LR-) de ter endocardite com base no número de hemoculturas positivas na admissão. LRs positivos, avaliação de 2 ou mais de 4 frascos positivos na admissão, bacteremia com duração de pelo menos 2 dias foram desfechos secundários.
Foram incluídos 252 pacientes com EI (182 homens [72%]; idade mediana 54 [38-65] anos), incluindo 164 casos definitivos e 88 possíveis, e 455 controles (321 homens [71%]; idade mediana 53 [41-63] anos). As estimativas de pontos LR negativos para ter EI com apenas 1 de 4 frascos de hemocultura positivos na admissão variaram de 0,05 (IC 95%, 0,01-0,37) para E faecalis a 0,12 (IC 95%, 0,03-0,49) para S aureus suscetível à meticilina.
A análise de sensibilidade dos casos restritos à EI definitiva encontrou resultados semelhantes. A depuração da hemocultura no dia 2 também teve LRs negativos modestamente úteis para S aureus resistente à meticilina (0,24; IC 95%, 0,13-0,42) e espécies de Enterococcus (0,34; IC 95%, 0,21-0,56). Se os pacientes tivessem 4 de 4 frascos positivos na admissão, os LRs positivos foram úteis para espécies de Enterococcus (LR, 4,21; IC 95%, 2,53-7,02) e estreptococos de alto risco (LR, 5,35; IC 95%, 3,39-8,42) e para todos os organismos com bacteremia persistente (com LRs variando de 1,78 [IC 95%, 1,36-2,34] a 9,60 [IC 95%, 3,43-44,60]).
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Achados
Assim, nesse estudo, observamos que o risco geral de IE é de aproximadamente 1 em 8 para pacientes com bacteremia por S. aureus. Além disso, descobrimos que avaliações simples dos resultados da hemocultura, incluindo o número de frascos positivos na admissão (assumindo que pelo menos 2 conjuntos foram coletados) e o número de dias em que as culturas permaneceram positivas, poderiam ser úteis para definir quais pacientes devemos prosseguir a investigação de endocardite infecciosa.
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