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Cardiologia16 junho 2023

Há relação entre alteração tireoidiana e eventos cardiovasculares em diabéticos?

Um grande estudo avaliou a ocorrência de desfechos cardiovasculares em pacientes que fizeram uso de insulina glargina ou ômega 3.

Aproximadamente 10 a 15% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) têm disfunção tireoidiana associada, sendo o mais comum a ocorrência de alteração tireoidiana subclínica, quando há alteração do TSH e não há alteração dos hormônios livres da tireoide. 

O hipertireoidismo subclínico é associado a aumento do risco de fibrilação atrial (FA), insuficiência cardíaca (IC), mortalidade cardiovascular (CV) e mortalidade geral. Já no caso de hipotireoidismo subclínico, os resultados dos estudos são conflitantes, com alguns mostrando associação com síndrome coronariana aguda (SCA), IC e mortalidade CV e outros sem confirmar essa associação. 

Baseado nisso, foi feita uma análise com pacientes do estudo ORIGIN, com objetivo de avaliar se a presença de disfunção tireoidiana ou reposição de hormônio da tireoide foi capaz de predizer ocorrência de eventos cardiovasculares. 

Saiba mais: Pesquisadores desenvolvem algoritmo que prevê IAM

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi uma análise de 8.401 pacientes que participaram do estudo ORIGIN, um grande estudo controlado e randomizado que avaliou a ocorrência de desfechos cardiovasculares em pacientes com alteração glicêmica e outros fatores de risco e que fizeram uso de insulina glargina ou ômega 3. 

Para inclusão era necessário: idade maior ou igual a 50 anos, presença de diabetes em uso de no máximo um hipoglicemiante oral, intolerância à glicose ou glicemia de jejum alterada associado a um fator de risco cardiovascular adicional. 

A função tireoidiana foi avaliada pela dosagem do TSH e categorizada como hipertireoidismo (TSH < 0,5 mIU/L), eutireoidismo (TSH 0,5 – 5,0 mIU/L), hipotireoidismo subclínico (TSH 5,0 – 10,0 mIU/L) e hipotireoidismo clínico (TSH > 10 mIU/L). Além do TSH, o uso ou não de levotiroxina também foi avaliado. 

Os desfechos analisados foram os desfechos co-primários: morte CV, infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal ou acidente vascular cerebral (AVC) não fatal; os componentes do desfecho anterior mais revascularização ou internação por IC; mortalidade por todas as causas. 

Resultados 

A idade média dos pacientes era 63,7 anos, 34% eram do sexo feminino, 88% tinham diagnóstico de diabetes e 59% tinham evento cardiovascular prévio. O nível de TSH era normal em 91,5%, 0,9% tinham hipertireoidismo, 5,5% hipotireoidismo subclínico e 2,2% hipotireoidismo clínico. 

Entre as variáveis analisadas, idade, sexo feminino, hemoglobina glicada, creatinina e prolactina foram positivamente associados aos níveis de TSH. Já globulina ligadora de hormônios, uso de beta-bloqueador, uso de IECA ou BRA, uso de diuréticos e de levotiroxina foram negativamente associados ao TSH. 

O primeiro desfecho co-primário ocorreu em 1.405 pacientes, o segundo desfecho co-primário em 2.435 e morte em 1.340 pacientes no seguimento de 6,2 anos. Esses pacientes foram distribuídos ao longo dos níveis de TSH e não houve relação do primeiro desfecho com TSH, porém comparado aos com função tireoidiana normal os com hipotireoidismo tiveram risco 24% maior do segundo desfecho co-primário (p = 0,009) e risco de morte 37% maior (p = 0,002). Houve aumento não linear de eventos cardiovasculares e mortalidade com o aumento do TSH e não houve diferença no subgrupo que usava levotiroxina. 

Na análise do modelo minimamente ajustado, o uso de levotiroxina teve relação inversa com mortalidade e essa relação se manteve após ajustes por todas as variáveis. Uso de levotiroxina também foi inversamente associada ao primeiro desfecho co-primário quando totalmente ajustado. 

Veja também: Os DOAC podem ser usados para pacientes com câncer e TVP recorrente?

Comentários e conclusão 

Nesse estudo, que avaliou pacientes com alteração glicêmica, hipotireoidismo subclínico teve relação com ocorrência de eventos cardiovasculares e mortalidade. O tratamento com levotiroxina pode reduzir mortalidade e não levou a aumento de eventos. 

Atualmente, o tratamento de pacientes com TSH < 10 mIU/L não é recomendado, porém, baseado nos resultados desse estudo, talvez valha a pena na população de pacientes com hipotireoidismo subclínico, alteração glicêmica e alto risco cardiovascular.  

Para confirmar o benefício do tratamento nesses pacientes são necessários estudos prospectivos e randomizados que avaliem se o uso da levotiroxina realmente leva a redução do risco cardiovascular. 

Clinical Key

Este artigo foi produzido em parceria com a Elsevier, utilizando os conteúdos baseados em evidências disponíveis na plataforma Clinical Key. Clique aqui para saber mais.

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