Pacientes com doença coronariana (DAC) são considerados como tendo alto ou muito alto risco cardiovascular e, por isso, tem indicação para receber tratamento para reduzir o colesterol LDL. As estatinas são a classe da escolha e, dentro desta classe, as de alta potência são preferíveis, embora seja essencial considerar a ocorrência de efeitos colaterais e perfil de segurança de cada fármaco.
Na prevenção secundaria, não há preferência entre uma ou outra estatina. Para investigar melhor essa questão, o estudo da LODESTAR comparou a eficácia e segurança da rosuvastatina e da atorvastatina em pacientes com DAC.

Comparação entre rosuvastatina e atorvastatina
O estudo LODESTAR, realizado na Coreia do Sul, foi prospectivo, multicêntrico, randomizado e aberto, que incluiu pacientes adultos com doença coronariana, incluindo doença coronariana estável e síndromes coronarianas agudas, que necessitavam de estatina para redução de LDL.
Métodos utilizados
Os pacientes foram randomizados para receber rosuvastatina ou atorvastatina, em estratégias de doses baseada em metas ou de alta potência. Na estratégia baseada em metas, iniciou-se com dose moderada (rosuvastatina 10mg ou atorvastatina 20mg) e fazia-se o ajuste se necessário. Nos casos em que o paciente já fazia uso de estatina, ajustava-se para dose equivalente de uma das duas medicações. Já na estratégia de alta potência, utilizou-se rosuvastatina 20mg ou atorvastatina 40mg, que eram mantidas independentemente do valor do LDL.
O seguimento foi de 3 anos, e o desfecho primário avaliou a ocorrência de eventos cardíacos e cerebrovasculares adversos maiores, incluindo morte por todas as causas, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou revascularização miocárdica.
Resultados e desfechos clínicos
Durante 2016 e 2019, foram randomizados 2.204 pacientes para o grupo rosuvastatina e 2.196 para o grupo atorvastatina.
Os dois grupos eram semelhantes, com idade média 65 anos, 27,9% eram mulheres, 33% tinham diabetes, 55% tinham intervenção coronariana prévia e 74% tinham diagnóstico há mais de um ano.
No seguimento de 2 e 3 anos, o grupo rosuvastatina estava usando proporcionalmente menos a medicação que o grupo atorvastatina (71,9% x 74,7% e 70,9% x 74%, respectivamente), com diferença significativa.
O grupo atorvastatina teve mais associação de ezetimibe que o rosuvastatina.
O desfecho primário ocorreu em 8,7% no grupo rosuvastatina e 8,2% no grupo atorvastatina, sem diferença estatística. Na análise individual dos componentes do desfecho primário também não houve diferença, porém o número de eventos foi pequeno.
Os níveis de LDL foram menores no grupo que usou rosuvastatina a partir de 6 semanas de seguimento até o terceiro ano e a proporção de pacientes com níveis mais baixos de LDL foi maior no grupo rosuvastatina, também a partir de 6 semanas.
Eventos adversos observados
Houve maior ocorrência de novos diagnósticos de diabetes no grupo rosuvastatina (7,1% x 5,5%, p = 0,04), assim como cirurgia de catarata (2,5% x 1,5% p = 0,02). A ocorrência de diabetes não teve relação com aumento de desfecho primário.
Discussão e conclusão
Este estudo não encontrou diferença significativa no desfecho primário com as duas estatinas avaliadas.
A rosuvastatina apresentou maior redução dos níveis de LDL e maior proporção de pacientes atingindo a meta no período. Porém, foi associada a maior ocorrência de diabetes com necessidade de medicação e cirurgia de catarata.
Até o momento não se sabe se o desenvolvimento de diabetes é efeito de classe ou de estatinas específicas e o mecanismo para essa associação não é completamente conhecido.
Já a relação com catarata parece ser por inibição do desenvolvimento de células epiteliais no cristalino e a maior ocorrência, neste estudo, no grupo rosuvastatina, faz sentido em conjunto com a maior redução do LDL.
Esse estudo apresenta diversas limitações, como ter sido aberto, incluir apenas pacientes da Coreia do Sul, a definição de novo diabetes não incluiu níveis de hemoglobina glicada e os pacientes não fizeram avaliação oftalmológica prévia
Mensagem prática
Na prática clínica, não parece haver diferença entre as estatinas no desfecho de eventos cardíacos e neurovasculares e a rosuvastatina levou a maior ocorrência de eventos adversos, como diabetes e catarata, porém esses resultados precisam ser confirmados em novos estudos.
Este conteúdo foi atualizado em: 31/10/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
Autoria

Isabela Abud Manta
Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
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