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Cardiologia21 novembro 2023

Há diferença entre rosuvastatina ou atorvastatina em pessoas com doença coronária?

Este estudo não encontrou diferença no desfecho primário com as duas estatinas avaliadas no contexto da doença coronariana.

Por Isabela Abud Manta

Pacientes com doença coronariana (DAC) são considerados como tendo alto ou muito alto risco cardiovascular e tem indicação de medicação para reduzir o LDL. A classe de escolha é a das estatinas e, dentro desta classe, as de alta potência são preferíveis, porém também devemos considerar a ocorrência de efeitos colaterais e perfil de segurança. 

Para prevenção secundaria não há preferência entre uma ou outra estatina. Assim, foi feita uma análise secundária do estudo LODESTAR, que avaliou eficácia e segurança da rosuvastatina comparada a atorvastatina em pacientes com DAC. 

Saiba mais: Doença coronária isquêmica estável: como manejar?

Métodos 

O estudo LODESTAR, conduzido na Coreia do Sul, foi prospectivo, multicêntrico, randomizado e aberto. Os critérios de inclusão eram pacientes adultos com doença  coronariana, incluindo doença coronariana estável e síndromes coronarianas agudas, que necessitavam de estatina para redução de LDL.  

Os pacientes eram randomizados para receber rosuvastatina ou atorvastatina com dose baseada em metas ou de alta potência. Na estratégia baseada em metas, iniciava-se dose moderada (rosuvastatina 10mg ou atorvastatina 20mg) e fazia-se o ajuste se necessário. Nos casos em que o paciente já fazia uso de estatina, ajustava-se para dose equivalente de uma das duas medicações. Na estratégia de alta potência, iniciava-se rosuvastatina 20mg ou atorvastatina 40mg, que eram mantidas independentemente do valor do LDL. 

O seguimento foi de 3 anos e o desfecho primário foi ocorrência de eventos cardíacos e cerebrovasculares adversos maiores (morte por todas as causas, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou revascularização miocárdica).  

Resultados 

Entre 2016 e 2019, forma randomizados 2204 pacientes para o grupo rosuvastatina e 2196 para o grupo atorvastatina. Os grupos eram semelhantes, com idade média 65 anos, 27,9% eram mulheres, 33% tinham diabetes, 55% tinham intervenção coronariana prévia e 74% tinham diagnóstico há mais de 1 ano. 

No seguimento de 2 e 3 anos, o grupo rosuvastatina estava usando proporcionalmente menos a medicação que o grupo atorvastatina (71,9% x 74,7% e 70,9% x 74% respectivamente), com diferença significativa. O grupo atorvastatina teve mais associação de ezetimibe que o rosuvastatina. 

O desfecho primário ocorreu em 8,7% no grupo rosuvastatina e 8,2% no grupo atorvastatina, sem diferença estatística. Na análise individual dos componentes do desfecho primário também não houve diferença, porém o número de eventos foi pequeno. Os níveis de LDL foram menores no grupo que usou rosuvastatina a partir de 6 semanas de seguimento até o terceiro ano e a proporção de pacientes com níveis mais baixos de LDL foi maior no grupo rosuvastatina, também a partir de 6 semanas. 

Houve maior ocorrência de novos diagnósticos de diabetes no grupo rosuvastatina (7,1% x 5,5%, p = 0,04), assim como cirurgia de catarata (2,5% x 1,5% p = 0,02). A ocorrência de diabetes não teve relação com aumento de desfecho primário. 

Comentários e conclusão 

Este estudo não encontrou diferença no desfecho primário com as duas estatinas avaliadas. A rosuvastatina levou a níveis menores de LDL e maior proporção de pacientes atingindo a meta no período. Porém, foi associada a maior ocorrência de diabetes com necessidade de medicação e cirurgia de catarata. 

Até o momento não se sabe se o desenvolvimento de diabetes é efeito de classe ou de estatinas específicas e o mecanismo para essa associação não é completamente conhecido. Já a relação com catarata parece ser por inibição do desenvolvimento de células epiteliais no cristalino e a maior ocorrência, neste estudo, no grupo rosuvastatina, faz sentido em conjunto com a maior redução do LDL. 

Esse estudo apresenta diversas limitações, como ter sido aberto, incluir apenas pacientes da Coreia do Sul, a definição de novo diabetes não incluiu níveis de hemoglobina glicada e os pacientes não fizeram avaliação oftalmológica prévia. 

 Leia também: Desfechos a longo prazo do uso de betabloqueador para doença coronária estável

Mensagem prática 

Assim, não parece haver diferença entre as estatinas no desfecho de eventos cardíacos e neurovasculares e a rosuvastatina levou a maior ocorrência de eventos adversos, como diabetes e catarata, porém esses resultados precisam ser confirmados em novos estudos.

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Referências bibliográficas

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