No primeiro dia do Congresso de Cardiologia da American Heart Association, tivemos algumas novidades interessantes. Um dos trabalhos apresentados, o Vesalius-cv, avaliou o efeito do evolocumabe em pacientes de alto risco cardiovascular, mas que não tiveram eventos prévios.
O evolocumabe é um inibidor de PCSK9, que atua reduzindo os valores de LDL e levando a menor ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes de muito alto risco, ou seja, que já tiveram eventos cardiovasculares adversos maiores, como infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC). Pacientes sem esses eventos prévios ainda não haviam sido testados em relação a benefício clínico dessa medicação.
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Métodos do estudo e população envolvida
O Vesalius-cv foi estudo prospectivo, randomizado, placebo controlado, que incluiu mais de 12 mil pacientes de alto risco cardiovascular de 33 países. Os critérios de inclusão eram presença de doença aterosclerótica coronária (DAC) sem IAM, doença cerebrovascular (DCV) sem AVC, doença arterial periférica (DAP) ou diabetes com pelo menos um agravante de risco. O LDL deveria ser ≥ 90mg/dL ou o não-HDL ≥ 120mg/dL ou a apoB ≥ 80mg/dL com terapia otimizada com estatina associada ou não a ezetimiba.
Os pacientes foram randomizados para os grupos evolocumabe na dose de 140mg, via subcutânea, a cada 2 semanas ou placebo e havia dois desfechos primários: morte por doença coronária, IAM ou AVC (3-P MACE) e 3-P MACE ou revascularização guiada por isquemia (4-P MACE).
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Resultados
Os pacientes tinham idade média de 66 anos, 43% eram do sexo feminino e 93% brancos. Em relação aos critérios de inclusão, 45% tinham DAC, 10% DCV, 17% DAP e 49% diabetes de alto risco. Entre os diabéticos, 33% não tinham aterosclerose.
Do total, 92% estavam em uso de terapia hipolipemiante, sendo 72% com estatinas de alta potência, 87% com qualquer estatina e 20% com ezetimiba. O LDL médio era 122mg/dL, o não HDL 153mg/dL e a apoB 100mg/dL.
Em uma análise de aproximadamente 2000 pacientes, os valores de LDL caíram 55% em 48 semanas, com redução absoluta de 63mg/dL (p<0,001) e se mantiveram com essa grande diferença no seguimento total do estudo, de 4,6 anos. O valor médio alcançado de LDL foi 45mg/dL.
Os desfechos primários foram bastante significativos com redução de risco relativo de 25% no desfecho 3-P MACE (ocorrência de eventos em 8% no grupo placebo e 6,2% no grupo intervenção) e de 19% no 4-P MACE (ocorrência de eventos de 16,2% no grupo placebo e 13,4% no grupo intervenção), ambos com p < 0,0001.
Ao se avaliar os desfechos secundários e os desfechos de forma individual, houve redução significativa de IAM, revascularização guiada por isquemia, morte cardiovascular e morte por todas as causas.
Comentários e conclusão
Este estudo, o primeiro a avaliar desfechos com um inibidor de PCSK-9 em pacientes de alto risco cardiovascular sem evento prévio, mostrou redução da ocorrência de eventos de forma significativa e consistente entre os subgrupos, incluindo o de diabéticos sem aterosclerose manifesta.
Houve redução importante na ocorrência de eventos, principalmente morte cardiovascular e IAM. Os pacientes atingiram LDL médio de 45mg/dL e os resultados sugerem que talvez devamos almejar uma meta menor de LDL para este grupo de pacientes, de forma semelhante aos pacientes considerados como tendo risco cardiovascular extremo.
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Autoria

Isabela Abud Manta
Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
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