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Cardiologia19 agosto 2024

Estratégias de revascularização percutânea após infarto 

Estudo realizou uma revisão sistemática atualizada sobre estratégias de revascularização em pacientes com infarto do miocárdio e doença arterial coronariana multiarterial.

Pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) com indicação de intervenção coronária percutânea (ICP) têm indicação de revascularização completa e estudos randomizados e metanálises já mostraram que isso reduz mortalidade e IAM comparado a revascularização apenas da lesão culpada. Porém, ainda existem dúvidas quanto ao melhor momento para abordagem das lesões, imediatamente ou de forma estagiada, e qual o melhor método para avaliar as lesões residuais, angiográfico ou fisiológico. 

Diversos novos estudos surgiram nos últimos anos e, recentemente, foi feita uma revisão sistemática e metanálise com os novos dados. Abaixo seguem as principais informações. 

Estratégias de revascularização percutânea após infarto 

Imagem de Lifestylememory/freepik

Métodos do estudo e população envolvida 

Nessa revisão foram incluídos estudos randomizados e controladas que avaliaram desfechos após revascularização completa em pacientes com IAM, além de metanálises anteriores e estudos apresentados em congressos. 

Os estudos randomizaram pacientes com IAM e doença multiarterial e a revascularização completa poderia ser feita junto a ICP primária (revascularização imediata) ou futuramente (revascularização estagiada). Além disso poderia ser guiada por avaliação fisiológica ou angiográfica. Pacientes com choque cardiogênico foram excluídos. 

O desfecho primário era mortalidade por todas as causas e os desfechos secundários de eficácia eram mortalidade cardiovascular, IAM, eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) e necessidade de nova revascularização. Os desfechos de segurança eram trombose de stent, lesão renal aguda e sangramento maior. 

Resultados 

Do total, 2.647 foram randomizados para revascularização imediata, 4.624 para revascularização estagiada e 4.090 para revascularização da lesão culpada. Quanto aos estudos que avaliaram lesões residuais de diferentes formas, 3.156 pacientes foram randomizados para avaliação fisiológica, 3.956 para angiográfica e 5.593 para revascularização apenas da lesão culpada.  

A revascularização completa levou a redução de 15% na mortalidade por todas as causas (RR 0,85; IC95% 0,74-0,99, p=0,04), 25% na mortalidade cardiovascular (RR 0,75; IC95% 0,61-0,91, p=0,009), 30% no IAM (RR 0,70; IC95% 0,55-0,90, p=0,008), 39% no MACE (RR 0,61; IC95%0,50-0,74, p<0,001) e 53% na necessidade de nova revascularização (RR 0,47; IC95% 0,35-0,65, p < 0,001). Houve bastante heterogeneidade entre os estudos, provavelmente por variações na definição de MACE. Em relação aos desfechos de segurança não houve diferença entre os grupos. 

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Em relação ao momento da revascularização, não houve diferença na mortalidade total e cardiovascular. A revascularização completa imediata reduziu IAM em 60% comparado a revascularização da lesão culpada e em 46% comparado a revascularização estagiada. A revascularização estagiada reduziu IAM em 26% comparado a revascularização apenas da lesão culpada. A ocorrência de MACE também foi reduzida pela revascularização imediata comparado a apenas da lesão culpada (redução de 53%) e estagiada (redução de 25%). A redução foi de 27% ao se comparar revascularização estagiada com apenas da lesão culpada. 

Não houve diferença na necessidade de nova revascularização comparando os diferentes momentos, assim como não houve diferença entre os desfechos de segurança. A maior redução de mortalidade por todas as causas, cardiovascular, IAM e MACE foi com a revascularização completa imediata. 

Ao se avaliar o método de avaliação das lesões residuais, não houve diferença na mortalidade por todas as causas. A mortalidade cardiovascular foi semelhante nos grupos avaliados por angiografia ou fisiologia e foi 33% menor no grupo guiado por fisiologia comparado ao que revascularizou apenas a lesão culpada.  

Não houve diferença em IAM, MACE e necessidade de nova revascularização entre os grupos avaliação angiográfica ou fisiológica e a revascularização guiada por angiografia reduziu IAM em 34% comparado ao grupo que revascularizou apenas a lesão culpada. MACE foi reduzido em 38% e 41% nos grupos guiado por fisiologia e angiografia comparado a revascularização apenas da lesão culpada. Os desfechos de segurança também foram semelhantes. 

A revascularização guiada por fisiologia reduziu mais a mortalidade cardiovascular e a guiada por angiografia reduziu mais IAM e MACE. A redução de mortalidade por todas as causas foi semelhante. 

Comentários e conclusão: revascularização percutânea após infarto 

Este é o primeiro estudo que mostrou redução de mortalidade por todas as causas com a revascularização completa, provavelmente pelo maior poder estatístico do estudo, e essa redução provavelmente ocorreu às custas da redução de mortalidade cardiovascular e IAM. Outros potenciais contribuintes, não avaliados diretamente, são a redução de arritmia induzida por isquemia, melhora da função ventricular e redução de insuficiência cardíaca clínica.  

Não houve diferença entre as estratégias de revascularização imediata ou estagiada em relação a mortalidade por todas as causas, mas a revascularização completa imediata reduziu IAM e MACE comparado a revascularização estagiada. Também não houve diferença nos desfechos ao se utilizar os métodos de avaliação fisiológico ou angiográfico e os eventos adversos, desfechos de segurança, foram semelhantes entre os grupos. 

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Importante ressaltar que essa análise não foi feita comparando paciente a paciente, já que foi estudo de metanálise que incluiu também metanálises prévias. Assim, os resultados devem ser interpretados com cautela. Além disso, a heterogeneidade entre os estudos não foi baixa e não foram realizadas análises de subgrupos específicos. Ainda, esta estratégia deve ser evitada em pacientes com instabilidade hemodinâmica e a complexidade anatômica deve ser considerada.  

Como conclusão temos que este estudo mostra que parece haver benefício da revascularização completa em redução de mortalidade geral e cardiovascular, IAM e MACE, sem aumento de complicações. Parece que a revascularização imediata comparada a estagiada tem mais benefícios, mas são necessários estudos comparando os grupos diretamente para confirmar esses achados.

Autoria

Foto de Isabela Abud Manta

Isabela Abud Manta

Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.

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