Vericiguat é uma medicação que atua estimulando a guanilato ciclase solúvel. Tal enzima é ativada pelo óxido nítrico (NO), levando a produção de guanosina monofosfato cíclico (GMPc) que desempenha um papel crucial na vasodilatação arterial. O vericiguat atua independentemente da presença de NO de forma a melhora a pós-carga e, consequentemente, melhora dos sintomas de insuficiência cardíaca (IC). Os resultados foram positivos do ensaio VICTORIA, que mostrou uma redução na morte cardiovascular ou hospitalização por IC em pacientes com exacerbação recente da IC. Parte superior do formulário
O estudo VICTOR (Vericiguat in Adults with Chronic Heart Failure and Reduced Ejection Fraction), apresentado no Congresso da European Society of Cardiology (ESC 2025), buscou avaliar vericiguat em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr) ambulatoriais que não tinham exacerbação recente da doença. Na mesma sessão, foi apresentada uma análise combinada do estudo VICTOR e do VICTORIA, previamente publicado.
Objetivos do VICTOR
Avaliar o impacto do vericiguat em reduzir eventos clínicos em pacientes com ICFEr sem exacerbação recente (diferente do VICTORIA)
Metodologia
Ensaio clínico de fase III, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, realizado em 482 centros em 36 países para receber vericiguat em dose inicial de 2,5 mg (ou placebo) uma vez ao dia, titulada para 5 mg no 14º dia e para 10 mg no 28º após a randomização. A titulação da dose foi baseada nos valores da pressão arterial e sintomas de hipotensão.
Critérios de inclusão:
- Fração de Ejeção Ventricular Esquerda (FEVE) ≤40%.
- Sintomas de classe NYHA II-IV enquanto recebiam terapia médica otimamente tolerada e orientada por diretrizes.
- Nenhuma hospitalização recente por IC nos últimos seis meses ou uso de diuréticos intravenosos ambulatoriais nos últimos três meses antes da randomização.
- Níveis de N-terminal pró-peptídeo natriurético tipo B (NT-proBNP) de 600–6000 pg/mL para pacientes em ritmo sinusal e 900–6000 pg/mL para aqueles em fibrilação atrial.
Critérios de exclusão: Pacientes com taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) <15 mL/min/1,73 m².
Desfecho primário: composto de morte cardiovascular e hospitalizações por IC.
Resultados
- 6105 pacientes foram randomizados para receber terapia médica otimizada (TMO) baseada nas atuais diretrizes versus TMO + vericiguat.
- A mediana de acompanhamento foi de 18,5 meses para o desfecho primário.
- A idade média dos pacientes foi 67 anos, 24% mulheres, 48% não tinham antecedente de internação por IC, 79% classe NYHA II, FEVE media 30%, NTproBNP médio 1375 pg/ml, 95% em uso de betabloqueadores, 38% em uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina, 57% em uso de inibidores de neprisilina, 77% em uso de antagonista mineralocorticoide e 59% em uso de inibidores de SGLT2.
- A taxa do desfecho primário foi de 18,0% no grupo vericiguat e 19,1% no grupo placebo (HR 0,93; p=0,22).
- Mortes cardiovasculares e mortes por todas as causas foram menores nos pacientes tratados com vericiguat. A morte cardiovascular ocorreu em 9,6% dos pacientes no grupo vericiguat vs. 11,3% no grupo placebo (HR 0,83; IC 95% 0,71 a 0,97).
- A morte por todas as causas ocorreu em 12,3% com vericiguat vs. 14,4% com placebo (HR 0,84; IC 95% 0,74 a 0,97).
- O risco de hospitalização por IC foi neutro, 11,4% vs. 11,9% (HR 0,95; IC 95% 0,82 a 1,10).
Outros desfechos (Análises post-hoc e secundárias nominais):
- Morte súbita cardíaca ocorreu em 2,7% no grupo vericiguat vs. 3,6% no grupo placebo (HR 0,75).
- Morte relacionada com insuficiência cardíaca ocorreu em 2,9% no grupo vericiguat vs. 4,0% no grupo placebo (HR 0,71).
- Houve menos mortes súbitas e mortes devido a insuficiência cardíaca no grupo vericiguat.
Eventos adversos:
- Eventos adversos graves ocorreram em 23,5% dos pacientes no grupo vericiguat e 24,6% no grupo placebo.
- Hipotensão sintomática foi mais comum no grupo vericiguat (11,3%) do que no grupo placebo (9,2%), com gravidade semelhante.
- Anemia desenvolveu-se em mais pacientes no grupo vericiguat (7,6%) do que no grupo placebo (6,3%).
Conclusões
O vericiguat não ter atingiu o desfecho composto primário de redução da mortalidade cardiovascular e hospitalizações por IC. Contudo, reduziu mortalidade geral e cardiovascular, sendo o achada mais importante e inusitado do estudo, podendo sugerir prevenção de um mecanismo de morte cardíaca que não por falência de bomba cardíaca (possivelmente arritmogênica ou até isquêmica).
O estudo pode sugerir, também, que a falta de redução nas hospitalizações por IC possa ser devido à alta utilização de TMO para IC e à baixa proporção de hospitalizações recentes na população estudada.
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