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No congresso europeu de cardiologia (ESC 2019), cinco novas diretrizes foram lançadas. Sobre doença coronariana, o documento trouxe novidades importantes que terão impacto no seu dia a dia e resumimos os principais pontos aqui.
A primeira novidade é de definição: a doença arterial coronariana passa a ser classificada em dois grupos, com alguns subtipos cada.
- Síndrome coronariana aguda
- IAM com supraST
- IAM sem supraST
- Angina instável
- Repouso
- Crescendo
- Recente começo (< 60 dias)
- Doença coronariana crônica (DCC), escopo desta diretriz
- Angina estável
- ICFER etiologia isquêmica
- SCA/ICP há < 1 ano
- SCA/ICP há > 1 ano
- Assintomáticos com teste funcional positivo
- Angina microvascular e vasoespástica.
A orientação da diretriz é que a avaliação dos pacientes com DCC (DAC crônica) siga um passo a passo, como ilustrado abaixo.
Avaliação
O aspecto mais importante é a história. Se a dor apresentar as 3 características, dizemos que é tipicamente anginosa (dor tipo A). Em caso de apenas 2, é possivelmente anginosa (dor tipo B). Se 1 ou nenhuma, provavelmente não ou definitivamente não anginosa (dor tipo C e D). Nesse momento, é importante juntar os dados dessa história, idade, sexo e comorbidades, para estimar a probabilidade pré-teste de doença coronariana.
A decisão sobre os exames
Quando a probabilidade de DAC é muito baixa (exemplo: jovem de 20 anos com dor tipo D e sem comorbidades), nenhum teste está indicado. Se muito alta, como um idoso diabético e tabagista, com dor tipo A, você deve começar o tratamento clínico e pode ir direto para coronariografia, já pensando em intervir.
A grande dúvida são os pacientes intermediários. Aqui, duas decisões são importantes:
- Vale a pena já começar o tratamento clínico (AAS, estatina e betabloqueador) antes do resultado do teste?
- Qual o teste mais indicado?
A resposta é individualizada: quanto maior o risco de DAC, mais próximo do sim nas respostas. Em relação ao teste, a diretriz sugere que a angioTC é mais útil quando a probabilidade é de baixa a moderada, pelo seu alto valor preditivo negativo (ganhou até indicação IA!). Já os testes funcionais, mais nos pacientes de moderada a alta probabilidade, pelo seu melhor valor preditor positivo. Os mais utilizados são a cintilografia do miocárdio e o ecocardiograma com estresse, ambos podendo ser com ergometria ou farmacológicos. A RM cardíaca também pode ser feita com protocolo de estresse farmacológico.
E é bom lembrar que, em muitos pacientes, nós vamos precisar das duas informações:
- Anatômica: quais artérias estão com obstrução > 50-70%;
- Funcional: onde há isquemia clinicamente relevante.
Esta informação funcional pode vir do ECG (parede com alteração ST/T), do teste funcional ou do próprio teste anatômico, no caso o FFR. A diretriz diz que a única justificativa para abrir lesões com ICP sem teste funcional são naquelas com alto grau de obstrução (> 90%).
Outra novidade é que a diretriz deixa de recomendar o teste ergométrico “puro”, só com ECG. Ela recomenda o estresse com esforço, mas sempre complementado com imagem, seja cintilo ou ecocardiograma.
Tratamento
Após o resultado, é importante identificarmos o paciente de alto risco, pois é este o que mais se beneficia de revascularização, cirúrgica ou percutânea. Aliás, a diretriz não entra no mérito cirurgia vs stent, referenciando o autor para a diretriz ESC 2018 sobre o assunto, já comentada por nós em reportagem anterior.
Marcadores de alto risco nos exames complementares:
O tratamento como um todo tem um tripé: hábitos, fármacos e revascularização. As recomendações neste aspecto não apresentam muitas novidades e foram resumidas abaixo. No Whitebook, você tem acesso ao conteúdo completo da conduta e prescrição do paciente com DCC, no tópico “Angina Estável”.
Hábitos:
- Dieta do Mediterrâneo;
- Exercícios + Controle do Peso;
- Parar de fumar;
- Reduzir a poluição;
- Vacina Influenza.
Fármacos:
- AAS;
- Betabloqueadores;
- Bloqueadores canais cálcio;
- Nitrato;
- Alternativas se refratário: ivabradina, ranolazina, trimetazidina;
- DAPT: (1) no primeiro ano após SCA/ICP ou (2) crônico no paciente de muito alto risco isquêmico e baixo risco de sangramento.
Intervenção:
- Cirurgia: trivascular ± FE < 35-40%;
- CP: uni ou bi-vascular com FE normal.
Referências:
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