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Cardiologia15 outubro 2024

Eplerenona no tratamento da insuficiência cardíaca crônica

A eplerenona apresenta menos efeitos colaterais que a espironolactona, mostrando-se uma escolha eficaz para reduzir mortalidade e hospitalizações em pacientes com ICFEr.

A aldosterona é um hormônio mineralocorticoide produzido principalmente pelo córtex adrenal em resposta à angiotensina II, hipercalemia e corticotropina.1 Além de suas propriedades mineralocorticoides clássicas, que podem levar à hipocalemia e hipomagnesemia, a aldosterona apresenta outros efeitos adversos que podem contribuir na fisiopatologia da IC, como inflamação, rigidez vascular, formação de colágeno e necrose miocárdica.1,2 Como a angiotensina II impede a liberação de renina por feedback negativo, ocorre um grande aumento na disponibilização da renina plasmática com a administração de inibidores da ECA e BRA.1,2 Além disso, a aldosterona plasmática retorna aos níveis pré-tratamento após várias semanas de terapia em até 40% dos pacientes, seja por vias não dependentes da ECA ou por aumento nas concentrações séricas de potássio. Os antagonistas mineralocorticoides (ARMs) bloqueiam receptores que se ligam à aldosterona e, em diferentes graus de afinidade, outros receptores de hormônios esteroides, como corticosteroides e andrógenos.3,4

A introdução de um ARM demonstrou ser capaz de reduzir a morbidade e a mortalidade de pacientes com ICFEr, bem como aqueles com disfunção sistólica do VE após infarto agudo do miocárdio.3 Esses benefícios clínicos foram demonstrados em alguns ensaios clínicos randomizados bem conduzidos, incluindo os estudos RALES5, EPHESUS6 e EMPHASIS-HF. A tabela 1 traz as principais características que diferenciam os dois ARMs disponíveis para tratamento da ICFEr, a espironolactona e a eplerenone. A espironolactona foi testada no estudo RALES em indivíduos com ICFEr NYHA III-IV recebendo diuréticos de alça, iECA e, na maioria dos casos, digoxina, e mostrou uma redução de 30% no risco relativo de mortalidade por todas as causas quando comparada ao placebo, sem aumento no risco de hipercalemia grave ou insuficiência renal. No entanto, a espironolactona foi associada a relatos de ginecomastia ou sensibilidade mamária em 10% dos homens (contra 1% no grupo placebo).5 Estudos de fase 4 (pós-comercialização) indicam taxas ainda maiores de efeitos hormonais com a espironolactona, algo em torno de 25-30% dos pacientes. Isso acontece porque a espironolactona interfere na produção de testosterona e aumenta sua conversão periférica em estradiol, aumentando a biodisponibilidade do estrogênio.7 A título de curiosidade, a espironolactona pode ser utilizada como terapia hormonal feminilizante em mulheres transexuais.8 Outros efeitos colaterais da espironolactona incluem irregularidades menstruais em mulheres na pré-menopausa e impotência e diminuição da libido em homens.7

Logo após a publicação do RALES, a eplerenona foi projetada a partir da estrutura básica da espironolactona para ter maior seletividade e menor atividade antiandrogênica em comparação com a espironolactona.4 Isso motivou o estudo EPHESUS, que investigou a eplerenona no tratamento de pacientes com disfunção sistólica do VE após um infarto do miocárdio6, bem como o estudo EMPHASIS-HF, que investigou a eplerenona no tratamento de pacientes com ICFEr em NYHA II.9 Ambos foram estudos positivos, reforçando os benefícios da eplerenona na melhoria da sobrevida e das hospitalizações em pacientes com ICFEr, mas com menos efeitos colaterais endocrinológicos em comparação à espironolactona.4 No EMPHASIS-HF, particularmente, a eplerenona foi benéfica em pacientes com sintomas de NYHA II recebendo betabloqueadores (87% vs. 11% no RALES).5,10

Deve-se ter cautela em pacientes com concentrações séricas de potássio >5,5 mEq/L (tabela 2).6 Nos estudos RALES, EPHESUS e EMPHASIS-HF, a hipercalemia foi mais comum nos grupos de tratamento ativo, embora a concentração sérica de potássio >6,0 mEq/L tivesse sido incomum.5,6,9 Os riscos de hipercalemia grave podem ser mitigados através da seleção e educação adequada dos pacientes, ajustes de dose e monitoramento cuidadoso dos níveis de potássio e da função renal.6,9

Um estudo de “mundo real” (real-world evidence, RWE), liderado pela Dra. Crespo-Leiro da Espanha e publicado em 2022, comparou 293 pacientes com ICFEr (FE <40%) tratados com eplerenona e 293 indivíduos (pareados por escore de propensão) tratados com espironolactona. O estudo sugeriu que o uso de eplerenone foi associado a taxas mais baixas de mortalidade cardiovascular e mortalidade por todas as causas em comparação com o uso de espironolactona.4 Além disso, o eplerenone também foi associado a melhora sintomática, necessidade de doses mais baixas de diurético, FE mais altas, menores níveis de potássio sérico e maiores taxas de filtração glomerular.4 Obviamente, esse é um estudo observacional, potencialmente afetado por vieses de seleção, informação e confusão, e ensaios multicêntricos maiores deveriam ser realizados para confirmar esses achados.4

Tabela 1:

Tabela 2:

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