Você está na emergência e recebe um paciente com dor torácica aguda. Solicita os exames iniciais, como o eletrocardiograma, troponina, mas o resultado de ambos está normal. E agora? Você pode liberar esse paciente para casa com tranquilidade ou ainda existe risco desse paciente ter uma Síndrome Coronariana Aguda ainda não detectada?
Esse é um cenário comum no dia a dia médico em prontos-socorros. A dor torácica pode ter causas benignas (como dor músculo esquelética), mas também pode indicar uma condição potencialmente fatal.
Neste artigo, mostramos como o HEART Score pode ajudar você a tomar decisões seguras diante de dessas situações em emergências.
Para lembrar as principais condições que exigem atenção imediata, criamos o mnemônico PEDIR (figura abaixo), que reúne as causas graves que nunca devem ser esquecidas durante a avaliação inicial. Afinal, esquecer alguma delas é PEDIR para dar errado.


ECG e troponina normais, e agora?
Alguns diagnósticos são claros: se o ECG mostra um supra de ST claramente isquêmico, fica fácil. Trata-se como IAM com supra e pronto. Se o paciente apresenta dor torácica bem típica e alterações no ECG, como infra de ST em várias derivações, tratamos como SCA sem supra.
O problema é quando os ECGs são normais ou inespecíficos e a troponina é negativa. E agora, posso liberar o paciente para casa sem medo? Nem sempre!
Imagina um paciente com inúmeros fatores de risco (diabetes, DLP ou HAS), e com uma dor anginosa de livro, prolongada e acompanhada de náuseas e vômitos. Mandar embora seria um risco. Esse quadro pode indicar uma angina instável, que é uma SCA sem supra de ST, e que pode ter alto risco de morte.
A diferença entre a angina instável e o IAM sem supra é que não há aumento de troponina na primeira. Ainda assim, é uma entidade potencialmente grave.
Leia mais: Troponina para estimativa de risco cardiovascular
Casos de dor torácica duvidosa: quando o HEART Score entra em cena
Nem sempre a dor torácica é típica ou facilmente classificável. Em muitos casos, o quadro é duvidoso, especialmente quando o paciente apresenta ECG e troponina normais.
Imagine, por exemplo, um paciente de 43 anos portador de hipertensão arterial sistêmica e sobrepeso, que relata uma dor atípica. Após realizar ECG e dosagem de troponina, ambos os resultados são normais. Como definir a conduta adequada? É seguro liberar esse paciente?
Para responder a essa pergunta de forma objetiva e segura, utilizamos o HEART Score, um escore criado na Holanda que leva em conta cinco variáveis:

Componentes e pontuação do HEART Score
O HEART Score avalia cinco critérios: História, ECG, Idade, Fatores de risco e Troponina.
Cada item recebe uma pontuação de 0 a 2, e o somatório final indica o nível de risco.
Quanto maior o escore, maior a chance de complicações, o que significa que o paciente deve ser internado e investigado com mais profundidade.
Aplicação prática do HEART Score na emergência
O HEART Score é especialmente útil na avaliação de pacientes com dor torácica duvidosa, nos quais o ECG e a troponina não fornecem diagnóstico conclusivo.
Na prática, HEART Score de até 3 é acompanhado de evolução favorável, com baixa taxa de eventos, permitindo que esses pacientes sejam liberados com segurança para casa, na ausência de outros diagnósticos alternativos (ex: miocardite).
Já em pacientes com escore de 4 pontos ou mais, recomenda-se manter o paciente internado para investigação, normalmente com testes não invasivos.

*Este conteúdo foi atualizado em: 20/10/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
Autoria

Eduardo Cavalcanti Lapa Santos
Editor-chefe e criador do site Cardiopapers; Especialista em Cardiologia pelo InCor-HCFMUSP; Especialista em Ecocardiografia pela SBC; Especialista em Clínica Médica pela SBCM; Doutor e mestre pelo Departamento de Cirurgia da UFPE; Preceptor das residências de cardiologia e Ecocardiografia do HC-UFPE.
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