Complicações relacionadas a cateteres venosos centrais (CVC)
O entendimento dos riscos associados aos cateteres venosos centrais (CVC) pode auxiliar no desenvolvimento de protocolos institucionais, com objetivo de reduzi-los. Recentemente foi publicada uma metanálise sobre as complicações associadas a esses dispositivos. A seguir seguem os principais pontos avaliados.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo de revisão sistemática e metanálise que incluiu estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados publicados entre 2015 e 2023 com relato de pelo menos um desfecho de interesse. Os pacientes tinham 18 anos ou mais e os cateteres eram cateteres venosos centrais (CVC) de curta duração inseridos em veias centrais. As complicações foram definidas como qualquer evento desagradável que não estava presente antes da passagem do CVC e foram divididas em:
- Complicações relacionadas a passagem do CVC: falha de passagem, punção arterial, canulação arterial, pneumotórax, sangramento com necessidade de intervenção, lesão nervosa, fistula arteriovenosa, tamponamento cardíaco, arritmia e atraso na administração de vasopressor.
- Complicações relacionadas ao uso do CVC: mal funcionamento, infecção relacionada a CVC, trombose venosa profunda (TVP), tromboflebite e estenose venosa.
O desfecho composto foi considerado no tempo de 3 dias e incluiu 4 complicações graves: canulação arterial, pneumotórax, infecção relacionada a CVC e TVP.
Resultados
Foram incluídos 130 estudos, sendo 47% randomizados e 38,5% de coorte prospectivos. O tamanho médio da amostra era de 160 participantes e o risco de viés foi baixo em 86% dos estudos. Os estudos randomizados tiveram duas vezes mais chance de colocação de CVC guiado por ultrassonografia (USG): 61% dos estudos randomizados x 33% dos observacionais.
Considerando o total dos estudos, foram colocados 214.325 CVC, sendo a maior parte na veia jugular interna (VJI), seguida pelas veias subclávia (VSC) e femoral (VF). A maioria foi colocado em unidades de terapia intensiva e centro cirúrgico. Quando citado o motivo do procedimento (na menor parte dos estudos), a maioria era para nutrição parenteral, seguida de infusão de quimioterapia e vasopressores.
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O desfecho combinado de complicações graves ocorreu em 30,2 por 1.000 pacientes em 3 dias. Falha de colocação ocorreu em 20,4 por 1.000 CVC, canulação arterial em 2,8 por 1.000 CVC, punção arterial em 16,2 por 1.000 CVC, pneumotórax em 4,4 por 1.000 CVC, infecção relacionada a CVC em 4,8 por 1.000 CVC e TVP em 2,7 por 1.000 CVC colocados. Todos esses tiveram grande heterogeneidade entre os estudos. Mal funcionamento do cateter ocorreu em 5,5 por 1.000 CVC, com heterogeneidade extrema entre os estudos.
Todos os sítios de inserção tiveram taxas semelhantes de punção arterial e falha de colocação do CVC. A VSC teve maior taxa de pneumotórax que a VJI (7,8 x 1,9 por 1.000 CVC; RR 4,09). A taxa de infecção relacionada a CVC foi semelhante na VSC e VF, com taxas de 2,5 e 2,7 por 1.000 CVC-dia respectivamente. Já na VJI foi de 3,8 por 1.000 CVC-dia.
O uso de USG foi associado a menor taxa de punção arterial e pneumotórax comparado ao uso parcial ou não uso, assim como a menor falha de colocação do CVC, independente do local de inserção. A ocorrência de pneumotórax quando CVC na VJI foi de 0,4 por 1.000 CVC com USG e 17,9 por 1.000 CVC sem USG. Já na VSC foi de 3,2 x 12,2 por 1.000 CVC.
Comentários e conclusão: cateteres venosos centrais (CVC)
Esta revisão sistemática e metanálise mostrou que as três complicações mais frequentes relacionadas aos CVC foram falha de colocação do CVC, punção arterial e pneumotórax.
Aproximadamente 3% dos pacientes tiveram pelo menos uma das quatro complicações mais graves: punção arterial, pneumotórax, infecção, TVP. Esta taxa é alta comparada a outros procedimentos realizados a beira leito e foram semelhantes ao resultado de estudos prévios. Algumas das complicações foram menores quando USG foi utilizada.
Esse estudo tem algumas limitações: definição dos desfechos não uniforme entre os estudos, resultados bastante heterogêneos, grande variação entre os pacientes, desenhos do estudo e definições. Além disso, a indicação do CVC não era clara na maioria dos estudos, assim como as características de quem colocava o dispositivo e sua experiência e capacitação técnica.
Apesar disso, os resultados reforçam a necessidade de consentimento informado e protocolos clínicos que considerem os riscos e benefícios do CVC, utilização do CVC apenas quando realmente indicado e a utilização de USG para guiar sua colocação, o que já á recomendado pelas diretrizes mais recentes.
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