No infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAM SST) ocorre oclusão do vaso com isquemia prolongada e necrose do miocárdio. O tratamento envolve dupla antiagregação plaquetária, tratamento fibrinolítico ou intervenção coronária percutânea (ICP) primária e, apesar de avanços, a mortalidade ainda é alta, chegando a 7,9% nos primeiros 30 dias em pacientes tratados com ICP primária.
A mortalidade também pode ter relação com lesão por reperfusão, que se manifesta com arritmias de reperfusão, atordoamento do miocárdio, obstrução microvascular e hemorragia intramiocárdica. A lesão por reperfusão é mediada por citocinas pró-inflamatórias e outros agentes como óxido nítrico e ainda não há um tratamento efetivo para seu tratamento.
A colchicina é um anti-inflamatório que atua por diversos mecanismos e tem sido usada de forma efetiva no tratamento de doenças do pericárdio e prevenção de fibrilação atrial no pós-operatório de cirurgia. Além disso, a colchicina mostrou reduzir a taxa de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) na doença coronária estável.
Foi feito então um estudo com objetivo de avaliar o efeito da colchicina na lesão por reperfusão em pacientes com IAM SST submetidos a ICP primária.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo randomizado, duplo cego e controlado realizado em 2 centros na Indonésia, que incluiu pacientes de 18 a 80 anos com IAM SST submetidos a ICP primária. O grupo intervenção recebeu 2mg de dose inicial de colchicina seguido de 0,5mg a cada 12 horas por 2 dias e o grupo controle recebeu comprimidos equivalentes de amido.
Após a ICP os pacientes eram monitorizados por 2 dias quanto a incidência de lesão por reperfusão, que foram os desfechos primários: arritmias de reperfusão, choque cardiogênico, dor torácica persistente e fluxo TIMI 0-2 na angiografia.
Resultados
Foram incluídos na análise final 37 pacientes no grupo intervenção e 40 no grupo controle. A idade média foi de 55,2 anos, a maioria (76,6%) era do sexo masculino e as características eram semelhantes entre os grupos.
Do total, 71% eram tabagistas e 27% tinham pelo menos dois fatores de risco cardiovasculares. Na angiografia, 44,15% tinham doença triarterial e a descendente anterior foi a coronária mais acometida (53,24%).
Lesão por reperfusão ocorreu em 18 (48,6%) pacientes do grupo intervenção e em 17 (42,5%) do grupo controle, sem diferença estatística (p = 0,588). Não houve diferença em relação às comorbidades dos pacientes e não houve eventos adversos graves. O efeito colateral mais comum foi diarreia, em 16%.
Comentários e conclusão: Colchicina no IAM SST
Este é o primeiro estudo que avaliou o papel da colchicina na prevenção de lesão por reperfusão em pacientes com IAM SST submetidos a ICP primária e não encontrou benefício com uso da medicação.
Um dos motivos poderia ser que a inflamação neste tipo de IAM é mais intensa que nas outras doenças cardiovasculares para as quais a medicação é utilizada. Porém, há várias limitações deste estudo, como o pequeno número de participantes, o curto período de seguimento e o fato de ter sido realizado em apenas dois centros da Indonésia.
Assim, não parece haver benefício da colchicina na prevenção de lesão por reperfusão de pacientes com IAM SST submetidos a ICP primária, porém talvez seja interessante ser realizado um estudo maior e com tempo um pouco mais prolongado de seguimento.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.