A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais frequente, acometendo entre 1 e 2% da população. Sabe-se que essa arritmia aumenta consideravelmente o risco de eventos tromboembólicos. Assim, a anticoagulação é sempre uma preocupação central no cuidado desses pacientes. E a grande questão clínica é: quem deve ser anticoagulado?
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Limitações do escore CHADS₂ e surgimento do CHA₂DS₂-VASc
O score CHADS2 foi criado em 2001 a partir de estudos prévios (SPAF + AFI), como forma de calcular o risco de eventos tromboembólicos. Na prática, scores iguais ou maiores a 2 indicavam anticoagulação plena (warfarina, com um INR de 2,0 a 3,0), pelo alto risco de eventos. Aqueles com escore 1 apresentavam risco intermediário, podendo antiagregar ou anticoagular, dependendo do paciente (com tendência a um maior benefício da anticoagulação).

Apesar de útil, o escore CHADS2, e até outros escores existentes como o Framingham, apresentavam uma limitação: um número expressivo de pacientes permanecia na zona do risco intermediário, dificultando decisões sobre a anticoagulação. Para melhorar a precisão da estratificação, foi desenvolvido um novo score de risco, o CHA₂DS₂-VASc.
Validação e aplicabilidade clínica do CHA₂DS₂-VASc
O CHA₂DS₂-VASc foi validado em um estudo publicado no Chest, envolvendo 5.333 pacientes ambulatoriais ou internados com fibrilação atrial. Foram incluídos aqueles acima de 18 anos com FA documentada em ECG ou Holter nos últimos 12 meses, excluindo-se aqueles com estenose mitral ou cirurgia valvar prévia.
O estudo avaliou mortalidade e eventos adversos, como AVC, AIT, embolia periférica, TEP, além de fatores de risco. Do total, 1.084 pacientes (69%) preencheram os critérios completos de avaliação, sendo acompanhados por um ano.
O escore de risco de Birmingham 2009 – (ou CHA2DS2-VASc) está descrito abaixo:

Foi considerado alto risco se pontuação de 2 ou mais, risco intermediário se 1 ponto, e baixo risco se sem fatores de risco. A comparação entre a distribuição dos riscos e eventos entre esse novo esquema e o CHADS2 está demonstrado na tabela abaixo.

Critérios de pontuação e estratificação de risco
A conduta de acordo com a classificação CHA₂DS₂-VASc, segundo sugerido nesse artigo, seria:
- Alto risco (≥ 2 pontos): anticoagulação plena (warfarina, INR 2,0–3,0)
- Risco intermediário (1 ponto): anticoagulação plena ou antiagregação – o algoritmo da ACCP recomenda anticoagulação plena sempre que possível.
- Baixo risco (0 pontos): antiagregação (AAS) ou nada – o benefício do uso do AAS para esse grupo não está bem estabelecido. Além disso, o uso do AAS pode levar a eventos adversos.
Limitações do estudo e considerações finais
Devemos levar em consideração que cerca de 31% dos pacientes incluídos no início desse estudo não tiveram a coleta adequada dos dados de eventos tromboembólicos, o que limita parcialmente a análise.
Ainda assim, o CHA2DS2-VASc classificou uma pequena parcela em risco intermediário e pacientes em baixo risco tiveram uma pequena taxa de eventos. O CHA2DS2-VASc mostrou-se então um esquema simples para estratificação de risco, com algumas melhorias em relação ao escore CHADS2.
Referência: Lip GYH, Nieuwlaat R, Pisters R et al. Refining clinical risk stratification for predicting stroke and thromboembolism in atrial fibrillation using a novel risk fator-based approach: The Euro Heart Survey on Atrial Fbrillation. Chest 2010 137:263-272.
*Este conteúdo foi atualizado em: 20/10/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.
Autoria

Fernando Côrtes Remisio Figuinha
Médico cardiologista formado pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP. É editor e fundador do site de ensino CardioPapers. Atua como cardiologista no Hospital Dr. Miguel Soeiro – Sorocaba/SP. Secretário da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) regional Sorocaba.
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