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Cardiologia12 março 2024

Atividade física pode prevenir insuficiência cardíaca em mulheres idosas?

Um estudo avaliou o nível de atividade física medida pelo acelerômetro em relação a ocorrência de IC em mulheres mais idosas.
A insuficiência cardíaca (IC), dividida em IC com fração de ejeção reduzida (ICFER) ou fração de ejeção preservada (ICFEP) acomete grande parte da população adulta. A IC FEP acomete de forma desproporcional as mulheres, idosos e alguns subgrupos específicos e, diferente da ICFER, não há tratamento específico que previna sua ocorrência.   A atividade física moderada a intensa por pelo menos 150 minutos na semana pode reduzir a ocorrência de IC em 10% quando comparado a nenhuma atividade. Porém, dados sobre atividade física em pacientes mais idosos e com níveis menores de atividade física são escassos.   Foi feito então um estudo que avaliou o nível de atividade física medida pelo acelerômetro em relação a ocorrência de IC em mulheres mais idosas. A hipótese do estudo é que níveis maiores de atividade física levariam a menor risco de IC, enquanto níveis maiores de sedentarismo levariam a um risco maior. 

Métodos do estudo e população envolvida

Foram incluídas na análise 5.951 mulheres de 63 a 99 anos. Essas mulheres utilizaram um acelerômetro no quadril durante 24 horas por sete dias consecutivos, exceto quando em contato com água. Foram computados tempo de sono, intensidade de atividade física (baseado em número de passos no tempo) e número de passos por dia. Considerou-se que os dados eram analisáveis quando tempo de pelo menos dez horas por dia por três ou mais dias.  A ocorrência de IC foi identificada pelo relato de internações e posterior análise de prontuário. A IC foi classificada como ICFER ou ICFEP a partir da fração de ejeção menor que 45% ou maior ou igual a 45%. O desfecho primário foi IC no geral e os desfechos secundários ICFEP e ICFER. 

Resultados

As mulheres avaliadas tinham média de 78,6 anos e ausência de história de IC. Do total 33,7% eram negras não hispânicas, 17,2% hispânicas e 49,2% brancas não hispânicas. No seguimento médio de 7,5 anos houve 407 casos de IC, sendo 257 ICFEP e 110 ICFER.   A média de atividade física diária foi de 339 minutos, sendo 85% do tempo de atividade de intensidade leve. Do total de horas do dia, 10,3 horas foram de sedentarismo e a média de passos diária foi 3.133.   Atividade física mais frequente (> 397 minutos ao dia) foi associada a idade mais jovem (< 80 anos), etnia branca não hispânica, educação superior, maior consumo de álcool, autorrelato de saúde excelente, maior capacidade funcional, menos tabagismo, menos obesidade, menor tempo de sedentarismo e fatores cardiometabólicos como nível de pressão arterial, glicose e colesterol total e frações mais favoráveis   Associações positivas com ocorrência de IC foram idade mais avançada, uso de dispositivo de auxílio para caminhar, autorrelato de saúde ruim, obesidade, depressão, diabetes, hipertensão, doença coronária, acidente vascular cerebral, fibrilação atrial, níveis de pressão arterial sistólica e de PCR.  Associação inversa com IC no geral e ICFEP foram encontradas para tempo total de atividade física, passos por dia, atividade física leve e atividade física moderada a intensa. Após ajustes não houve relação de atividade física com ICFER. Tempo de sedentarismo total também foi associado com risco de IC no geral e ICFEP, porém não com ICFER.   Na análise de subgrupos os resultados foram consistentes na associação de atividade física total, passos por dia e tempo total de sedentarismo com risco de IC. Maior atividade física e mais passos por dia foram inversamente associados ao risco de IC em mulheres, com maiores taxas de IC relacionadas a menor capacidade funcional, autorrelato de pior saúde e duas ou mais comorbidades de base.  Leia também: Betabloqueadores e insuficiência cardíaca descompensada

Comentários e conclusão 

Este foi o primeiro estudo que avaliou atividade física e sedentarismo no risco de desenvolvimento de IC em mulheres idosas. Houve menor risco de IC no geral e de ICFEP com maior nível de atividade física. Já maior sedentarismo teve maior associação com aumento desses riscos. ICFER não teve associação clara com atividade física ou tempo de sedentarismo.  Neste estudo, tanto atividade física moderada a intensa (geralmente a atividade recomendada) quanto atividade física leve tiveram associação com menor risco de IC no geral e ICFEP. Assim, a recomendação de atividade física mesmo que leve pode ser de grande relevância para os pacientes idosos e talvez deva ser considerada forma de prevenção primária para IC.  Nesse estudo, a maioria dos casos de IC foi de ICFEP e quanto maior o tempo de atividade física e número de passos, maior a redução do risco nesta população. Não está claro porque não houve redução de risco na ICFER, mas o resultado pode ter sido subestimado pelo menor número de casos.  Interessante notar que a cada 3.600 passos por dia há redução cumulativa de risco para IC e ICFEP, de forma linear, sendo que a significância estatística ocorreu a partir de 2.000 passos. Atualmente não há uma meta específica, porém, a partir deste estudo, parece que 70 minutos de atividade física leve, 30 de atividade moderada a intensa e pelo menos 3.600 passos por dia seria razoável como alvo para a população de mulheres idosas.
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Referências bibliográficas

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