A relação entre consumo de café e arritmias, principalmente fibrilação atrial (FA), é bastante controversa. Enquanto alguns estudos, na maioria observacionais, mostram relação de aumento de arritmias com o consumo de café, outros mostram redução da sua ocorrência.
Assim, foi feito um novo estudo com objetivo de tentar esclarecer esta dúvida, o DECAF, apresentado no segundo dia do congresso da American Heart Association.
Métodos do estudo e população envolvida
Esse estudo incluiu pacientes com pelo menos 21 anos, FA sustentada, cardioversão elétrica planejada, consumo de, pelo menos, uma xícara de café por dia nos últimos cinco anos e capacidade de suspender o consumo do café.
Os pacientes foram randomizados para manter o consumo de, pelo menos, uma xícara de café por dia ou para permanecerem abstinentes da bebida e de produtos que continham cafeína.
O desfecho primário era recorrência clínica de FA ou flutter atrial por pelo menos 30 segundos após 6 meses e os desfechos secundários eram recorrência separada de FA ou flutter atrial e ocorrência de eventos adversos como MACE, procura ao pronto socorro, internações e morte.
Resultados
Foram randomizados 100 pacientes para cada grupo. No grupo consumo de café, a idade média era de 68,2 anos, 76% eram do sexo masculino, 74% eram brancos, 9% tinham doença coronária. Já no grupo abstinência de café, a idade média era de 70,4 anos, 65% eram do sexo masculino, 85% brancos e 16% tinham doença coronária. As demais características eram praticamente iguais entre os grupos.
Ao se avaliar o desfecho primário, pacientes que mantiveram o consumo de café tiveram risco de recorrência de arritmia em seis meses 39% menor, com HR 0,61 (IC95% 0,42-0,89) e p=0,01. Os resultados foram semelhantes para as análises secundárias e consistentes para a maioria dos subgrupos.
Comentários e conclusão
O estudo é bastante interessante, mas com um número limitado de pacientes, sendo uma dificuldade relatada conseguir pacientes que concordassem em participar. Além disso, o consumo de café foi baseado no relato dos pacientes, o que pode não ser totalmente confiável, e a aderência a abstinência ao café foi subótima, com apenas 69% dos pacientes não consumindo nada no período todo.
Apesar disso, esse estudo sugere que o consumo do café resultou em menor ocorrência de FA e flutter comparado a abstinência à substância.
Autoria

Isabela Abud Manta
Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
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