O trombo agudo do ventrículo esquerdo (VE) é uma complicação importante do infarto agudo do miocárdio (IAM) que impõe alto risco de embolia arterial e morte. Ocorre em 2,7% dos pacientes com IAM com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) e em 9,1% dos IAMCSST de parede anterior.
Nesse contexto, os antagonistas da vitamina K (AVKs) são o tratamento padrão para trombo de ventrículo esquerdo (VE), mas requerem monitoramento regular do INR e são muito susceptíveis a interações que interferem com a efetividade da anticoagulação. Anticoagulantes orais não AVKs (NOACs) permitem tratamento com uma dosagem fixa e não requerem monitoramento da anticoagulação de rotina, estão sendo cada vez mais considerados a primeira escolha para situações em que foi não inferior aos AVKs.
O estudo RIVAWAR, que foi apresentado no primeiro dia do congresso do American College of Cardiology (ACC 2025), buscou comparar a eficácia da rivaroxabana, um NOAC, em comparação a varfarina no tratamento de trombo agudo de VE no pós-IAM em 1 mês e 3 meses de seguimento.
Desenho do estudo
Ensaio clínico controlado randomizado, aberto e de não inferioridade, unicêntrico, de eficácia e segurança para avaliar varfarina vs rivaroxabana no tratamento de trombo agudo de VE em pacientes cujo trombo foi diagnosticado durante a hospitalização inicial pós IAM. Os participantes foram randomizados em uma proporção de 2:1 para receber rivaroxabana 20 mg diariamente ou varfarina com INR alvo de 2-3 por 3 meses. De acordo com dados da literatura, para uma margem de não inferioridade de 7%, taxa de evento comum de 95%, uma taxa de alocação de 2:1, poder de 80% e um nível de significância de 5%, foi calculado um tamanho amostral de 270 pacientes (180:90) para demonstrar a não inferioridade da rivaroxabana.
Mantenha-se atualizado com o curso da Afya CardioPapers! Inscreva-se aqui!
Desfecho primário
Eficácia da rivaroxabana em resolver o trombo de VE comparada com a varfarina após 3 meses de terapia.
Desfecho secundário
Taxa de morte, IAM, AVC e sangramento maior nos grupos após 3 meses de terapia.
Importante ressaltar alguns detalhes metodológicos: a terapia medicamentosa realizada foi a preconizada por diretrizes; o período de intervenção incluiu um mês de dupla anti-agregação plaquetária (DAPT), seguido por monoterapia (clopidogrel) pelas 8 semanas subsequentes associada a anticoagulação oral; uma equipe independente e cega para a alocação do tratamento, conduziu as avaliações de acompanhamento, incluindo ecocardiografia para monitorar a resolução do trombo do VE.
Um total de 261 pacientes foram randomizados para terapia com DAPT+rivaroxabana (171) ou DAPT+varfarina (90). 248 pacientes fizeram ecocardiograma após 4 semanas e 252 o fizeram com 12 semanas. 79% eram homens, a média de idade de 54,5 anos, 90% de IAMCSST, 45% de doença coronariana multiarterial, 85% fizeram angioplastia coronária, 94% tinham fração de ejeção do VE ≤ 35% e 83% foram randomizados 1 dia após o IAM.
A resolução do trombo do VE ocorreu em 33/164 (20,1%) pacientes no grupo rivaroxabana e 7/84 (8,3%) pacientes no grupo varfarina em 4 semanas (diferença de risco 11,8%; IC 95% 1,2-2,2; OR 2,41; IC 95% 1,05-2,46; p=0,017).
A rivaroxabana demonstrou uma taxa de resolução de coágulos de 95,8%, em comparação com 96,6% para a varfarina, com uma diferença de -0,8% (IC 95%: -5,7% a 4,1%) em 3 meses de acompanhamento sem significância estatística (OR 0,98; IC 95% 0,74-1,29; p=0,88). Os eventos de segurança foram semelhantes entre os dois grupos: sangramento grave ocorreu em 2,3% do NOAC e 1,1% do grupo AVK (p=0,491), taxa de AVC isquêmico de 3% vs. 1,1% (p=0,254), mortalidade por todas as causas foi 5,3% vs. 5,6% (p=0,921).
Considerações finais
Após este estudo, podemos concluir que em pacientes com trombo agudo de VE pós IAM, a rivaroxabana demonstrou eficácia e segurança semelhantes à varfarina na resolução do trombo em 3 meses de acompanhamento com resolução completa do trombo em > 95% dos pacientes em ambos os grupos, sem evidência maiores eventos adversos em termos de mortalidade, AVC isquêmico ou sangramento grave. A taxa de resolução do trombo após 4 semanas foi maior no grupo rivaroxabana. Assim, a rivaroxabana é uma opção eficaz e segura à varfarina e elimina a necessidade de monitoramento de rotina do INR.
Anote na agenda! Live de resumo do evento dia 31/03, às 20h, com a Afya Cardiopapers!
Autoria

Sara Del Vecchio Ziotti
Graduação em Medicina e Clínica médica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Cardiologia pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.