As infecções respiratórias, com destaque para o resfriado comum e a gripe, são mais comuns no inverno e com a pandemia de coronavírus, a tendência é um crescimento exponencial do caso, em especial nos locais com transmissão local confirmada, como o eixo Rio-SP.
O grande problema do foco excessivo no Covid-19 é deixarmos passar outras causas comuns porém tratáveis, como influenza e pneumonia bacteriana grave. É semelhante à epidemia de dengue, onde acham que toda plaquetopenia é dengue grave. O que fazer então?
Abordagem à síndrome gripal
Passo 1: Identifique os casos graves e as pessoas de maior risco
Casos graves:
- Dispneia;
- FR > 30 irpm;
- Uso musculatura acessória;
- Tiragem;
- Cianose;
- Hipoxemia (O2 < 90%);
- Confusão mental;
- Hipotensão;
- Oligúria;
- Lactato > 2 mmol/L;
- Enchimento capilar lentificado (>3,5-5 seg).
Pessoas de maior risco:
- Idosos;
- Pneumopatia;
- Cardiopatia;
- Uso imunossupressores;
- Renais crônicos;
- Oncológicos.
Passo 2: Colete informações para estimar melhor gravidade e fazer diagnóstico diferencial
- Hemograma com PCR e procalcitonina.
- Função renal e eletrólitos.
- Gasometria arterial com lactato.
- TC tórax.
- Swab orofaríngeo e nasal – faça todo painel viral! Inclua influenza!
Quadros virais, incluindo Covid-19, apresentam mais comumente linfopenia. Um estudo apontou que D-dímero e LDH podem ser preditores de casos graves.
Passo 3: Quem eu vou internar?
- Todos os doentes com sinais de gravidade
- Pessoas de risco após análise individual do caso: a hospitalização é mais indicada quando há sinais da doença grave, podendo casos leves serem monitorados em casa. É importante ter em mente que a janela de piora se estende por duas semanas após o início dos sintomas! Então, fique de olho!
Leia também: Abordagem ao paciente com hipoxemia aguda e grave
Passo 4: Tratamento
É fundamental que no doente grave, com risco de vida, seja iniciado tratamento com oseltamivir e macrolídeo/betalactâmico até a excluirmos com certeza que o quadro não é influenza ou bacteriano!!
Os exames de leuco, proteína C reativa e o PCR dos swabs são a sua maior ferramenta!
No caso de confirmação do Covid-19, o tratamento é de suporte, como os demais casos de SDRA. Muitos médicos estão recomendando intubação precoce nos casos de insuficiência respiratória, pois VNI e alto fluxo de oxigênio ajudam a disseminar o vírus no ambiente.
Há, ainda, a preocupação com medicações adjuvantes. Até o momento, a posição da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da European Society of Cardiology (ESC) é para mantermos iECA e BRA. Já o ibuprofeno é mais simples: ele não melhora sobrevida de nada e temos milhares de alternativos no Brasil!
Referências bibliográficas:
- https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/fevereiro/05/Protocolo-de-manejo-clinico-para-o-novo-coronavirus-2019-ncov.pdf
- https://coronavirus.saude.gov.br/
- https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
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