O uso da telemedicina nos cuidados paliativos
O uso da telemedicina, presente de forma tímida na prática clínica diária, ganhou visibilidade e possibilidade de expansão após a pandemia de Covid-19. Em um momento em que as reuniões pessoais e profissionais precisaram adaptar-se à nova realidade remota, as consultas médicas tornaram-se também de certa forma inconvenientes, podendo expor os envolvidos à infecção viral vigente àquela época.
Após término da pandemia, muitos dos hábitos adquiridos foram mantidos e vários trabalhos vêm sendo desenvolvidos de forma a avaliar o impacto dessa nova propedêutica na prática clínica.
Quando analisadas subpopulações de pacientes, como aqueles que necessitam de cuidados paliativos, pode-se supor maior dificuldade de acesso aos hospitais e clínicas por parte desses pacientes e famílias, de tal forma que o cuidado remoto seria mais confortável e agradável.
O questionamento a ser feito então é se existe impacto negativo ao paciente no que diz respeito ao tratamento e controle de sintomas quando realizadas consultas remotas.
Caso apresentado no ASCO 2024
Durante o ASCO Annual Meeting de 2024, congresso realizado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica, foi apresentado na sessão plenária um estudo que avaliou pacientes com diagnóstico de câncer de pulmão avançado com suporte precoce pela equipe de cuidados paliativos, sendo um grupo acompanhado com consultas presenciais e outro via telemedicina.
Seu objetivo era avaliar se a consulta remota seria inferior quando comparada à presencial em termos de qualidade de vida reportada pelo paciente, assim como nível de satisfação com o atendimento, dentre outros.
Foram randomizados 1.250 pacientes, com idade média de 65 anos e proporção semelhante entre os sexos e, após um período de 24 semanas, o estudo demonstrou uma equivalência entre os grupos, sem diferenças também quanto à satisfação dos pacientes e familiares com o cuidado e sintomas de humor.
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Casos relatado em revistas científicas
Em outra publicação, na revista The Oncologist, em 2020, foi relatada a experiência com a telemedicina em cuidados paliativos de pacientes oncológicos durante a pandemia de Covid-19 no México. O programa, que envolvia equipe multidisciplinar, abrangeu pacientes que residiam em área rural (15% da amostra) e escolaridade igual ou inferior ao ensino fundamental (25% do total).
O estudo demonstra a viabilidade do atendimento em telemedicina para situações com limitação de recursos, mas ressalta a barreira do uso da tecnologia apresentada por parte dos pacientes.
Em 2022, uma revisão sistemática publicada no American Journal of Hospice and Palliative Medicine avaliou o atendimento em telemedicina em pacientes com câncer avançado e moradores da zona rural, com o objetivo de criar um modelo que visa objetivos como identificar a população candidata a essa abordagem e avaliar a eficácia dessas intervenções. Essa revisão traz como conclusão a telemedicina como ferramenta revolucionária no cuidado de pacientes com dificuldades de acesso ao sistema de saúde.
Conclusão
Esses trabalhos mostram o potencial impacto que o avanço dos cuidados paliativos por meio da abordagem remota pode trazer, proporcionando maior acesso e comodidade ao paciente e cuidadores.
As vantagens serão, contudo, diretamente proporcionais à capacidade do paciente em utilizar a tecnologia demandada, sendo esta o principal desafio para maior expansão desse modelo de cuidado.
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