Como planejar a carreira para reduzir os plantões

Sempre recebo notícias com os títulos: “Como eu parei de dar plantões agora vivo de 6 dígitos por semana…” ou mesmo “Melhore sua vida e saia dos plantões para viver de consultório”. Notícias assim, em um coração cansado da falta de uma boa vida familiar o enchem de uma falsa esperança como se apenas um curso fosse realmente a solução para tudo o que precisamos na vida.

Antes das dicas práticas de como não se encher de plantões, gostaria de trazer uma reflexão aos colegas e vou começar com uma pergunta muito complexa: “O que define o seu valor?”.

Entendimento sobre valor pessoal

É possível que em toda sua vida você tenha ouvido de seus amigos e familiares que todo médico deve ganhar muito dinheiro, ou mesmo que sua família “teve sorte” de ter alguém tão inteligente que garantirá o futuro dos seus pais.

Outras vezes, somos nós mesmos os culpados por nos enchermos de expectativas irreais pensando em comprar para nossos pais – e para nós mesmo  – aquilo que nossa família nunca pôde nos dar até como uma forma de retribuição, já que sabemos o custo de uma formação como a nossa.

Contudo, querido colega, gostaria de te lembrar que o valor não está na sua formação. Você, como ser humano, vale mais que aquele papel com o título de “doutor” que historicamente recebemos junto com o diploma de medicina.

Você tem gostos únicos, ânimos, personalidade que ninguém mais tem. E digo isso porque muito da pressão por muito plantões vem exatamente da necessidade que nos impomos para mostrar que estamos bem, financeiramente falando.

Dicas práticas

Gostaria de deixar algumas dicas práticas para que você não se acumule de plantões no início da carreira:

• Não se endivide

Não conte com o dinheiro do plantão dado e ainda não recebido. Muitos locais podem levar dois meses – ordinariamente – para pagar o seu plantão; isso porque outros atrasam substancialmente seus pagamentos. Suas contas terão juros com o atraso; seu valor de plantão não.

• Seja realista sobre os gastos

A vida após o término da faculdade tem gastos absurdamente multiplicados – e nem cogito aqui os que decidiram se casar ou ter filhos. Mudar de cidade para uma residência ou emprego, comprar um carro – por mais simples que seja –, manter uma alimentação saudável custa tempo e dinheiro.

O valor do parcelamento de um carro, por exemplo, vem com outros gastos como impostos, seguro do carro, combustível e muito mais.

Sua casa não é apenas aluguel ou o financiamento – existe água, luz, telefone, manutenção, pintura. Seja realista e planilhe tudo isso. Usar transporte público ou escolher um apartamento menor por uns tempos pode não ser uma opção ruim, já que podemos passar bastante tempo no trabalho no início da carreira.

• Seja moderado nas saídas com os amigos

É comum que os colegas recém-formados queiram experimentar todos os bons restaurantes e festas do local onde moram. Não se apresse.

Se eles forem realmente bons, continuarão de portas abertas durante muitos anos.

• Planeje sua vida a longo prazo

Será que o ritmo de dois, três, quatro plantões por semana será compatível com uma vida em família que você pode desejar ter daqui 10 anos? Você pretende ter filhos? Seus filhos irão gastar com roupas, fraldas, escolas, cursos.

Qual seu planejamento frente a essas demandas? Pense em escolher carreiras que podem se ajustar às suas necessidades.

• Poupe para algum imprevisto

Se sua maior renda virá dos plantões, hoje, a maioria deles é em caráter de contrato PJ. Isso, novamente, te exigirá poupar para alguma emergência. Uma doença traumática, psicológica ou clínica. Necessidade de férias ou viagem de emergência. Médicos não são imunes a estar doentes, mas o fato da maioria não ter carteira assinada nos pressionada a fazer nossos recursos de emergência.

• Viva contente com o que que tem

Já dizia um antigo sábio: “um abismo chama outro abismo” se referindo ao fato que o coração humano nunca estar satisfeito com o que tem.

Sempre existirá um celular mais novo, um carro melhor e um local de viver melhor que o seu e, como digo aos meus filhos “você não precisa ter tudo”, isso não vale a tua paz, tua saúde e sua vida.

Fique atento ao descontentamento e procure a beleza e a alegria em ser grato pelo que você já tem e conquistou. Dê valor e busque a verdadeira sabedoria.

• Existem hobbies maravilhosos e baratos

Já pensou em conhecer os parques municipais onde você mora? Ou mesmo ler uma boa ficção nos momentos vagos – em nem tão vagos assim? Não se obrigue a dar mais e mais plantões para pagar divertimentos e férias caras sempre que pensar em alguma coisa diferente. Veja a beleza em coisas simples da vida.

• Estude sobre o assunto financeiro

Existem muitos cursos sobre finanças e investimentos, gerenciamento de plantões e carreira; eles são bons investimento à longo prazo. Você pode aprender a fazer o seu dinheiro e seus lucros trabalharem para você. Use isso a seu favor.

• Se você gosta de plantões, não os deixe!

Existem médicos que amam atender emergências, plantões em UTI, em pronto-socorro, não se sinta pressionado a abandoná-los para ter uma “vida melhor”.

Me lembro com alegria da época em que os dava e parei por opção pessoal e familiar, mas se para você é uma parte importante da carreira, não abra mão da sua carreira.

Invista em cursos de atualização, procure bons locais para manter sua carreira e faça bons planejamentos a longo prazo. Não seja pressionado a viver uma vida que não é a sua.

Trabalhe com prazer, usufrua da sua renda, tenha paz em aproveitar as coisas simples também. Ah, sim! E um ótimo plantão pra você.