Cardiologia11 março 2024
Liproteina a, proteína C reativa e risco cardiovascular
Um estudo teve o objetivo de avaliar a relação da Lp(a) e PCR-us em pacientes em prevenção primária e secundária.
A lipoproteína(a) (Lp(a)) é uma partícula pró-aterogênica e seus níveis aumentados têm relação com doença cardiovascular (DCV) aterosclerótica, como doença arterial coronariana e doença arterial obstrutiva periférica (DAOP).
Ainda, inflamação tem papel central no desenvolvimento de DCV aterosclerótica e alguns estudos já mostraram benefício de medicações que atuam nas vias de resposta imune que incluem a proteína C reativa (PCR) ultrassensível (us).
Estudos pequenos encontraram relação da Lp(a) e PCR-us, sugerindo que Lp(a) aumentada levaria a maior risco cardiovascular apenas em pacientes com PCR-us aumentada. Assim, foi feito um estudo para avaliar essa relação em pacientes em prevenção primária e secundária.
Métodos do estudo e população envolvida
Foram incluídos pacientes em prevenção primária, sem DCV aterosclerótica, de um banco de pacientes do Reino Unido, e pacientes em prevenção secundária, com dados de pacientes de dois estudos TIMI, o FOURIER e o SAVOR, que tinham DCV aterosclerótica. Os desfechos foram risco de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE), que consistiu de morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi); componentes individuais do MACE e DAOP. Os pacientes foram dicotomizados em grupos de acordo com a PCR-us: ≥ 2mg/L ou < 2mg/L. Esses pacientes foram avaliados em relação a ocorrência de eventos de acordo com o valor de Lp(a), a partir de 50nmol/L.Resultados
Foram avaliados 357.220 pacientes em prevenção primária. Desses, 35% tinham PCR-us ≥ 2mg/L e 65% < 2mg/L. No seguimento de 11 anos houve 37.575 pacientes com MACE e tanto Lp(a) quanto PCR-us aumentados tiveram associação com eventos, sendo o risco maior quanto maior o seu valor. Maiores níveis de Lp(a) foram associados a maior risco de MACE, IAM, AVCi e DAOP, independente do PCR-us basal. Não houve associação de Lp(a) e morte cardiovascular. Já os pacientes em prevenção secundária foram 34.020 e tanto Lp(a) quanto PCR-us foram associados a ocorrência de MACE, sendo também o risco maior quanto maior o seu valor. No seguimento médio de dois anos houve 2.412 pacientes com MACE. Maior valor de Lp(a) foi associado a maior risco de MACE, IAM e DAOP, independente do PCR-us basal. Não houve relação com a ocorrência de morte ou AVCi. Ao comparar pacientes com Lp(a) e PCR-us normais, ter os dois aumentados resultou em maior risco, com aumento de 1,6 vezes na chance de IAM e 1,8 vezes na chance de DAOP. Aumento de apenas um dos dois tiveram risco intermediário, configurando uma relação aditiva entre Lp(a) e PCR-us no contexto de risco cardiovascular. Proteína C reativa (PCR): o que saber para a prática clínicaComentários e conclusão
Esse estudo mostrou que maiores níveis de Lp(a) foram associados a maior ocorrência de MACE, IAM e DAOP, independente da PCR-us basal em uma grande amostra de pacientes sem DCV estabelecida e em pacientes em prevenção secundária. O estudo tem algumas limitações, como a o fato de ter utilizado um banco de dados que baseia o diagnóstico em códigos, podendo haver viés de seleção. Pacientes em prevenção secundária foram pacientes de estudos prévios e os resultados encontrados foram consistentes. A partir desses dados, a Lp(a) pode ser considerada um fator de risco cardiovascular e a PCR-us um marcador inflamatório, que pode não refletir completamente esse risco.Anúncio
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