Cardiologia5 março 2024
Lipoproteína A alta e AAS: há espaço para prevenção primária?
Estudo avaliou associação entre o uso de AAS e redução do risco cardiovascular em pacientes com lipoproteína A alta
Já se sabe que cerca de 20-25% da população tem níveis de lipoproteína A (LP(A)) > 50 mg/dL e que essa lipoproteína é muito aterogênica. Sendo assim, já está bem sedimentado que pacientes com LP(A) alta têm risco cardiovascular aumentado, mesmo em uso de estatinas. O que não se sabe ainda é se existe uma terapia capaz de diminuir o risco desses pacientes, principalmente em relação à prevenção primária.
Nos últimos tempos, voltou a ficar em destaque o possível papel do AAS na prevenção primária, principalmente nos pacientes de maior risco. Será que os pacientes com LP(A) se encaixam nesse grupo?
Método do estudo
O estudo publicado no jornal da AHA em fevereiro de 2023 se propôs a estudar esse assunto. Trata-se de um estudo observacional no qual foram usados dados de um estudo prévio chamado MESA (Multi-ethnic study of atherosclerosis). A ideia do atual estudo era avaliar a associação entre uso de AAS e eventos cardiovasculares com estratificação pelos níveis de LP(A).População envolvida
Foram avaliados 2.183 pacientes dos EUA sem doença cardiovascular estabelecida no início do estudo. Desses pacientes, 19,4% tinham LP(A) > 50 mg/dL. Esse grupo de pacientes também tinha mais hipertensão, dislipidemia e taxa de eventos cardiovasculares.Resultados
O uso de AAS não teve associação significativa com redução de eventos cardiovasculares nos pacientes com LPA < 50 mg/dL (HR 0,8 IC 95% 0,58-1,1). Em contrapartida, a associação foi significativa naqueles pacientes com LPA >50mg/dL (HR 0,54 IC 0,31-0,93). Os pacientes com LP(A) que não tomavam AAS tiveram a maior taxa de eventos cardiovasculares, enquanto os mesmos pacientes em uso regular de AAS tiveram taxas de eventos similares às dos pacientes com LP(A) mais baixa. As taxas de sangramento foram maiores nos pacientes que usavam AAS de forma geral, sem diferença pelos níveis de LP(A). Leia mais: Consenso sobre a lipoproteína A: o que há de novo?Mensagem prática
O estudo mostrou associação entre o uso de AAS e redução do risco cardiovascular em pacientes com LPA alta e sem doença cardiovascular estabelecida de base. A mensagem que fica, portanto, é a de que a prevenção primária com AAS pode ser benéfica em pacientes com LP(A) > 50 mg/dL. Devemos ressaltar, entretanto, que se tratou de um estudo observacional com muitas limitações. Sendo assim, provavelmente não haverá mudança de conduta em relação à profilaxia primária até que estudos mais robustos mostrem os mesmos resultados.Anúncio
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