Os opioides são medicamentos que permanecem na primeira linha do tratamento multimodal da dor aguda pós-operatória. Porém, seu uso é limitado devido aos seus efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, tonteira, cefaléia, constipação intestinal, íleo, retenção urinária, prurido, sedação e o mais temido deles, a depressão respiratória. Devido a essas limitações, a busca por um opioide com maior perfil de segurança é altamente relevante.
O tapentadol é um analgésico opioide de ação central que age como agonista moderado dos receptores opioides µ e inibindo a recaptação de noradrenalina, atuando na via descendente inibitória de modulação da dor. É metabolizado pelo fígado e eliminado pelos rins. Cinquenta miligramas de tapentadol tem equivalência analgésica a 10mg de oxicodona.
Foi realizado um ensaio clínico controlado, randomizado e duplo-cego entre dezembro de 2017 a fevereiro de 2019, no hospital universitário de Oslo, Noruega, em mulheres submetidas a histerectomia videolaparoscópica. O objetivo do estudo foi comparar o efeito analgésico do tapentadol com a oxicodona durante as primeiras 24h de pós-operatório. Trinta e sete mulheres foram alocadas no grupo tapentadol (grupo T) e 36 mulheres no grupo oxicodona (grupo O). Todas receberam paracetamol e etoricoxib imediatamente antes da cirurgia, além de 2µg.kg de fentanil 10min antes do término da cirurgia. O desfecho primário foi dor ao repouso e enquanto tossia na 1° hora de pós-operatório, 15 e 30min, 1, 2, 3 e 24h depois. Os desfechos secundários foram náuseas, vômitos, prurido, tontura, cefaleia, sedação, frequência respiratória e uso de medicações de resgate.
Resultados e discussão
A intensidade da dor em repouso e durante a tosse foi similar nos 2 grupos não somente na 1° hora de pós-operatório – desfecho primário – mas durante todo o período do estudo de 24h. O grupo Tapentadol apresentou menos náuseas e necessidade de antieméticos, mas não houve diferenças entre os grupos para depressão respiratória, vômito, sedação, tontura, prurido ou cefaleia.
A avaliação geral do tratamento da dor foi positiva em mais de 93% dos pacientes, indicando que tanto o tapentadol quanto a oxicodona funcionam bem, como parte de um tratamento multimodal com paracetamol e anti-inflamatórios para dor pós-operatória.
Como náuseas e vômitos afetam negativamente a recuperação pós-operatória, aumentando risco de complicações e tempo de internação, o Tapentadol se mostrou um fármaco interessante. Além disso, a necessidade de menos antieméticos reduz os custos hospitalares.
Como limitações do estudo, podemos dizer que foi limitado à população do sexo feminino e a apenas um tipo de cirurgia, além de ter sido limitado a pacientes sem síndrome de dor crônica ou terapia com opioide no pré-operatório, que podem ser fatores confundidores de dor pós-operatória.
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Conclusão
Em resumo, a conclusão foi de que o Tapentadol tem eficácia analgésica semelhante à oxicodona nas primeiras 24h após a histerectomia, resultou em menos náusea e necessidade de antieméticos, entretanto nenhuma diferença foi encontrada para depressão respiratória, vômito, prurido, cefaleia, tontura, sedação e satisfação do paciente.
Referências bibliográficas:
- Comelon M, Raeder J, Drægni T, Lieng M, Lenz H. Tapentadol versus oxycodone analgesia and side effects after laparoscopic hysterectomy: A randomised controlled trial. Eur J Anaesthesiol. 2021 Sep 1;38(9):995-1002. doi: 10.1097/EJA.0000000000001425. PMID: 33428347.
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