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Anestesiologia12 agosto 2020

Obesidade grau 1 e ventilação pulmonar em videolaparoscopias

Estudo comparou pacientes com obesidade grau 1 e pacientes com peso normal durante a ventilação mecânica em cirurgias videolaparoscópicas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 15% da população mundial é considerada obesa, ou seja, possui índice de massa corpórea (IMC) > 30 mg.kg-2, sendo essa estatística proporcionalmente maior dependendo da região analisada. Por exemplo, nos Estados Unidos, cerca de 40% da população é considerada acima do peso. Pacientes com obesidade apresentam graus variáveis de disfunção pulmonar, contribuindo para uma maior dificuldade ventilatória.

O aumento do índice de massa corpórea e da pressão intra-abdominal leva ao colapso alveolar que contribui para o aparecimento de atelectasias, da diminuição da capacidade residual funcional e de alterações da ventilação/perfusão, levando a uma diminuição da oxigenação arterial. Pacientes submetidos a cirurgias de videolaparoscopia precisam, necessariamente, serem acoplados à ventilação mecânica com anestesia geral. A ventilação mecânica junto com o pneumoperitôneo acabam por elevar os riscos de complicações pulmonares em qualquer paciente, principalmente naqueles que já apresentam alterações pulmonares.

O estudo a seguir visa realizar uma comparação entre pacientes com obesidade grau 1 e pacientes com peso normal em relação a complicações pulmonares durante o período de ventilação mecânica em cirurgias de colecistectomia videolaparoscópicas.

Veja mais: Exame desenvolvido pela Unicamp identifica pessoas com risco aumentado de obesidade

pés em cima da balança verificando obesidade

Estudo sobre obesidade

O estudo foi realizado sob todas as normas e protocolos das associações e sociedades respectivas, assim como com o consentimento de todos os pacientes. Foram selecionadas, no total, 20 pacientes do sexo feminino, separadas em dois grupos: obesas e não obesas, ambos com dez pacientes cada. Para adequar à realidade do país, foram selecionadas apenas pacientes com obesidade grau 1. Pacientes com espirometria prévia alterada e com doenças pulmonares e cardiopatas foram excluídas do estudo.

A anestesia geral foi realizada com pré-oxigenação a 100%, sob máscara facial durante três minutos, seguida de uma indução com propofol na dose de 2-2,5 mg/kg, fentanil na dose de 5 mcg/kg e succinilcolina na dose de 1 mg/kg. Em seguida, foi administrado atracúrio intermitente e propofol em infusão contínua. Foram acopladas ao respirador mecânico com ventilação volume controlada, volume corrente de 6-8 mL/kg (até uma ETCO2 de 40mmHg), frequência respiratória de 14 irpm, relação inspiração/expiração de 1:2 e PEEP de 5.

Foram avaliados dados da mecânica respiratória nos períodos: antes do pneumoperitôneo, 5/15/30 minutos após a insuflação, e 15 minutos após a desinsuflação. Os parâmetros avaliados foram: capacidade pulmonar, pressão de pico, pressão de platô, pressão elástica e pressão de resistência. A equipe responsável pela coleta dos dados não possuía nenhuma informação sobre os dados das pacientes.

Resultados

É de prévio conhecimento que a anestesia geral com ventilação mecânica afeta a função pulmonar, diminuindo a capacidade residual funcional e promovendo atelectasias, além de haver um efeito direto dos anestésicos e analgésicos utilizados durante a anestesia no centro responsável pelo drive respiratório. Esses fatores são responsáveis pelo aumento das complicações pulmonares pós-operatórias em todos os pacientes submetidos à ventilação mecânica.

Nos pacientes obesos, esses efeitos são maiores devido ao aumento da massa da parede torácica e diminuição da função e motilidade diafragmática. A presença de maior tecido adiposo na parede torácica altera o movimento da parede torácica, o tamanho das vias aéreas e a função muscular respiratória, assim como a perfusão pulmonar.

O estudo obteve resultados semelhantes aos estudos anteriores em relação ao impacto da obesidade na mecânica respiratória:

  • A duração do tempo de anestesia e insuflação do pneumopritôneo foi a mesma entre os dois grupos;
  • A complacência pulmonar primária (CP) nas obesos era menor do que o grupo das não obesas. Durante a insuflação, a CP diminuiu em ambos os grupos, porém no grupo das obesas a diminuição foi bem maior;
  • A pressão de pico e a pressão de platô foram bem maiores no grupo das obesas durante todos os períodos avaliados, sendo que as variações durante a insuflação foram semelhantes entre ambos os grupos, assim como a pressão elástica e de resistência.

Algumas limitações foram encontradas nesse estudo, como o tamanho da amostra, centro de avaliação único e somente sexo feminino. Porém, os resultados encontrados foram bastante significantes: pode-se concluir que pacientes obesos grau 1 apresentam maiores alterações pulmonares em cirurgias de colecistectomia videolaparoscópicas do que os pacientes não obesos, necessitando de mais cuidados relacionados à ventilação mecânica durante o procedimento.

Referências bibliográficas:

  • Araujo OC et alls. Impacto da obesidade Grau I na mecânica respiratória durante cirurgia videolaparoscópica: estudo longitudinal prospectivo.Brazilian Journal of Anesthesia. Volume 70, Issue 2, March–April 2020, Pages 90-96.
  • K.M. Flegal, D. Kruszon-Moran, M.D. Carroll, et al.Trends in Obesity Among Adults in the United States, 2005 to 2014 JAMA., 315 (2016), pp. 2284-2291.
  • S.M. Pereira, M.R. Tucci, C.C.A. Morais, et al. Individual positive end‐expiratory pressure settings optimize intraoperative mechanical ventilation and reduce postoperative atelectasis.Anesthesiology., 129 (2018), pp. 1070-1081.

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