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Endocrinologia29 outubro 2019

Obesidade: quais as principais doenças relacionadas?

A obesidade é uma doença cada vez mais comum cuja prevalência já atinge proporções epidêmicas. A prevalência em São Paulo ultrapassa 62,3%.

Por Monica Tochetto

A obesidade é uma doença cada vez mais comum cuja prevalência já atinge proporções epidêmicas. A prevalência de sobrepeso e obesidade em São Paulo ultrapassa 62,3%, chegando a 70% na faixa etária compreendida entre 55 a 64 anos.

Esse aumento crescente acompanha-se por consequente surgimento de varias doenças associadas que causam incapacidade funcional, redução da qualidade de vida e da expectativa de vida e aumento da mortalidade. Condições crônicas como doença renal crônica, osteoartrose, câncer, diabetes mellitus (DM), apneia do sono, doença hepática gordurosa não alcoólica, hipertensão arterial e doença cardiovascular estão francamente associadas a obesidade.

Um estado de inflamação crônica subclínica é originado por uma dieta pró-inflamatória e sedentarismo, mediado em parte pelo processo de estresse oxidativo e por citocinas pró-inflamatórias que interferem nos mecanismos de sinalização da insulina.

A obesidade contribui para esse processo, uma vez que o tecido adiposo é hoje compreendido como um órgão secretor de produtos mediadores inflamatórios como adiponectina, bem como por alteração funcional do sistema nervoso autônomo e sistema neuroendócrino em resposta ao stress. A insulina em condições normais apresenta efeitos anti-inflamatório.

A resistência insulínica, uma vez presente, interrompe as ações inibitórias da insulina contra inflamação, favorecendo também o estado inflamatório de outras doenças, como síndrome metabólica, diabetes mellitus, hipertensão arterial e doença cardiovascular atuam como causas de ativação crônica deste sistema

O estudo NHANES tem demonstrado que a obesidade está fortemente associada a um maior risco de desfechos cardiovasculares ou câncer, uma maior prevalência de DM, doenças da vesícula biliar, doença arterial coronariana (DAC), hipertensão arterial (HA) e dislipidemia.

pés de pessoa com obesidade se pesando

Obesidade e síndrome metabólica

A síndrome metabólica (SM) está associada com maior risco cardiometabólico, que inclui obesidade abdominal, HA, resistência à insulina, hipertrigliceridemia, redução HDL estando a SM associada a um risco aumentado eventos cardiovasculares e mortalidade.

O Dallas Heart Study mostra que o índice de massa corporal (IMC) maior foi significativamente associada à SM em pacientes com DM e não DM. A concomitância com afecções cardiovasculares aumenta a mortalidade geral em 1,5 vezes e cardiovascular em aproximadamente 2,5 vezes.

A síndrome atinge 41% dos homens e 37,5% mulheres com maior associação entre obesos e diabéticos. A redução de peso isoladamente ou em combinação com intervenção no estilo de vida reduziu significativamente a prevalência SM.

Veja também: Lorcasserina: novo medicamento antiobesidade

Relação da obesidade com doenças respiratórias

A apneia obstrutiva do sono compreende episódios de obstrução total (apneia) ou parcial (hipopneia) das vias aéreas durante o sono, sendo o sobrepeso um importante fator de risco para essa condição.

Um aumento de peso 10% em quatro anos está associado a um aumento em seis vezes no risco de desenvolver síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). Além disso, estudos epidemiológicos prospectivos demonstram que distúrbios do sono estão relacionados à obesidade.

Durante o sono, interrupções no fluxo maior que oito segundos em crianças e 10 em adultos caracterizam apneia. A prevalência da SAOS é 40% nos obesos e 71% nos obesos mórbidos.

A SAOS potencialmente resulta em uma série de complicações, incluindo hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca direita, HA refratária, acidente vascular cerebral (AVC) e arritmia potencialmente fatal.

Doença hepática gordurosa não alcoólica e obesidade

A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) representa um espectro de distúrbios que vão desde esteatose até esteato-hepatite e finalmente hepatocarcinoma. O stress oxidativo mediado por hidroperóxidos no tecido hepático ligados à obesidade é um dos mecanismos possivelmente envolvido na patogênese desta doença.

Afeta entre 15 a 30% população em geral e tem alta prevalência em indivíduos com DM 2 podendo chegar a 70% nesta população.

A perda de peso após cirurgia bariátrica atuam sobre a inflamação e fibrose. Foram avaliados em 18 pacientes com DHGNA submetidos à derivação gástrica Y roux e biópsia hepática percutânea, dos 67% que tinham esteatose hepática destes 15,5% tinham cirrose e 33% esteato-hepatite isolada. Após perda 60% peso esteatose desapareceu 84% e fibrose em 75%.

Leia mais: Mitos e verdades no tratamento da doença hepática gordurosa não alcoólica

Doença psiquiátrica e obesidade

Uma associação entre obesidade e transtornos depressivos maiores já foi reconhecido há muito tempo, embora uma associação causal entre obesidade e depressão seja ainda incerta.

Medicamentos antidepressivos estão fortemente associados a ganho de peso. Alteração no IMC foi significativamente associado a alteração humor, ansiedade e transtornos de personalidade.

Indivíduos adultos com depressão atual ou com diagnóstico de depressão e ansiedade antigos foram significativamente mais propensos a ter comportamento pouco saudáveis como tabagismo obesidade, inatividade física e consumo excessivo de álcool.

A prevalência de obesidade foi 25,4% entre os que tinham depressão, 57,8% naqueles com transtornos depressivos maiores.

Relação entre obesidade e neoplasias

A associação entre obesidade e câncer é confirmada em vários estudos prospectivos. A associação mais forte é entre IMC elevado e o risco de câncer.

Um grande estudo prospectivo American Câncer Prevention Study II, que envolveu uma coorte de mais de 900 mil indivíduos com neoplasias em 1982, seguidos por 16 anos, encontrou uma associação significativa entre obesidade e câncer.

Entre aqueles com IMC de 40 kg/m², a mortalidade por todas as causas de câncer foi 52% maior nos homens 62% maior em mulheres do que daqueles com IMC normal.

O IMC também foi significativamente associado a maior taxa de morte por câncer esôfago, cólon, reto, fígado, vias biliares, rim, linfoma e mieloma múltiplo. No estudo britânico Million Women Study, o aumento IMC foi associado a um aumento significativo no risco de desenvolver 10 dos 17 tipos mais comuns de neoplasia.

Obesidade e osteoartrose

A obesidade está fortemente relacionada a um risco maior de desenvolver osteoartrose do joelho e uma associação moderada de osteoartorse (OA) de quadril, podendo acometer aqueles pacientes que são metabolicamente normais. Além disso, a osteoartrose realça a capacidade de a obesidade promover outras doenças em vários órgãos e sistemas, indicando que per se é uma patologia quase sempre associada a doenças secundárias.

O Framimgham Heart Study avaliou efeito da obesidade sobre risco aumentado de osteoartrose de joelho. Entre 598 pacientes que desenvolveram osteoartrose ao longo do seguimento 10 anos, o risco de OA ao longo seguimento foi de 1,6x para cada cinco unidades de aumento no IMC.

Doença renal e obesidade

Obesidade é uma importante causa de doença renal, incluindo doença renal crônica. Outros fatores que predispõe o desenvolvimento de doença renal crônica são nefropatia diabética, nefroesclerose hipertensiva, GESF e a alterações hemodinâmicas, estruturais, histológicas e metabólicas.

O tecido adiposo produz adipocinas como leptina adiponectina FNF alfa, proteína quimiotática de monócitos, angiotensina II. Uma série de eventos são desencadeados pela obesidade que per se podem desenvolver doença renal crônica.

Qual a mortalidade relacionada à obesidade?

Resultante desta carga adicionada de doenças associadas, a obesidade aumenta de sobremaneira a mortalidade.
Um grande número de estudos epidemiológicos, como Nurses Health Study (NANES), Women’s Health Initiative Observational Study e American Câncer Society, estabeleceu um aumento significativo na mortalidade cardiovascular e não cardiovascular associada à doença.

O aumento de anos de vida perdidos foi encontrado entre obesos x não obesos no estudo NHANES. Em geral, número de anos de vida perdidos foi um a nove anos para aqueles com IMC inferior 17-19 comparado com 9 a 13 anos para aqueles com IMC maior 35. Neste resultado, contribuíram não apenas peso atual, mas a idade em que obesidade se iniciou.

Além dessas doenças, há uma série de outras que podem acometer qualquer órgão ou sistema sendo reconhecido como associação ao aumento do peso, como doença do refluxo gastroesofágico, asma, infertilidade, disfunção erétil, colecistopatia crônica calculosa, síndrome do ovário policístico, veias varicosas, doença hemorroidária, hipertensão intracraniana idiopática, disfunção cognitiva e demências.

Além da presença de doenças, a obesidade perturba o diagnóstico e tratamento devido à dificuldade de alguns procedimentos e limitação técnica de alguns equipamentos para esses pacientes.

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