O ciprofol, é um agente hipnótico intravenoso de uso relativamente recente, desenvolvido como alternativa ao propofol, visando maior segurança, estabilidade hemodinâmica e menor incidência de efeitos adversos. Ambos pertencem ao grupo dos derivados alquilfenóis e atuam como moduladores positivos do receptor GABA A, promovendo sedação, hipnose e amnésia.
Farmacologia e mecanismo de ação
O ciprofol é um novo agonista do receptor GABA-A, com uma estrutura similar ao propofol, porém com uma adição do grupo ciclopropil na sua cadeia. Estudos sugerem que esse grupo incorporado seja responsável pela mudança estrutural que melhora a farmacocinética da medicação. O ciprofol une-se aos receptores GABA-A com maior afinidade que o propofol determinando uma maior potência anestésica de até quatro vezes mais. Além disso, possui uma maior lipossolubilidade, o que facilita a passagem pela barreira hematoencefálica, promovendo uma distribuição mais ampla e rápida nos tecidos do sistema nervoso central, aumentando a sua eficácia nessa região.
Estudos vêm demonstrando que uma única dose de 0,4 mg/Kg é suficiente para induzir hipnose em até 2 minutos, com um tempo de despertar médio entre 5 e 10 minutos, tendendo a apresentar menor variação interindividual na farmacocinética e menor necessidade de ajuste em pacientes idosos ou hemodinamicamente instáveis.
Tanto o ciprofol como o propofol, como agonistas dos receptores GABA-A, fazem a hiperpolarização neuronal, reduzindo a excitabilidade do neurônio e produzindo um efeito sedativo-hipnótico.
Sendo assim, a principal diferença reside na estrutura molecular do ciprofol, que apresenta uma substituição cíclica no anel de isopropil. Essa modificação confere:
- Maior afinidade pelo receptor GABA_A → menor dose necessária para atingir o mesmo nível de sedação.
- Maior lipossolubilidade → maior volume e rapidez de distribuição tecidual e recuperação mais previsível.
Perfil hemodinâmico e de segurança
Um dos principais benefícios do ciprofol é seu perfil cardiovascular e respiratório mais estável. Apesar de ainda ser limitada as avaliações, na prática clínica e nos estudos iniciais vem sendo observado uma menor incidência de hipotensão e bradicardia durante a indução anestésica quando comparado ao propofol, e uma menor incidência de depressão respiratória em doses equivalentes de sedação comparado ao propofol.
Esses indícios que o ciprofol cause menos depressão respiratória que o propofol, favorece seu uso em unidades de terapia intensiva para sedação, dando mais segurança durante os protocolos de desmame ventilatório.
Como o ciprofol é muito mais potente que o propofol, acaba havendo uma menor concentração plasmática do anestésico, com um metabolismo mais rápido e com uma duração mais curta. O seu metabólito M4, não possui características tóxicas nem propriedades hipnóticas, o que contribui para sua maior segurança.
Outra característica satisfatória desse anestésico é a ocorrência de menor dor no sítio de injeção, fato que ocorre em quase 60% das injeções com propofol. Essa característica possivelmente está relacionada à necessidade de doses menores e de maior concentração de emulsificante lipídico, diminuindo a quantidade de substância livre na fase aquosa.
Aplicações clínicas
- Anestesia geral
Principalmente utilizado em indução e manutenção da anestesia geral. Para indução anestésica está sendo realizado doses de 0,3 a 0,5 mg/Kg com induções seguras e bem-sucedidas na maioria dos pacientes saudáveis. Uma única dose de ciprofol de 0,4 mg/Kg é suficientemente estável e segura para promover uma indução anestésica com sucesso. Estudos demonstraram que essa dose única foi suficiente para induzir 100% dos pacientes associada com um baixo índice de dificuldades de intubação e de hipotensão após 10 minutos da indução anestésica, comparado com a dose de 2 mg/Kg do propofol.
Em pacientes mais idosos, doses menores demonstraram maior estabilidade cardiovascular e respiratória e na população pediátrica houve uma necessidade de uso de doses mais elevadas em torno de 0,6 mg/Kg.
O ciprofol está sendo utilizado com sucesso em cirurgias não cardíacas com resultados bem satisfatórios.
Em relação a manutenção da anestesia geral, doses de 0,9 mg/Kg vem demonstrado a mesma potência que concentrações de 5,7 mg/Kg de isoflorano. Doses entre 0,4 e 1,7 mg/Kg durante a manutenção são suficientes para manter um valor de BIS em torno de 40 a 60, com estabilidade hemodinâmica tanto em pacientes jovens como idosos. Além disso vem demonstrando ser menos hepatotóxico e nefrotóxico.
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Sedação venosa
Com suas características de maior segurança cardiovascular e respiratória, vem demonstrando ser uma excelente alternativa ao propofol para realização de sedação em procedimentos endoscópicos como endoscopia digestiva, colonoscopia e broncoscopias, com relato de maior conforto para os pacientes.
Também parece ser uma opção para realização de sedação em unidades de tratamento intensivo, onde os pacientes constantemente apresentam desconforto, ansiedade e dor, sendo que muitos necessitam de ventilação mecânica, o que aumenta os casos de agitação, o que faz necessário sedações mais prolongadas. Para sedações em UTI é recomendado uma dose inicial em bolus de 0,1 mg/Kg seguida de uma dose de manutenção de 0,06 a 0,8 mg/Kg/h para manter um RASS de -2 a +1. Comparado ao propofol, o ciprofol tem mostrado mais segurança para sedações prolongadas, onde não se observa aumento dos níveis de triglicerídeos, fato que ocorre com o propofol levando a síndrome de infusão do propofol em casos de sedação acima de 24 horas em doses elevadas.
Considerações finais
O ciprofol, um novo agonista do receptor GABA-A, apresenta-se como uma alternativa promissora ao propofol, oferecendo vantagens farmacodinâmicas importantes, como maior potência, estabilidade hemodinâmica e menor dor à injeção em todas as faixas etárias de pacientes clinicamente estáveis. No entanto, seu uso ainda está em fase de consolidação em diversos países, ainda não liberado no Brasil, e são necessários mais estudos multicêntricos de grande escala para confirmar benefícios de longo prazo, especialmente em populações críticas como pacientes com instabilidade hemodinâmica ou com alguma alteração clínica significativa.
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