O bloqueio do gânglio estrelado (BGE) é uma técnica anestésica inovadora que vem sendo utilizada para o tratamento alternativo de sintomas de fogachos em mulheres na menopausa ou perimenopausa, principalmente em casos de pacientes em que a terapia de reposição hormonal é contraindicada ou não está se apresentando eficaz ou adequada.
Fogachos
Os fogachos, que são ondas de calor que aparecem em mulheres no climatério e menopausa, constituem um sintoma muitas vezes extremamente incômodo e incapacitante, impedido que a paciente possa conviver socialmente. Eles são de alguma forma relacionados a uma disfunção do sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle da vasodilatação e sudorese, devido a queda dos níveis de estrogênio.
A queda desse hormônio afeta o hipotálamo, que é o centro de controle de temperatura do cérebro, gerando uma redução da estabilidade térmica, tornando-o mais sensível a pequenas variações de temperatura que são erroneamente percebidas como um “calor excessivo” pelo corpo. Esse calor ativa o sistema nervoso simpático desencadeando uma resposta motora com aumento do fluxo sanguíneo para a pele, causando sensações de rubor, calor e sudorese.
Gânglio estrelado
O gânglio estrelado consiste em uma estrutura do sistema nervoso simpático (SNS) localizado na base do pescoço, anterior a primeira costela e a primeira vértebra torácica e posteriormente a artéria subclávia e ápice pulmonar. Ele é formado pela fusão do gânglio cervical inferior com o primeiro gânglio torácico. Como faz parte do SNS, tem como função regular as funções autônomas como o controle da temperatura corporal e do fluxo sanguíneo e controle da sudorese da região da cabeça, pescoço, membros superiores e parte superior do tórax.
O BGE é um procedimento minimamente invasivo que consiste na administração de um anestésico local diretamente na região, normalmente lidocaína, realizado por um profissional anestesista treinado, com o objetivo de modular a atividade do SNS que está intimamente envolvida na regulação da temperatura corporal, podendo contribuir para a melhora dos episódios das ondas de calor em mulheres na menopausa. O BGE reduz a hiperatividade simpática da região. Ele pode ser realizado a nível ambulatorial, com a paciente consciente e colaborativa, podendo ser utilizado a técnica por fluoroscopia ou guiada por ultrassom, sendo o ultrassom a técnica mais utilizada atualmente, pois permite a visualização direta dos vasos, pleura e do gânglio, evitando, maiores complicações.
A paciente permanece em decúbito dorsal com leve extensão do pescoço e a cabeça virada para o lado contralateral ao bloqueio. A agulha é direcionada para o tubérculo anterior de C6 e injetado de 5 a 10 ml de solução anestésica. O bloqueio é bem-sucedido quando se visualiza o aparecimento da Síndrome de Horner transitória e o alívio dos sintomas relacionados a hiperatividade simpática.
Normalmente após 30 minutos a uma hora de observação, a paciente pode ser liberada para as suas atividades normais no mesmo dia.
Benefícios do bloqueio
Estudos vêm demonstrando que ocorre uma redução significativa nos episódios de fogachos, principalmente em casos severos e resistente a outros tratamentos. Melhora a qualidade de vida da mulher, além de contribuir para uma melhoria no sono e da estabilidade emocional da paciente. É um procedimento minimamente invasivo, rápido, realizado em ambiente ambulatorial e que apresenta raros efeitos colaterais graves como infecção ou lesão nervosa. Os efeitos colaterais mais encontrados são rouquidão ou disfagia transitórias e dor ou desconforto no local da punção.
Indicações
Indicados principalmente para mulheres na menopausa com queixa de fogachos que não podem utilizar a terapia hormonal ou para aquelas pacientes com fogachos graves que são refratários ao tratamento convencional.
O BGE ainda é considerado um tratamento alternativo para as ondas de calor em mulheres na menopausa, devendo ser realizado apenas por profissionais capacitados e treinados, como anestesiologistas ou especialistas em controle da dor.
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Autoria

Gabriela Queiroz
Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Ministério da Educação (MEC) ⦁ Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Centro de Especialização e Treinamento da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (CET/SBA) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) ⦁ Membro da American Academy of Pain Medicine ⦁ Ênfase em cirurgias de trauma e emergência, obstetrícia, plástica estética reconstrutiva e reparadora e procedimentos endoscópicos ⦁ Experiência em trauma e cirurgias de emergência de grande porte, como ortopedia, vascular e neurocirurgia ⦁ Experiência em treinamento acadêmico e liderança de grupos em ambiente cirúrgico hospitalar ⦁ Orientadora acadêmica junto à classe de residentes em Anestesiologia ⦁ Orientadora e auxiliar em palestras regionais e internacionais na área de Anestesiologia.
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