A candidíase é um assunto recorrente na prática clínica, especialmente em consultórios e atendimentos ambulatoriais. Neste vídeo, a ginecologista Lara Hannud e a cardiologista Isabela Abud discutem um caso clínico que ilustra os desafios e considerações no manejo da candidíase em pacientes polimedicados.
Uma paciente do sexo feminino, de 48 anos, retorna à consulta com seu cardiologista apresentando queixa de prurido vaginal e corrimento espesso, branco, semelhante à coalhada, que persiste há três semanas. A paciente nega febre, dor abdominal ou sintomas urinários associados. Seus antecedentes incluem obesidade grau I, diabetes mellitus tipo 2, há 12 anos, e um diagnóstico recente de insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, atualmente em classe funcional II pela New York Heart Association.
As medicações em uso incluem:
· Metformina 850 mg 2x/dia
· Enalapril 20 mg 2x/dia
· Carvedilol 25 mg 2x/dia
· Furosemida 40 mg 1x/dia
· AAS 100 mg 1x/dia
· Atorvastatina 40 mg 1x/dia
· Dapagliflozina 10 mg 1x/dia, iniciada há dois meses, com sintomas vaginais começando cerca de um mês após o início.
Ao exame físico, a paciente apresenta-se em bom estado geral. Foi tratada com clotrimazol 500 mg, via vaginal, dose única.
Diagnóstico e considerações
A candidíase vulvovaginal é a segunda causa mais comum de sintomas de vaginite e está associada a sinais de inflamação vulvovaginal e, nesse caso, pode estar relacionada ao uso de inibidores de SGLT2. O crescimento excessivo de Candida pode ocorrer devido a respostas inflamatórias do hospedeiro e fatores de virulência.
Além disso, o uso de iSGLT2 pode aumentar a incidência de infecções geniturinárias. Essa classe de medicamentos é eficaz para diabetes e insuficiência cardíaca, mas pode facilitar o crescimento de microrganismos patogênicos, aumentando o risco de candidíase.
Fatores de risco
Além do uso de medicações, fatores, como glicosúria devido ao diabetes, idade da paciente e alterações hormonais decorrentes do climatério, aumentam o risco de infecções. A maioria das mulheres terá ao menos um episódio de candidíase ao longo da vida, com 10% a 20% podendo desenvolver casos complicados.
Tratamento da candidíase
O tratamento de primeira linha para infecções por Candida albicans envolve medicamentos antifúngicos da classe dos imidazóis. O clotrimazol, por exemplo, apresenta-se em diferentes formas farmacêuticas e possui um mecanismo de ação eficaz. A terapia geralmente resulta em alívio dos sintomas e culturas negativas em 80% a 90% dos casos.
Abordagem empírica e monitoramento
É importante que as pacientes com sintomas persistentes sejam avaliadas clinicamente. O tratamento empírico pode ser considerado, mas sempre deve haver um monitoramento cuidadoso, especialmente em pacientes em uso de iSGLT2. A informação sobre potenciais efeitos adversos e a promoção de uma higiene adequada são essenciais para a prevenção de infecções.
O manejo de pacientes com diabetes e insuficiência cardíaca que utilizam inibidores de SGLT2 requer uma abordagem colaborativa entre especialistas. A orientação adequada e o monitoramento contínuo são cruciais para minimizar complicações e melhorar a qualidade de vida das pacientes.
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