A grande maioria dos aparelhos de anestesia (AA) possuem acoplados a sua unidade um ventilador mecânico. Esse ventilador é capaz de promover uma ventilação artificial eficiente para aqueles pacientes submetidos a anestesia geral ou que sua condição clínica necessite de um suporte ventilatório. Atualmente, esses ventiladores são bastante modernos e equipados com todo o suporte tecnológico para promover uma ventilação mecânica protetora, além de modos de ventilação diversos como ventilação assistido-controlada (A/C), ventilação modo volume controlada (VCV), pressão controlada (PCV), ventilação com pressão de suporte (PCV), entre outras, dependendo da escolha e do quadro clínico apresentado pelo paciente. Apesar disso, o ventilador mecânico presente nos carrinhos de anestesia diferem-se dos ventiladores utilizados em unidades de terapia intensiva, uma vez que foram projetados para o fornecimento e manutenção da anestesia geral durante um determinado período de tempo e seu circuito permite a reinalação dos gases expirados e seu reaproveitamento.
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Principais diferenças entre os ventiladores:
- Os AA possuem um sistema de absorção de CO2 (SACO2) dos gases expirados com um reservatório de cal sodada que aquecem e umidificam os gases inalados.
- Os AA possuem fluxômetros para controlar o fluxo dos gases administrados que podem ser oxigênio, óxido nitroso e ar comprimido.
- Os AA possuem um reservatório para a colocação de anestésicos halogenados, chamados de vaporizadores.
- Os AA possuem uma bolsa reservatória capaz de promover ventilação manual quando necessário.
- Os AA possuem um circuito de passagem de gases complexo que deve ser limpo e esterilizado regularmente de acordo com as normas do fabricante, pois são fonte de calor e humidade.
- Os AA possuem uma saída de gases que deve ser conectada a um sistema de exaustão para que não contamine o ambiente.
- Os ventiladores dos AA possuem um fole ou pistão responsável pelo fornecimento do volume inspiratório adequado, utilizando oxigênio, o que acarreta um maior consumo do mesmo.
- Os AA possuem uma válvula de escape, denominada pop-off, que auxilia no controle da pressão durante a ventilação manual.
- Não há sistema de umidificação ativa nos AA. Esta é feita pelo sistema absorvedor de CO2.
- O controle da fração de oxigênio inspirado é determinado pela mistura de O2/ar comprimido ou O2/N2O. Esse fluxo deve ser mantido em valores que não alterem o funcionamento do SACO2. Fluxos maiores que 30% do volume minuto são suficientes para diminuir a sua função.
- Uso de filtro bacteriano deve ser sempre utilizado entre o tubo e o “Y” do sistema ventilatório para evitar contaminação e manter a umidade e temperatura adequada dos gases.
- O uso da capnografia é essencial para o controle do bom funcionamento do SACO2, uma vez que se consegue identificar precocemente a reinalação de CO2 pela curva de capnografia. Reinalação acima de 5 mmHg é suficientes para a realizar a troca da cal sodada.
- Sempre deve se ter a mão um ressuscitador manual, caso haja falha do AA.
Em algumas situações , onde não há disponível quantidade suficiente de ventiladores mecânicos próprios para a terapia intensiva ou disponibilidade de vaga em unidade fechada em pacientes pós-operatórios, faz-se necessário, em caráter excepcional, particular e emergencial o o uso de AA para a manutenção de ventilação artificial em pacientes de terapia intensiva.
Devido as grandes diferenças entre os módulos alguns cuidados devem ser tomados:
- Treinamento do pessoal que irá manusear o AA fora do centro cirúrgico.
- Presença obrigatória de um reanimador manual disponível para cada AA.
- A alimentação do N2O deve estar desligada.
- Os vaporizadores devem ser retirados ou esvaziados.
- O uso de um filtro bacteriano (FBV) do tipo trocador de calor e umidade é obrigatório e deve ser colocado entre o tubo e a conexão em “Y” do sistema. Os filtros devem ser inspecionados com frequência e trocados quando houver aumento da secretividade.
- Não utilizar sistema de umidificação ativa por meio de umidificadores.
- Sempre utilizar capnógrafo a fim de evidenciar reinalação precoce.
- Nunca utilizar FGF acima de 30-50% do volume minuto, pois altos fluxos incapacitam o funcionamento da cal sodada.
- Observar aumento do consumo de oxigênio.
- Permanecer o menor tempo possível com o ventilador do AA. Assim que possível realizar a troca para um ventilador apropriado a terapia intensiva.
A Sociedade Brasileira de Anestesiologia não recomenda o uso do ventilador de aparelhos de anestesia regularmente, como sistema de ventilação mecânica em terapia intensiva.
Referências bibliográficas:
- Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Uso do Ventilador do Aparelho de Anestesia como Ventilador em Terapia Intensiva. C. SBA – 1762/2020.03 junho 2020.
- Carraretto AR, Almeida CED. Aparelho de Anestesia. In: Manica J. Anestesiologia, 4ª ed., cap. 29,p. 413-46. Porto Alegre: Artmed, 2018.
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