A controvérsia de soluções na reposição volêmica é antiga na Medicina Intensiva. E esta terapia pode influenciar o desfecho de pacientes com sepse, que são os que mais precisam de ressuscitação hemodinâmica rápida, porque “tempo é tecido”. Os dois tipos de líquidos usados são cristaloides (soro fisiológico, Ringer lactato, outras soluções balanceadas) e coloides (albumina, amidos e gelatinas). Por conta de efeitos colaterais como alergia e disfunção renal aguda, gelatina e amidos foram proscritos, ficando apenas soluções de albumina como a opção de coloide.
Cristalides são mais baratos, causam menos alergias e são universais nos serviços de saúde, no entanto precisa-se de maior volume de administração para recuperar a pressão arterial e a perfusão. A albumina exógena é mais cara e é um hemoderivado ultra purificado industrialmente, sendo menos disponível nos serviços, mas é provável que a recuperação da perfusão ocorra com menores volumes com menor edema e sobrecarga hídrica.
Vários estudos originais e revisões sistemáticas foram realizadas desde a década de 1990, e os resultados são diversos, desde o benefício da albumina até aumento de mortalidade. O fato é que a tendência foi de misturar todos os pacientes em UTI e apontar o efeito da albumina em relação a outras soluções, sejam cristaloides ou coloides: não houve consenso. Os pacientes críticos são heterogêneos e é difícil pesar o efeito apenas da reposição volêmica nos tratamentos de doenças complexas.
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Objetivos e Metodologia
Os autores revisaram estudos clínicos randomizados e controlados desde 1983 até 2022, em três bases de dados: EMBASE, PubMed, Cochrane Library. Os autores dividiram os estudos em pacientes gerais de UTI, ou com sepse ou com choque séptico; a ideia foi estratificar o possível efeito da albumina em diferentes espectros de gravidade. Também analisaram subgrupos, como idosos versus não-idosos, tipos diferentes de preparo de albumina, comparação entre albumina e cristaloides ou albumina e outros coloides, e finalmente a dose de albumina administrada. Esta metodologia foi original em relação às outras revisões sistemáticas. O desfecho principal foi a mortalidade hospitalar, e secundariamente mortalidade em 28 ou 90 dias.
Resultados
Selecionou-se 24 estudos randomizados controlados (sendo 23 publicados como artigos completos e 1 como resumo de congresso), com população total de 10.876 pacientes. O risco de vieses de seleção, de alocação, de desfechos e cegamento foi baixo em geral, embora somente 5 estudos ficaram totalmente livres de qualquer viés.
De modo geral, o uso de albumina não alterou a mortalidade, com risco relativo (RR) em torno de 1,02. A heterogeneidade entre estudos foi baixa (8%), o que corrobora o achado de não significância do resultado. Esta semelhança de desfecho entre grupo com albumina e grupos de outras soluções foram observadas para todos os desfechos secundários e subgrupos pré-selecionados. Nos estudos com doentes com sepse (12), os resultados se mantiveram sem diferença significativa.
Mas nos estudos que separam pacientes somente com choque séptico (14), a coisa muda de perspectiva: solução de albumina a 20% (frasco), doses maiores que 0,5 g por quilo, efeitos em idosos e estudos que comparam albumina versus cristaloides – todos estes subgrupos se beneficiaram de albumina, com diferença de cerca de 9% a 11% de redução relativa de mortalidade hospitalar. A heterogeneidade entre os estudos foi quase nula em geral para estudos com choque séptico.
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Mensagens para o dia a dia
- Albumina tem efeitos semelhantes a outras soluções de reposição volêmica no desfecho mortalidade hospitalar, quando a análise é para pacientes críticos em geral e em pacientes com sepse;
- Parece haver influência para melhores desfechos com albumina para a população com choque séptico: gravidade do choque, em idosos, com preparo ou dose diferenciada de albumina;
- A controvérsia se mantém, com a necessidade de selecionar a população mais grave com choque séptico, na qual soluções mais concentradas e maiores doses de albumina podem ser benéficas.
Autoria

André Japiassú
Doutor em Ciências pela Fiocruz. Mestre em Clínica Médica pela UFRJ. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Residência Médica em Medicina Intensiva pela UFRJ. Médico graduado pela UFRJ.
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