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Terapia Intensiva17 setembro 2025

Relação entre pressão arterial média e desfechos neurológicos após PCR

Estudo investigou a relação entre pressão arterial média (MAP) e os desfechos neurológicos de pacientes após parada cardíaca
Por Hiago Bastos

O artigo Optimal mean arterial pressure for favorable neurological outcomes in patients after cardiac arrest (Lee et al., 2025) apresenta uma contribuição relevante para a terapia intensiva ao investigar a relação entre pressão arterial média (MAP) e os desfechos neurológicos de pacientes após parada cardíaca. A pesquisa parte de uma questão central: embora a American Heart Association recomende manter a MAP acima de 65 mmHg no período pós-ressuscitação, evidências recentes sugerem que esse valor pode ser insuficiente para garantir adequada perfusão cerebral, sendo fundamental a definição de um intervalo ótimo que maximize a recuperação neurológica. 

Nesse sentido, o artigo trata-se de um estudo observacional retrospectivo, realizado em um hospital terciário da Coreia do Sul, incluindo 291 pacientes entre os anos de 2017 e 2020. Nessa análise, foram excluídos casos de parada cardíaca traumática, pacientes com morte precoce e aqueles com suporte circulatório mecânico. Sob essa perspectiva, todos os pacientes foram submetidos a protocolos padronizados de cuidados pós-parada, incluindo o manejo de temperatura e pressão arterial. Para análise dessas estratégias, foi utilizado modelos de machine learning, dos quais o Random Forest mostrou melhor acurácia (90,7%, AUC 0,932), sendo utilizado como modelo principal. Além dela, técnicas para melhor interpretação também foram implementadas, como SHAP e LIME, as quais identificam a importância das variáveis e compreendem o impacto individual da MAP nos resultados. 

Resultados

Sob esse viés, os resultados mostraram que 37,5% dos pacientes conseguiram um bom desfecho neurológico e variáveis como ritmo inicial chocável, menor duração da reanimação cardiopulmonar e idade mais jovem estiveram fortemente associadas a melhores prognósticos. Em relação à MAP, valores medidos nas primeiras 6h após retorno da circulação espontânea, tiveram maior relevância para os desfechos do que os valores posteriores. A análise com SHAP revelou uma relação em “U invertido, indicando que tanto a hipotensão quanto a hipertensão são prejudiciais. O ponto ótimo, nesse sentido, foi de aproximadamente de 80 mmHg, consistente ao longo das primeiras 24h. Dessa maneira, casos clínicos ilustrados pelos modelos explicativos evidenciaram que a manutenção da MAP elevada no período inicial pode até compensar fatores comumente desfavoráveis, como idade avançada ou ritmo não chocável. 

Outrossim, os autores relacionam seus achados e estudos prévios que já sugeriam benefícios de níveis mais altos de pressão arterial após parada cardíaca. A exemplo, evidencias de Roberts et al. e Kilgannon et al. apontam que pressões elevadas nas primeiras horas pós-ROSC estão associadas a melhor recuperação neurológica. A análise também confirma resultados de revisões sistemáticas que defendem alvos entre 80 e 100 mmHg. 

Entretanto, os autores destacam divergências com ensaios clínicos randomizados, que mostraram diferenças significativas entre alvos pressóricos distintos. Os autores consideram que essa discrepância é explicada pelas limitações metodológicas, atraso na intervenção e diferenças modestas nos níveis de MAP atingido entre grupos. Desse modo, defendem que o momento precoce do manejo hemodinâmico é fundamental, sobretudo nas primeiras horas críticas. 

Embora o fator analítico do artigo seja robusto e os autores tenham utilizado ferramentas de inteligência artificial explicável, ele apresenta diversas limitações, como seu caráter retrospectivo, ausência de seguimento em longo prazo e o fato de a MAP ser apenas um marcador indireto de perfusão cerebral, sendo incapaz de refletir seguramente variações individuais da autorregularão cerebral. Ainda assim, a pesquisa desenvolvia reforça a necessidade de ensaios multicêntricos prospectivos que validem incisivamente a adoção de novos alvos pressóricos no cuidado pós parada. 

Conclusão

Portanto, o trabalho conclui que manter a pressão arterial média em torno de 80 mmHg durante o período pós-ressuscitação esta associado a melhores desfechos neurológicos, principalmente nas primeiras horas após o evento. Essa constatação tem forte impacto clínico, o que sugere a revisão das atuais recomendações internacionais e a incorporação de estratégias, mas agressivas e individualizadas de manejo hemodinâmico. Além disso, a utilização de técnicas de Machine Learning interpretáveis se mostra promissora, pois oferece subsídios para a tomada de decisão em situações críticas vivenciadas no cuidado intensivo ao paciente grave. 

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Referências bibliográficas

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