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Terapia Intensiva3 setembro 2015

Por que não falamos de espiritualidade no CTI?

A população brasileira é religiosa. Sendo considerado um dos países com mais católicos do mundo. Porém, apesar de todo esta importância social que a religião possui na vida das pessoas, ainda há um afastamento entre médicos e pacientes, e seus familiares, quando o tema é a espiritualidade. Mesmo em famílias abertamente religiosas, a abordagem da …

Por Bruno Lagoeiro

250-BANNER4A população brasileira é religiosa. Sendo considerado um dos países com mais católicos do mundo. Porém, apesar de todo esta importância social que a religião possui na vida das pessoas, ainda há um afastamento entre médicos e pacientes, e seus familiares, quando o tema é a espiritualidade.

Mesmo em famílias abertamente religiosas, a abordagem da espiritualidade é debatida entre médicos e família apenas em 16% dos casos. Este é um dado de um estudo publicado no JAMA no fim de agosto, e que foi coletado em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos EUA.

Trata-se de uma coorte multicêntrica prospectiva, realizada entre 2009 e 2012, em 13 diferentes UTIs. A análise foi feita através da transcrição de 250 tomadas de decisão em conjunto entre 441 profissionais de saúde e 651 familiares responsáveis pelas decisões do paciente. Os familiares tiveram que responder a um questionário, e apesar de 76% deles ter dito que a religião ou espiritualidade era algo muito significativo em sua família, apenas em 16% das conversas médicas o assunto foi abordado. Na maior parte das vezes os familiares tocaram no tema, o que seria o esperado por respeito a privacidade do profissional de saúde as escolhas espirituais da família.

Em apenas 30% das vezes em que o tema foi abordado, os profissionais de saúde tentaram entender um pouco mais sobre as crenças do paciente. E somente 3 casos os médicos tomaram iniciativa de perguntar para família sobre as crenças do paciente.

Estudos anteriores, demonstraram que pacientes que debatiam a visão religiosa durante o tratamento sentiam-se mais satisfeitos com o atendimento e conduta de seus médicos. Já apresentamos neste Blog o quanto a satisfação do paciente faz diferença no tratamento do paciente.

O estudo demonstrou que os médicos ainda possuem uma restrição filosófica como justificativa para afastar religião de medicina. Ao mesmo tempo questiona-se também até onde este posicionamento, parte da antiga antítese entre Religião e Ciência, não faz com que as família sintam-se pouco a vontade de expor algo que é significativo para eles e para o familiar que está internado.

A compreensão e o respeito são parte do relacionamento de confiança construído em médicos e familiares. Sabemos que muitas vezes esta é uma relação complicada, e justamente por isso o entendimento dos valores familiares por parte da equipe de saúde pode ser fundamental para uma boa relação. O sofrimento familiar durante uma internação de UTI, o desgaste e a gravidade do caso, pode ser tratado muitas vezes com uma palavra bem colocada pelo médico durante a conversa de definição do caso. Dar um maior conforto para família de um paciente, principalmente quando estamos frente a um caso incurável, é um maiores atos de humanidade que qualquer médico pode promover.

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Referências:

Health Care Professionals’ Responses to Religious or Spiritual Statements by Surrogate Decision Makers During Goals-of-Care Discussions. –  Natalie C. Ernecoff, MPH1; Farr A. Curlin, MD2,3; Praewpannarai Buddadhumaruk, RN, MS1; Douglas B. White, MD, MAS1 – JAMA Intern Med. Published online August 31, 2015. doi:10.1001/jamainternmed.2015.4124

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