A sepse é uma importante causa global de óbitos entre crianças, sendo responsável por mais de 3 milhões de mortes anuais, sobretudo entre países subdesenvolvidos, de forma que a sua melhor compreensão tende a auxiliar nas medidas de mitigação.
A literatura médica tem apontado, de forma consistente, o sexo masculino como um fator de risco para a sepse pediátrica, sendo um dos fatores biológicos aventados uma resposta de células T CD4+ mais exuberante entre meninas, mas há enorme lacuna em relação ao desfecho bruto de mortalidade.
Uma revisão sistemática e meta-análise — publicada em março de 2025 no periódico Critical Care Explorations — teve por objetivo verificar possíveis diferenças, relativas ao sexo, na mortalidade global por sepse pediátrica em 28-30 dias.
Foram incluídos estudos controlados randomizados (<0,1%), coortes prospectivas (6,6%) e coortes retrospectivas (93,2%) publicados entre 2005 e 2022, extraídos das bases de dados Medline e Embase e que contemplassem dados sobre sepse/sepse grave/choque séptico e mortalidade, limitando-se à faixa etária abaixo dos 18 anos.
Um importante fator de exclusão foi a sepse neonatal.
A amostra foi constituída por 426.163 pacientes (53% do sexo masculino) oriundos de 124 estudos, sendo as principais comorbidades as doenças neuromusculares (7,8%), oncológicas (6,3%), cardiovasculares (4%), renais (3,7%) e hematológicas (2,4%), .
Observou-se que a mortalidade entre os indivíduos do sexo masculino superou a do sexo feminino em 0,5% (IC 95%: 0,001 a 0,99, P = 0,049): 10,8% vs. 10,5%, uma diferença sutil, com intervalo de confiança muito amplo e no limiar da significância estatística.
As principais limitações do estudo foram a restrição de trabalhos em língua inglesa; a origem retrospectiva da maioria dos dados; a inclusão de uma definição desatualizada no contexto da sepse (“sepse grave”); e a constituição majoritária da amostra (96%) de países desenvolvidos, em uma clara sub-representação dos países pobres e que albergam 85% de toda a casuística e mortalidade atribuída à sepse pediátrica.
Saiba mais: Critérios atualizados para sepse e choque séptico em crianças

Mudanças na prática
- O sexo masculino é um fator possivelmente associado ao aumento de risco de óbito por sepse pediátrica. Entretanto, o tamanho do efeito é muito modesto. De toda forma, são importantes novos estudos para o melhor entendimento dos possíveis motivos subjacentes. Os dados apontados não podem, em absoluto, ser generalizados à população brasileira, tendo em vista que foram oriundos, quase que exclusivamente, de países desenvolvidos.
Autoria

Jandrei Rogério Markus
Médico Graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Residência Médica em Pediatria e Infectologia Pediátrica pela UFPR. Especialização em Dermatologia Pediatria - pela UFPR. Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente com área na Infectologia Pediátrica. Doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente com área na Dermatologia Pediátrica. Pós-graduado em Controle de Infecções Hospitalar pelo Centro Universitário do Vale da Ribeira. Atuando como médico_ infectologista pediátrico no Hospital e Maternidade Dona Regina (HMDR) e do Hospital Geral Público de Palmas (HGPP). Médico do Serviço de Controle de Infecções da UTI Neonatal do HMDR, UTI Pediátrica do HGPP e da UTI adulto do HGPP. Professor de Pediatria da Afya Faculdade de Ciências Médicas - Porto Nacional-TO. Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Pediátrica. Presidente do Departamento Cientifico de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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