Eventos adversos (EAs) são danos não intencionais resultantes do cuidado em saúde e pacientes críticos estão particularmente suscetíveis devido à natureza invasiva e complexa da assistência em terapia intensiva. Estima-se que até 25% dos pacientes internados em UTI sofram algum EA durante a internação.
A detecção precoce desses eventos é essencial para estratégias de melhoria da qualidade (QI) e segurança do paciente. No entanto, há grande heterogeneidade nos métodos utilizados e ausência de padronização na definição e classificação dos eventos e seus danos.

Os cinco principais métodos de Eventos Adversos
Abaixo um resumo dos cinco principais métodos que podem ser utilizados como ferramentas de detecção de EAs em unidades de terapia intensiva e como podemos implementá-los:
1. Incident Reporting (IR) – Notificação de Incidentes
Como funciona: Profissionais relatam eventos em sistema eletrônico ou formulário. Pode ser anônimo.
Exemplos: Médico preenche formulário após perceber extubação acidental durante mudança de decúbito / enfermeiro notifica erro de dose de sedativo detectado após administração.
Tipos de EA detectados com maior frequência: erros de medicação, remoções acidentais, quedas e falhas de comunicação.
O que fazer para implementar:
– Criar ambiente sem punição.
– Dar feedback aos notificadores.
– Simplificar o formulário.
2. Trigger Tools (TT) – Ferramentas de Gatilho
Como funciona: Revisão retrospectiva automatizada ou manual em busca de sinais indiretos de eventos.
Exemplos: Sistema detecta uso de naloxona → gatilho para possível overdose de opioide/ análise identifica queda de hemoglobina após transfusão → possível reação transfusional.
Tipos de EA detectados com maior frequência: eventos relacionados a medicamentos, reações adversas, infecções relacionadas à assistência.
O que fazer para implementar:
– Atualizar gatilhos conforme protocolos.
– Associar revisão clínica para confirmar EA.
– Automatizar quando possível.
3. Trained Observation (TO) – Observação Direta por Profissionais Treinados
Como funciona: Observadores treinados acompanham a assistência em tempo real, registrando incidentes ou quase-erros.
Exemplos: Farmacêutico observa preparo incorreto de noradrenalina antes da administração /aluno de enfermagem nota falta de checagem cruzada antes da transfusão e registra como quase-erro.
Tipos de EA detectados com maior frequência: erros de medicação, procedimentos incorretos, falhas de barreiras de segurança.
O que fazer para implementar:
– Treinar observadores multiprofissionais.
– Variar horários de observação.
– Fazer auditorias aleatórias para minimizar viés.
4. Structured Review (SR) – Revisão Estruturada de Casos
Como funciona: Revisões detalhadas feitas por especialistas, comitês de segurança ou reuniões de morbimortalidade.
Exemplos: Equipe revisa caso de choque refratário e identifica atraso na administração de antibiótico como causa provável/ revisão de prontuário revela falha em ajuste de PEEP associada a barotrauma.
Tipos de EA detectados com maior frequência: erros de decisão clínica, atraso terapêutico, falhas no processo assistencial.
O que fazer para implementar:
– Criar comitês multidisciplinares.
– Padronizar ferramentas de análise (ex.: matriz de causa raiz).
– Discutir resultados em reuniões regulares.
5. Métodos Mistos – Estratégias Combinadas
Como funciona: Integra diferentes abordagens para maior sensibilidade e precisão
Exemplos: Unidade utiliza IR para eventos imediatos, TT automatizado semanalmente e SR mensal para casos complexos. Observação direta é feita em semanas aleatórias para validar dados do IR.
Tipos de EA detectados com maior frequência: Todos os tipos de EA, quase-erros, eventos não reconhecidos inicialmente.
O que fazer para implementar:
– Planejar integração dos métodos.
– Criar painel com indicadores combinados.
– Revisar periodicamente os dados e ações resultantes.
Conclusões
Nenhum método isolado é suficiente para detectar de forma abrangente os eventos adversos em UTI. A combinação de estratégias — IR e TT como base contínua, complementadas por revisões estruturadas e observações ocasionais — parece oferecer o melhor equilíbrio entre sensibilidade e viabilidade operacional.
É essencial padronizar definições, escalas de dano e indicadores de desempenho para possibilitar comparações e avanços em segurança do paciente crítico.
O foco deve evoluir de mera detecção para implementação sistemática de melhoria de qualidade com feedback à equipe e fechamento do ciclo de aprendizado.
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