A sepse continua sendo uma das principais causas de morte em pacientes graves. Reconhecê-la cedo faz toda a diferença, mas nem sempre é simples: febre, taquicardia e alterações laboratoriais podem estar presentes em várias situações. É nesse ponto que a inteligência artificial (IA) começa a ganhar espaço. Usando dados que já coletamos na UTI, como pressão arterial, frequência cardíaca, resultados de exames e evolução clínica, os algoritmos conseguem identificar padrões sutis e avisar que aquele paciente pode estar entrando em sepse, muitas vezes antes do médico suspeitar. Isso significa ganhar horas preciosas para iniciar antibiótico e medidas de suporte, algo que pode mudar completamente o desfecho.
Evidências até o momento
Os estudos mostram que a inteligência artificial consegue identificar sepse mais cedo do que os escores que usamos no dia a dia, como SIRS, qSOFA e SOFA. Em algumas pesquisas, os algoritmos chegaram a prever a sepse com várias horas de antecedência, o que na prática pode significar iniciar antibiótico e suporte hemodinâmico mais cedo.
Já existem sistemas testados em hospitais, como o TREWS nos Estados Unidos, que mostraram redução do tempo para início de antibiótico em até duas horas, com impacto positivo em mortalidade. Outro exemplo é o InSight, também validado em grandes bases de pacientes críticos.
Os modelos mais avançados usam técnicas que analisam a evolução dos sinais vitais ao longo do tempo. Isso permite perceber pequenas mudanças que o médico pode não notar no momento, mas que juntas indicam risco de sepse.
Na prática, isso mostra que a inteligência artificial pode ser um apoio importante para a equipe de saúde, funcionando como um alarme que chama atenção para o paciente que está piorando, sem substituir o julgamento clínico.
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Incertezas
Ainda não está claro se a inteligência artificial realmente reduz mortalidade em larga escala, pois a maioria dos estudos é observacional. Muitos modelos funcionam bem no hospital onde foram criados, mas perdem desempenho quando aplicados em outros cenários. Também falta entender como integrar esses sistemas ao dia a dia da UTI sem gerar excesso de alarmes e cansaço na equipe. Questões éticas, como privacidade dos dados e responsabilidade em caso de erro, também continuam em aberto.
Mensagem Prática
- A sepse precisa ser reconhecida cedo, e a inteligência artificial pode ajudar nisso.
- Os sistemas analisam sinais vitais e exames em tempo real e conseguem antecipar o diagnóstico.
- Ainda não substituem o olhar clínico: funcionam como um alarme de apoio.
- O benefício maior pode estar em ganhar horas para iniciar antibiótico e suporte.
- Na prática, esses sistemas ainda estão restritos a poucos hospitais e precisam de mais validação para serem aplicados em larga escala.
Autoria

Yuri Albuquerque
Doutorando em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP) • Residência em Medicina Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) • Residência em Clínica Médica ano complementar (R3) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) • Residência em Clínica Médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) • Médico intensivista rotina do hospital Samaritano Paulista • Título de Especialista em ECMO pela Extracorporeal Life Support Organization (ELSO) • Título de Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)
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