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Terapia Intensiva31 julho 2025

Infecção fúngica invasiva atinge 5% dos pacientes em UTI

Meta-análise global mostra prevalência de 5% de infecção fúngica invasiva em UTIs, com taxas maiores em países de baixa renda.
Por André Japiassú

As infecções fúngicas estão mais comuns na população de pacientes graves em UTI, com aumento significativo nos últimos 30 anos. A prevalência chega até 20% das infecções por fungos, segundo o estudo EPIC III (Vincent et al, JAMA 2017). 

No entanto, a maior parte dos estudos reporta infecções fúngicas invasivas em pacientes imunossuprimidos, com câncer hematológico, transplantes ou AIDS. Pacientes com risco de infecções fúngicas são mais idosos, com diabetes, uso de corticoides e DPOC, e são cada vez mais comuns nas UTIs. Mas a taxa de infecções fúngicas na população geral de UTI é variável, com chance alta de desfechos ruins. Outro aspecto que influencia a real prevalência destas infecções em UTI é a disponibilidade de exames diagnósticos, como a galactomanana em pacientes com aspergilose. Centros urbanos de referência e em países mais ricos devem ter maior facilidade de medir a prevalência de infecções fúngicas invasivas. Sendo assim, esta revisão sistemática levanta a prevalência de infecções fúngicas invasivas em UTIs ao redor do mundo, com o objetivo de estimar a prevalência, mostrando a variação que possa existir a nível regional e de metodologia de diagnósticos. Os autores excluíram crianças e pacientes com Covid-19 (que já têm reconhecidamente maior chance de aspergilose). Estudos encontrados nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Cochrane Library até 2024 foram incluídos. 

Resultados: 

De mais de 2800 referências, os autores revisaram 134 artigos e ficaram com 34 deles para realizar a revisão e meta-análise. A maior parte dos estudos foram observacionais prospectivos (12) e de coorte (20); apenas 1 estudo foi de caso-controle. Embora tenhamos estudos de quase todos os continentes (exceto África), a maioria são de países ricos da América do Norte e da Europa. O tamanho amostral variou de 53 até mais de 246 mil pacientes, já demonstrando como eram heterogêneos. Outro aspecto relevante é que 10 estudos (quase um terço) tiveram o patrocínio de uma empresa farmacêutica produtora de antifúngicos. 

O total de pacientes nos 34 artigos foi de 655.169; a idade média dos pacientes foi de 50 anos, de maioria masculina (61%), com presença variável de comorbidades (diabetes, hipertensão e pneumopatias). A prevalência geral de IFI foi de 5% (intervalo de confiança 95% entre 3 e 7%), com alta heterogeneidade entre os estudos. Ao contrário do que se pensa, a maior prevalência ocorre no grupo de países mais pobres, principalmente na América do Sul; países europeus tiveram taxas de prevalência relativamente baixas. Aspergillus spp. e Candida spp. foram os patógenos mais frequentes, respondendo por 10% e 3% das IFIs, respectivamente. Um fato que chama a atenção é que o senso comum é de que a candidíase seria a infecção mais comum, mas não foi demonstrado: a infecção fúngica invasiva mais comum foi a aspergilose. A prevalência regional variou, sendo maior em países de baixa e média renda (21%) em comparação com países de alta renda (3%). Fatores como idade avançada, comorbidades (diabetes mellitus e neoplasias) e uso prévio de corticosteroides foram características comuns dos pacientes com IFI. Os locais mais comuns de infecção foram respiratórios, sanguíneos e intra-abdominais; os dois primeiros sítios são comuns em apresentações de Aspergillus, enquanto fungemia e infecções intra-abdominais são mais comuns em candidíase. Os antifúngicos mais utilizados incluíram fluconazol (13 estudos), voriconazol (11), caspofungina (8) e anfotericina B (12). A mortalidade hospitalar variou muito, de 16% a 82%, e a mortalidade na UTI de 13% a 100%. 

Mensagens para o dia-a-dia: 

A prevalência de infecções fúngicas invasivas gira em torno de 5% dos pacientes em UTI, variável entre países ricos (menor taxa) e de menor renda (maior taxa); 

Aspergillus sp é o fungo mais comum nas infecções invasivas, seguido da Candida sp; 

O tratamento é realizado com vários antifúngicos, inclusive mais modernos e com menor toxicidade, mas a mortalidade permanece elevada. 

Leia mais: Infecção fúngica invasiva: conceitos básicos sobre diagnóstico

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Referências bibliográficas

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