O congresso EUROBRAZIL, evento colaborativo entre a AMIB e a ESICM, ocorreu nos dias 25 e 26, em São Paulo, e discutiu temas importantes na medicina intensiva. Nas sessões sobre nefrologia e seus desafios nos pacientes críticos, o Dr. Eric Hoste, da Bélgica, falou sobre a fisiopatologia da lesão renal aguda (LRA) e estratégias para sua detecção precoce.
A LRA é um ponto final comum a diversas etiologias, incluindo cirurgias cardíacas, choque séptico e doenças trombóticas e microangiopatias.
Processos celulares como disfunção mitocondrial e alterações circulatórias macro e microvasculares contribuem para o aumento da creatinina e diminuição do débito urinário, além da congestão venosa que também desempenha papel importante na fisiopatologia da LRA.
Dentre os pacientes sépticos, por exemplo, nem todos desenvolvem LRA. Fatores como comorbidades (diabetes, doenças cardiovasculares crônicas), estilo de vida (tabagismo), fonte da infecção (culturas sanguíneas positivas) e opções terapêuticas empregadas (ventilação mecânica e drogas vasoativas) influenciam a suscetibilidade. A sepse pode causar dano renal direto e por fatores secundários como drogas nefrotóxicas e sobrecarga hídrica.
Atualmente, não existem terapias eficazes para prevenir LRA induzida pela sepse, mas alguns tratamentos promissores como a Ilofotase-alfa, uma fosfatase alcalina recombinante que atenua a resposta inflamatória, mostraram sucesso em reduzir a incidência de LRA em pacientes sépticos de alto risco.
Já nos pacientes cirúrgicos, alguns pontos relevantes foram destacados:
- Uso crônico de inibidores da ECA durante cirurgia pode levar a hipotensão e maior risco de LRA, porém estudo recente randomizado mostrou que continuar ou suspender esses medicamentos não alterou a incidência de LRA ou necessidade de terapia renal.
- A pressão arterial durante a cirurgia é crítica e episódios de pressão arterial média (PAM) abaixo de 60 mmHg estão associados a maior risco de LRA pós-operatória.
- Estratégias individualizadas de manutenção da pressão arterial, ajustadas ao estado pré-operatório do paciente (hipertenso ou normotenso), são mais eficazes para prevenir LRA do que abordagens padronizadas.
- Terapia volêmica restritiva, anteriormente adotada para prevenir LRA, mostrou resultados piores em estudos recentes, com maior incidência de infecções e LRA, indicando que uma terapia volêmica balanceada é preferível.
- Uso de terapia de substituição renal contínua (CRT) durante cirurgia mostrou redução na incidência de LRA, porém sem impacto em desfechos clínicos importantes, levantando dúvidas sobre a real eficácia.
EUROBRAZIL 2025: Confira os destaques do congresso!
Detecção Precoce e Biomarcadores
A detecção precoce e precisa da LRA deve combinar biomarcadores funcionais e estruturais, avaliação da filtração e informações clínicas como idade, comorbidades e eventos perioperatórios.
O futuro está na integração desses dados em modelos preditivos complexos, que podem superar a capacidade humana de análise isolada. A inteligência artificial e ferramentas computacionais são vistas como essenciais para desenvolver scores de risco precisos e personalizados.
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