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Terapia Intensiva20 setembro 2020

Covid-19: Quais os fatores de risco para retorno ao hospital de pacientes com sintomas leves?

A principal orientação para casos leves de Covid-19 desde o início da pandemia é enviar para casa para cumprir o isolamento.

Por Clara Barreto

A principal orientação para casos leves de Covid-19 desde o início da pandemia era enviar para casa para cumprir o isolamento, já que havia grande preocupação com a ocupação dos hospitais para os casos moderados a grave. Porém, alguns pacientes apresentam uma descompensação do quadro ou até agravamento alguns dias após os primeiros sintomas.

Até o momento, porém, não existem dados que indiquem o risco de pacientes leves retornarem ao hospital com complicações. Por isso, um estudo recente avaliou a incidência de retorno ao hospital em 72 horas por pacientes com Covid-19 que receberam alta na apresentação inicial, nos Estados Unidos. Também foram avaliadas as características desses indivíduos.

médico anotando informações de paciente com Covid-19

Retorno à emergência com Covid-19

O estudo de coorte retrospectivo avaliou pacientes adultos de cinco emergências diferentes na Pensilvânia e Nova Jersey. Foram utilizados dados de registros eletrônicos de 1º de março a 28 de maio de 2020 de indivíduos com confirmação laboratorial de Covid-19 em até sete dias antes ou depois da ida ao pronto-socorro.

Foram excluídos pacientes que não tinham sinais vitais registrados e aqueles com menos de 18 anos. Para pacientes com mais de uma ida ao hospital, foi considerado o primeiro registro. O desfecho primário foi a internação ou observação do paciente em até 72 horas após a ida à emergência. Além do desfecho, também foi avaliado se os indivíduos retornaram até sete dias após a alta.

Leia também: Coagulopatia na infecção por coronavírus: um fator de mau prognóstico

Foram incluídos como fatores de risco para doença grave por Covid-19, disponíveis na literatura: idade do paciente, sexo e raça/etnia, bem como a presença ou ausência de hipertensão, diabetes e obesidade (índice de massa corporal ≥ 30 kg/m2); além de achados da radiografia de tórax. Os autores também usaram informações de sinais vitais para avaliar o risco: febre (temperatura > 38 ºC), hipóxia (oximetria de pulso inferior a 95% em ar ambiente) e taquicardia (frequência de pulso> 100 batimentos por minuto).

Resultados

A coorte incluiu 1.419 pacientes: 66 deles (4,7%; IC95% 3,6 a 5,7) retornaram ao hospital em até 72 horas e precisaram de internação ou observação, definido como admissão de retorno. Outras 56 (3,9%) pessoas voltaram à emergência nesse mesmo período, mas tiveram alta novamente.

Após ajuste, os riscos foram:

  • Pacientes com idade >60 anos (AOR 4,6; IC 95% 2,2 a 9,5) tiveram significativamente mais chances de necessitarem de internação ou observação após 72 horas da primeira ida ao hospital que aqueles entre 18-39 anos (9% ,IC95% 5,5-12,5 versus 2,6%, IC95% 1,2 – 4,0);
  • Pessoas com hipóxia tiveram mais chances de admissão de retorno (AOR 2,9; IC 95% 1,2 a 7,2) do que aqueles que tinham oxigenação normal;
  • Febre (AOR 2,4; IC 95% 1,3 a 4,5) também foi um fator de risco para admissão de retorno, quando comparado com pacientes afebris;
  • Pacientes com alterações na radiografia de tórax também tiveram mais chances de necessitarem de observação ou internação (AOR 2,4; IC 95% 1,5 a 3,7) do que aqueles que tinham o exame normal ou não realizaram o mesmo.

Cento e dezessete pacientes retornaram ao hospital para internação após sete dias (8,2%; IC95% 6,8 a 9,6), com resultados com a mesma significância estatística que aqueles do desfecho primário. Uma diferença foi encontrada em relação a outros fatores, que foram mais significativos para retorno após sete dias do que para o desfecho primário: hipertensão (AOR 1,5; IC 95% 1,1 a 2,0), obesidade (AOR 1,5; IC 95% 1,1 a 2,0) e idade entre 41-59 anos (AOR 2,1; IC 95% 1,6 a 2,8).

Conclusões

Cerca de 5% dos pacientes precisaram de internação ou observação após 72 horas da primeira ida ao hospital. A taxa geral de readmissão foi o dobro da relatada pré-pandemia, e os pacientes idosos (> 60 anos) tiveram uma taxa ainda maior, assim como aqueles que se apresentaram na primeira vez com febre ou hipóxia.

O estudo ajuda a pensar na melhor abordagem para aqueles pacientes com os fatores de risco mais significativos. Mesmo que não seja necessária a internação desse paciente na primeira ida à emergência, pode ser importante um acompanhamento mais próximo, mesmo que à distância, e informá-lo da probabilidade de retorno ao hospital.

Apesar disso, vale lembrar que o estudo foi uma coorte pequena, em poucos centros. Outra limitação importante é o fato de que alguns pacientes não recebem o diagnóstico de Covid-19 na primeira ida à emergência, por isso não foram considerados, assim como aqueles podem ter tido resultados falso-negativos.

Mais estudos são necessários para ajudar a prever a gravidade dos pacientes e evitar complicações.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referência bibliográfica:

  • Kilaru AS, et al. Return Hospital Admissions Among 1419 Covid‐19 Patients Discharged from Five US Emergency Departments. Academic Emergency Medicine. 27 August 2020 https://doi.org/10.1111/acem.14117

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