O Brasil enfrenta um cenário de emergências com recursos limitados, especialmente em unidades de trauma que atendem grandes populações. O país possui uma alta incidência de trauma, com até três vezes mais casos que países desenvolvidos, e uma mortalidade que vem diminuindo de 40% para cerca de 20% em casos moderados e graves de traumatismo cranioencefálico (TCE). A maioria dos pacientes é atendida pelo SUS, com variações regionais significativas, com estados onde mais de 90% dos atendimentos são pelo SUS enquanto outros, como São Paulo, que apresentam uma divisão mais igualitária entre SUS e saúde suplementar.
O Dr. Gustavo Patriota, da Paraíba, apresentou no Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva Neurológica (COMIN 2025), definições e estratégias para o atendimento do TCE em locais com recursos limitados.
Definição
Recursos limitados são condições que impedem a aplicação integral dos protocolos ideais de atendimento, como falta de equipamentos como microdiálise, cateteres de oxigenação cerebral, tomografia para todos os pacientes, monitorização invasiva e não invasiva, recursos humanos especializados, estrutura física adequada (como leitos de UTI), medicamentos e transporte médico avançado.
A limitação não significa incapacidade de cuidar, mas a necessidade de adaptar o atendimento para otimizar o uso dos recursos disponíveis.
COMIN 2025: Confira os destaques do Congresso de Medicina Intensiva Neurológica
Abordagem Inicial no Atendimento ao TCE
- Aplicação da escala de Glasgow para avaliação do nível de consciência.
- Combinar o escore de Glasgow com a reatividade pupilar para melhor estimar mortalidade e prognóstico funcional.
- Avaliação das pupilas, proteção das vias aéreas em pacientes com coma, elevação da cabeceira para evitar hipóxia e cuidados básicos na sala de trauma ( controle pressórico, evitar febre, entre outros)
Práticas que devem ser evitadas quando o paciente está com monitorização PIC
- Manitol em infusão contínua
- Uso indiscriminado de soluções hiperosmolares.
- Não realizar drenagem liquórica lombar
- Evitar prescrição de corticosteroides e diuréticos
- Não usar propofol para surto supressão excessiva
- pCO2 < 30 mmHg / PPC> 90mmHg ( uso rotineiro)
- Evitar barbitúricos e hipotermia para tratar PTIO2 baixo
O que fazer quando a Tomografia não está disponível?
- Avaliação clínica rigorosa dos sinais de hipertensão intracraniana, como piora do nível de consciência, hipertensão arterial, bradicardia e alterações respiratórias.
- Decisões baseadas na evolução clínica: intubação, proteção das vias aéreas, correção de hipotensão e hipoxemia, elevação da cabeceira, uso criterioso de soluções hipertônicas e hiperventilação.
- Transporte para unidade com tomografia quando possível, mas sem deixar o paciente sem cuidados iniciais.
Monitorização da Pressão Intracraniana (PIC) e alternativas
- A PIC é um sinal vital importante, mas seu monitoramento pode ser invasivo ou não invasivo.
- Ferramentas não invasivas incluem ultrassonografia transcraniana, Doppler transcraniano e outras tecnologias que auxiliam na avaliação da PIC.
- A ausência de monitorização invasiva não impede o cuidado, sendo possível usar monitorização multimodal para melhor avaliação.
Bundle de Cuidados para neuroproteção – THE MANTLE
Temperatura central entre 36 – 37,5 ºC
Hemoglobina entre 8-12g/dl
Eletrólitos e estabilidade ácido-básica: Na 135-145 mEq/L, pH 7,35-7,45,
Metabolismo: SvjO2>55%, PtiO2> 18 mmHg, PPC entre 60-70 mmHg
Arterial blood pressure (PAS)> 11 mmHg
Nutrition ( Glicemia entre 110-180 mg/dl)
Target of oxygen ( PaO2 entre 80-110 mmHg)
Lung protective ventilation ( parâmetros de ventilação protetora)
Edema control ( PIC< 22 mmHg / TC seriada)
Como consideração final, o Dr Gustavo Patriota reforçou que o cuidado deve ser sempre o melhor possível dentro das condições locais. O uso racional e estratégico dos recursos é fundamental para atender o maior número possível de pacientes e o domínio das ferramentas não invasivas é essencial para ampliar a cobertura assistencial.
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