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Terapia Intensiva14 novembro 2024

CBMI 2024: Captação de órgãos em doador infectado

Nesta parte da cobertura do Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva trazemos um resumo da palestra "Infecção no doador: o que considerar?"
Por Julia Vargas

A doação de órgãos é um tema extremamente relevante em terapia intensiva e o conhecimento sobre alguns pontos que podem gerar dúvidas no momento da decisão sobre a viabilidade da doação é essencial para evitar que se percam oportunidades de captação. Durante o XXIX Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva, o Dr. Rodrigo Biondi apresentou palestra acerca da doação de órgãos quando o doador encontra-se com infecção ativa, um ponto que pode gerar algumas dúvidas entre os intensivistas e também entre os familiares de doadores e receptores de órgãos. O principais pontos da apresentação estão resumidos a seguir.

Passos

Para definir se a doação nesse tipo de paciente é viável, é necessário primeiro avaliar as características do doador: causa da morte, história social, hospitalização e infecções. Avaliar o ciclo de infecção e o tipo de patógeno é essencial. Devemos saber como o doador foi tratado e se houve melhora na infecção no decorrer do tratamento.

Em seguida deve-se pensar no receptor. Considerar qual órgão será transplantado e se o receptor tem condições de responder ao tratamento infeccioso, avaliar a transmissibilidade dos patógenos e eficácia do tratamento profilático ou terapêutico.

Por último, devemos considerar se o receptor pode esperar mais tempo por um órgão, especialmente se o paciente estiver em condição estável.

Contraindicações Absolutas

  • Pacientes com alto risco de transmissão de infecções virais, como HIV e HTLV, são contraindicações para doação.
  • Infecções agudas como hepatite, tuberculose e outras infecções virais graves também são contraindicações ao transplante de órgãos.
  • A meningite de causa desconhecida é uma contraindicação absoluta, enquanto meningites cujo agente etiológico é conhecido podem ser aceitáveis se tratadas adequadamente.

CBMI 2024: Captação de órgãos em doador infectado

Transplante de Órgãos Infectados

Doadores com infecções controladas podem ter seus órgãos transplantados, desde que tratados por 24 a 48 horas antes da doação. Nesses casos, o receptor deve continuar o tratamento por 7 a 14 dias após o transplante. O tratamento deve ser específico para o patógeno, infecções de causa desconhecida mesmo que controladas contraindicam a doação.

Bacteremia no doador é uma preocupação, mas a transmissão não é sempre grave se a infecção estiver controlada. No momento em que o órgão é retirado 5% dos pacientes têm bacteremia e isto não representa uma repercussão importante para o receptor.

Estudos mostram que a viabilidade dos órgãos de doadores com infecções no sistema nervoso central pode ser boa, desde que a infecção seja conhecida e tratada. A maioria dos receptores não apresenta problemas significativos quando a infecção do doador é controlada.

Nos casos de choque séptico refratário, quando a infecção não está sob controle a doação está contraindicada.

A utilização de antibióticos profiláticos é recomendada em todos os casos de suspeita de infecção.

Infecções Bacterianas e Multirresistentes

Infecções por bactérias multirresistentes requerem cuidados especiais; o órgão alvo da infecção não deve ser transplantado quando ela é causada por germes MDR. Por exemplo, uma pneumonia contraindica o transplante pulmonar.

Diretrizes e Recomendações

Todos os doadores devem ser testados para hepatite B e C, HIV e HTLV.

A lei brasileira proíbe a doação de órgãos de pacientes com infecções virais graves ou potencialmente graves. A inclusão de pacientes HIV positivos como doadores e receptores é permitida em outros países, mas não no Brasil.

Conclusão

A doação de órgãos de pacientes infectados não é uma contraindicação absoluta, mas deve ser cuidadosamente avaliada. A segurança do receptor e a condição do doador são fatores determinantes na decisão de realizar o transplante.

Confira aqui todos os conteúdos publicados pelo Portal PEBMED na cobertura da CBMI 2024!

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Julia Vargas

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