O XXVIII Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI) da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ocorreu em Florianópolis de 23 a 25 de novembro e se destacou pelas inúmeras palestras de relevância para a Medicina Intensiva Pediátrica. O primeiro dia de congresso contou com a sessão temática “Sepse e Choque Séptico”. A primeira palestra foi apresentada pelo Dr. Cristian Tedesco Tonial (Porto Alegre/RS) e abordou os desafios na previsão da sepse em pediatria através do uso de biomarcadores.
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De acordo com o palestrante, a avaliação do risco de morte na sepse possibilita:
- Identificar a sepse;
- Avaliar o risco;
- Controlar o risco;
- Revisar práticas e estudá-las.
Além disso, o uso de biomarcadores prognósticos permite:
- Direcionar recursos (material humano e tecnologia);
- Melhor monitorização invasiva e de leitos de Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP);
- Prever deterioração, antecipando ações e terapias, como intubação orotraqueal (IOT) e necessidade de ventilação mecânica (VM), medicamentos vasoativos e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO);
- Controle de qualidade (comparação histórica e também entre as unidades).
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O Dr. Cristian mostrou os resultados de um estudo retrospectivo conduzido por ele e sua equipe e publicado em 2021 no Jornal de Pediatria (Performance of prognostic markers in pediatric sepsis). O objetivo foi justamente avaliar o desempenho prognóstico do Paediatric Index of Mortality (PIM2), ferritina, lactato, proteína C reativa (PCR) e leucócitos, isoladamente e em combinação, em pacientes pediátricos com sepse internados na UTIP do, Hospital São Lucas, em Porto Alegre:
- PIM-2: escore prognóstico comumente disponível (obtido por meio de cálculo matemático), sem custos e é interessante para ser usado em grandes populações e também nas rotinas das UTIP;
- Ferritina: trata-se de marcador inflamatório, avaliado no estudo de forma isolada ou juntamente com a PCR. Vantagens: baixo custo, disponível, pode ser usado para outras finalidades (anemia ferropriva) e eleva-se também na sepse de origem viral. Desvantagens: pode demorar 48 horas para elevar-se, sua interpretação é difícil em crianças com menos de seis meses de idade e sofre influência da anemia ferropriva;
- Lactato: muito utilizado na sepse, é altamente disponível e atua como marcador de perfusão tecidual. Possui baixo custo e foi avaliado de forma isolada;
- PCR: marcador inflamatório, era o mais específico para infecção bacteriana na época (hoje estão usando a procalcitonina), bastante disponível, com custo um pouco mais alto. Foi avaliado isoladamente ou com a ferritina;
- Leucócitos: marcador inflamatório de baixo custo bastante disponível.
No estudo mencionado, foram elegíveis todos os pacientes com idades entre seis meses e 18 anos admitidos com sepse. Foram incluídos na análise de desempenho prognóstico, pacientes com ferritina e PCR medidas em até 48 horas e lactato e leucócitos em até 24 horas da admissão. De um total de 350 pacientes elegíveis com sepse, 294 foram submetidos a todas as medidas necessárias para análise, sendo incluídos no estudo. Os valores de corte para PIM2 (> 14%), ferritina (> 135 ng/mL), lactato (> 1,7 mmol/L) e PCR (> 6,7 mg/mL), determinados pelo índice de Youden, foram associados à mortalidade. A combinação de ferritina, lactato e PCR teve valor preditivo positivo (VPP) de 43% para mortalidade, semelhante ao do PIM2 isoladamente (38,6%). O uso combinado dos três biomarcadores mais o PIM2 aumentou o VPP para 76% e a acurácia para 0,945. Dessa forma, o estudo concluiu que somente PIM2, ferritina, lactato e PCR apresentaram bom desempenho prognóstico para mortalidade em pacientes pediátricos com mais de seis meses de idade com sepse. Quando combinados, foram capazes de prever a morte em três quartos dos pacientes sépticos. A contagem total de leucócitos não foi útil como marcador prognóstico.
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