O prof. Pedro Kurtz (RJ) apresentou dados de revisão sobre o uso do eletroencefalograma (EEG) na UTI, publicados na Intensive Care Medicine em 2022, da qual ele participou como autor.
O estudo “Electroencephalogram in the intensive care unit: a focused look at acute brain injury” trouxe algumas aplicações clínicas do EEG na UTI:
- Detecção de crises eletrográficas e status não convulsivo;
- Monitorização de injúria cerebral secundária e isquemia (ex: injúria cerebral tardia);
- Avaliação comportamental — respostas subclínicas aos estímulos;
- Prognosticação neurológica.
Mudanças de paradigma na monitorização em UTI
O EEG contínuo tem ganhado cada vez mais espaço, com utilização rotineira em algumas UTIs neurológicas. Alguns serviços dispõem do clássico EEG intermitente e de menor duração. O EEG quantitativo também tem sido mais utilizado. Envolve a análise e processamento dos sinais do EEG através de algoritmos matemáticos. Para o prof. Pedro Kurtz, idealmente, o EEG na UTI deve ser prolongado e contínuo.
Terminologia do EEG na UTI: importante aspecto para o treinamento de intensivistas
- Achados normais: ritmo posterior dominante, padrão de sono, reatividade ao estímulo.
- Achados anormais: ictal, convulsões eletrográficas/eletroclínicas, Ictal-interctal continuum (IIC — padrão muito comum em pacientes graves, relacionado a maior risco de convulsões), status epilepticus não convulsivo, mioclônico ou pós-anóxico.
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Alguns achados e estados patológicos clássicos
- Ictal-interctal continuum (IIC) — quanto maior sua frequência, maior risco de hipóxia cerebral.
- Witsch J, et al. Electroencephalographic Periodic Discharges and Frequency-Dependent Brain Tissue Hypoxia in Acute Brain Injury. JAMA Neurol. 2017.
- Ondas trifásicas — encefalopatía hepática;
- Convulsões cíclicas — Sinal da chama (EEG quantitativo).
EEG contínuo vs. intermitente: qual melhor opção?
O estudo “Continuous vs Routine Electroencephalogram in Critically Ill Adults With Altered Consciousness and No Recent Seizure”, publicado no JAMA Neurology em 2020, comparou o uso do EEG contínuo com o EEG seriado ou intermitente em pacientes graves.
Em pacientes graves com alteração da consciência, o uso do EEG contínuo otimiza e aumenta a possibilidade de detecção de crises convulsivas. Por outro lado, consome maior quantidade de recursos e não está amplamente disponível. Sendo assim, o trial clínico randomizado analisou 364 pacientes com alteração do nível de consciência e sem histórico recente de convulsões.
O estudo evidenciou que o EEG contínuo nessa população de pacientes aumentou a detecção de convulsões e permitiu maior modificação do tratamento anticonvulsivo instituído. No entanto, não esteve relacionado a melhores desfechos quando comparado ao EEG intermitente/seriado. São necessários ainda maiores estudos, mas o EEG intermitente representa uma alternativa válida ao EEG contínuo em centros com recursos limitados.
Escores baseados em EEG para mensurar risco de convulsões
Um dos escores apresentados foi o 2HELPS2B. O escore envolve 6 variáveis:
- Descargas rítmicas (B[I]RDs);
- Presença de LPD / LRDA / BiPLEDs: descargas periódicas lateralizadas, ritmo delta lateralizado ou descargas periódicas independentes bilaterais;
- Frequência > 2 Hz;
- Convulsão prévia;
- Presença de achados adicionais, como: “superimposed, rhythmic, sharp, or fast activity”.
O escore é uma ferramenta promissora para avaliação sistemática e eficiente de EEGs contínuos em pacientes hospitalizados. Adicionalmente, pode servir como uma ferramenta útil para melhorar a comunicação quanto à significância clínica de achados do EEG entre especialistas e médicos do beira-leito.
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Mensagens Práticas
- As aplicações clínicas do EEG na UTI vão além da detecção de crises convulsivas (avaliação da consciência, prognóstico após parada cardíaca…);
- EEG continuo para pacientes de alto risco (coma, 2HELPS2B);
- Utilize escores de risco baseados no EEG;
- O EEG é uma ferramenta importante no contexto da neuroprognosticação (Nolan et al. Intensive Care Med 2021);
- Perspectivas futuras envolvem avaliação da consciência em terapia intensiva.
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