Estamos acompanhando o CBMEDE 2022, que acontece em Florianópolis-SC. Principal evento da Medicina de Emergência no país.
O Dr. Luis Ferreira (MG) abordou as principais atualizações na PCR traumática.
Por que falar separadamente da PCR traumática?
O conferencista fez uma abordagem interessante explicando que fala-se da PCR traumática em separado pela natureza das suas causas, que são eminentemente cirúrgicas e heterogêneas. Vamos às principais:
Causas principais de PCR no trauma:
- 60% hemorragia;
- 33% pneumotórax hipertensivo;
- 10% tamponamento cardíaco;
- 7% obstrução de via aérea.
Recomendações do ATLS e European Resuscitation Council
O atendimento da PCR no trauma demandará em algum momento uma sala cirúrgica, tendo em vista a natureza das suas causas. Na dúvida sobre a causa, comece a RCP. O paciente pode estar em contexto de trauma por uma causa clínica. Faça uma descompressão torácica de forma empírica bilateral. Se o paciente não retornar, considere toracotomia de reanimação.
O algoritmo de parada cardíaca no trauma da European Resuscitation Council aborda o tema de forma prática. Veja o fluxograma na página 155 do próprio guideline e citado durante a conferência. Disponível aqui.
Como aplicar nos centros brasileiros?
Pense primeiro se o paciente é salvável e se tem indicação de ressuscitação (sinais de vida presentes nos últimos 10-15 minutos, ausência de lesão incompatível com a vida).
Devemos levar em conta o contexto do paciente (mecanismo do trauma) e estrutura disponível (hospital rural, ambulância equipada, ausência de centro cirúrgico, deslocamento…) para responder a pergunta se o paciente é salvável ou não.
Fatores de bom prognóstico
- Tempo de chegada a um centro de trauma;
- Causa da PCR (trauma penetrante x trauma contuso / asfixia e afogamento);
- Ritmo inicial + atividade cardíaca ao US;
- Resposta às medidas iniciais
Cabe o ACLS para esse cenário?
Sim! Checagem de ritmo é importante, assim como as compressões torácicas devem ser iniciadas, sem retardar a descompressão bilateral do tórax. O uso de epinefrina (especialmente no choque neurogênico) deve ser considerado conforme protocolo do suporte avançado de vida. Lembre-se que a sobreposição de diagnósticos pode acontecer (o paciente infarta e sofre acidente automobilístico ou evolui com AVC e sofre queda de altura elevada).
Pontos que devem ser levados em consideração no atendimento aos casos de PCR traumática:
- Tempo até centros de trauma;
- Via aérea;
- Materiais para hemostasia e redução;
- Descompressão torácica;
- Hemocomponentes e reversão de anticoagulantes;
- Ultrassonografia;
- Treinamento continuado
Mensagens práticas da conferência
- A utilização do POCUS tem valor prognóstico muito adequado;
- A sobrevida apresenta correlação com o tempo até um centro de trauma;
- A estruturação de um centro de trauma depende mais da organização de fluxos, protocolos e processos e menos do capital;
- Foco nas causas tratáveis: HOTT (hemorragia, obstrução de vias aéreas, pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco);
- Ainda é necessário avanço nos estudos e tecnologias.
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