A candidemia é uma das principais causas de infecção de corrente sanguínea em pacientes críticos, associada a mortalidade que varia entre 27% e 53%, mesmo em centros de excelência. A presença de fatores de risco comuns na UTI, como uso de cateter venoso central, nutrição parenteral, cirurgias abdominais, antibióticos de amplo espectro e imunossupressão, favorece a colonização e posterior invasão por espécies de Candida. Além do impacto clínico, trata-se de uma infecção que aumenta tempo de internação, custos hospitalares e necessidade de terapias antifúngicas de alto custo. Portanto, reconhecer precocemente e intervir de forma adequada é decisivo para a sobrevida.
Evidências até o momento
Estudos recentes mostram que, assim como em outras infecções graves, seguir bundles de cuidado em candidemia pode salvar vidas. O EQUAL Candida score, por exemplo, reúne passos simples, mas fundamentais: colher hemoculturas corretamente, iniciar o antifúngico certo sem demora e remover o foco infeccioso (geralmente o cateter venoso central). Quanto melhor a adesão a esses itens, menor a mortalidade observada.
No tratamento, o destaque vai para as equinocandinas (anidulafungina, caspofungina, micafungina). Elas são consideradas a primeira escolha em pacientes graves, porque apresentam melhores resultados clínicos e microbiológicos do que azóis (como o fluconazol) e polienos (como a anfotericina B), especialmente em um cenário em que a resistência fúngica vem aumentando.
Outro ponto de avanço está no diagnóstico rápido. As hemoculturas ainda são o padrão, mas podem levar dias. Aqui entram os testes modernos: o T2 Candida detecta o fungo diretamente no sangue em poucas horas, com sensibilidade entre 65–100% e especificidade de 90–100%, ajudando a tomar decisões mais cedo. O MALDI-TOF, por sua vez, acelerou a identificação direta a partir de hemoculturas já positivas. E novas plataformas de genômica começam a ganhar espaço, principalmente para estudar resistência e investigar surtos hospitalares.
Por fim, um ponto crucial: o cateter venoso central. Ele é frequentemente a porta de entrada da infecção. Sempre que possível, deve ser removido precocemente, pois isso se relaciona a melhor evolução clínica, especialmente em pacientes que não são neutropênicos.
O que ainda não está bem definido.
Apesar dos avanços, ainda há incertezas. A utilidade da β-D-glucana na prática é limitada, especialmente para guiar suspensão de antifúngicos. A avaliação oftalmológica universal permanece controversa, já que a endoftalmite é rara (<1%). Novos antifúngicos, como rezafungina e fosmanogepix, mostram resultados promissores, mas ainda não têm lugar definido na prática. Também falta clareza sobre como incorporar de forma racional testes moleculares de alto custo na rotina da UTI.
Mensagem prática
- Suspeite em sepse sem foco aparente em pacientes com fatores de risco: CVC, antibióticos de amplo espectro, nutrição parenteral, cirurgia abdominal recente, imunossupressão.
- Hemocultura convencional é sensível para leveduras (Candida).
- Hemocultura específica para fungos é mais útil para fungos filamentosos (ex.: Aspergillus), não para candidemia.
- Equinocandina é o antifúngico de escolha no paciente grave.
- Retirada precoce do CVC é medida essencial (<48–72h).
- Testes rápidos (ex.: T2 Candida) podem antecipar diagnóstico, mas não substituem a hemocultura.
- Evite cultura de ponta de cateter de rotina – leva a diagnósticos falsos de colonização.
Autoria

Yuri Albuquerque
Doutorando em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP) • Residência em Medicina Intensiva pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) • Residência em Clínica Médica ano complementar (R3) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) • Residência em Clínica Médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) • Médico intensivista rotina do hospital Samaritano Paulista • Título de Especialista em ECMO pela Extracorporeal Life Support Organization (ELSO) • Título de Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)
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