Em pacientes graves, o gasto energético em repouso medido (mREE – measured Resting Energy Expenditure) é obtido através da calorimetria indireta (CI), padrão-ouro nesse cenário. Quando a calorimetria indireta não está disponível, equações preditivas são comumente utilizadas para obtenção do gasto energético em repouso estimado (pREE – predicted Resting Energy Expenditure). Frequentemente, tais equações superestimam ou subestimam a real demanda metabólica do paciente, gerando os fenômenos do under- e overfeeding.
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Sobre o estudo
Nesse cenário, o artigo Prolonged progressive hypermetabolism during COVID-19 hospitalization undetected by common predictive energy equations foi publicado em julho de 2021 na revista Clinical Nutrition da ESPEN (European Society of Parenteral and Enteral Nutrition). Tratou-se de um estudo de coorte prospectivo, unicêntrico, que incluiu 38 pacientes com Covid-19 em ventilação mecânica, no período de abril de 2020 a fevereiro de 2021. O objetivo principal foi avaliar de forma longitudinal o gasto energético de repouso medido, através da calorimetria indireta, nestes pacientes durante toda a internação em UTI. Além disso, objetivou comparar o gasto energético medido via CI com o gasto energético estimado pelas equações preditivas comumente utilizadas.
As equações utilizadas foram: Harris-Benedict (HB), Mifflin St-Jeor (MSJ), Penn State University, e equações baseadas no peso da ASPEN (Sociedade Americana de Nutrição Enteral e Parenteral). As mesmas foram utilizadas para avaliar a acurácia das equações e seu potencial em predizer hipo ou hiper metabolismo em pacientes graves com Covid-19 na UTI.
Resultados
Durante a primeira semana de ventilação mecânica, as medidas obtidas a partir da calorimetria indireta evidenciaram um estado “normometabólico” e minimamente hipermetabólico. O mREE obtido foi de 21,3 kcal/kg/dia ou 110% do predito pela equação de Harris-Benedict (HB). O gasto energético progrediu de forma importante ao longo das semanas, gerando um hipermetabolismo prolongado. Durante a 3ª semana, foi obtido um mREE de 28.1 kcal/kg/dia ou 143% do predito pela equação de HB. Além disso, o hipermetabolismo persistiu até a sétima semana.
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Em relação a pacientes obesos, houve menor resposta metabólica na 1ª semana, quando comparada a não obesos (19,5 versus 25,1 kcal/kg/dia; p < 0,01), assim como nas 2ª e 3ª semanas. Além disso, as equações que estimam a demanda metabólica não foram capazes de predizer o hipermetabolismo tardio, assim como em alguns momentos subestimaram ou superestimaram as necessidades energéticas.
Conclusões dos autores
- Os resultados do estudo demonstram uma resposta metabólica bem característica em pacientes com Covid-19 grave, marcada por um hipermetabolismo progressivo e prolongado, com pico em 3 semanas após intubação e persistindo por até 7 semanas na UTI;
- Esse padrão foi melhor demonstrado em pacientes não obesos;
- As características da resposta metabólica do paciente grave com Covid-19 é única. Ela é distinta de outros modelos de pacientes submetidos ao estresse de doenças graves que cursam com hipermetabolismo.
Mensagens Práticas
- O estudo traz insights interessantes a respeito do hipermetabolismo do paciente grave com Covid-19. A prescrição nutricional deve levar em conta um gasto energético que aumenta progressivamente;
- Idealmente, a utilização da calorimetria indireta seria fundamental em ampla escala para nortear a mensuração do gasto energético. No entanto, ainda trata-se de dispositivo com limitações relacionadas a custo e baixa disponibilidade nas unidades, de forma geral;
- As equações que estimam o gasto energético de repouso, popularmente conhecidas como “fórmulas de bolso”, são alternativas na ausência da calorimetria indireta e diante da necessidade de um norteamento nesse cenário.
Referências bibliográficas:
- L.E. Niederer, H. Miller, K.L. Haines et al., Prolonged progressive hypermetabolism during COVID-19 hospitalization undetected by common predictive energy equations, Clinical Nutrition ESPEN. doi: 10.1016/j.clnesp.2021.07.021.
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