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Saúde4 dezembro 2019

Urticária crônica espontânea: 79% recebem diagnóstico errado

A urticária crônica espontânea atinge 1,5 milhão de brasileiros, apresenta maior incidência nas mulheres e prejudica muito a qualidade de vida.

Por Úrsula Neves

A urticária crônica espontânea (UCE) atinge 1,5 milhão de brasileiros, apresenta maior incidência nas mulheres e prejudica muito a qualidade de vida dos pacientes, sendo pior inclusive para aqueles com hanseníase ou psoríase.

Como a doença provoca máculas e pápulas eritematosas na pele, além de muito prurido, é comumente confundida com diferentes tipos de alergia. Até mesmo pelos profissionais de saúde, de acordo com uma pesquisa realizada pela Novartis em parceria com o Instituto Ipsos Brasil.

estetoscópio em cima de prontuário de paciente com urticária crônica espontânea

Medical records and stethoscope

Urticária crônica espontânea

O estudo, realizado em abril de 2019 com 183 pacientes, revela que 79% deles receberam o diagnóstico errado de uma alergia comum antes de finalmente descobrirem o motivo real das lesões.

Para a alergista Suzana Altenburg, preceptora do ambulatório de alergia dermatológica da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, difícil mesmo é descobrir o fator desencadeante da enfermidade o que aflige demais o paciente, que por sua vez sempre quer uma resposta concreta da sua etiologia.

“Na sua grande maioria, 50% desses pacientes continuarão a apresentar a doença um ano após a visita inicial ao médico, 20% poderão ter episódios da por mais de 20 anos e somente em 30% dos casos chegamos ao diagnóstico do fator desencadeante”, esclarece a especialista.

Sintomas e duração

Os casos de urticária crônica espontânea aparecem em surtos, podendo surgir em qualquer período do dia ou da noite, durando horas e desaparecendo sem deixarem marcas na pele.

Embora seja mais comum em adultos jovens (entre 20 e 40 anos), pode ocorrer em qualquer idade, sendo constatada quando os sintomas persistem por mais de seis semanas.

“O quadro consiste no aparecimento súbito de lesões eritematosas e pruriginosas, bordas definidas, de localização, tamanho e formas variadas e duração variável”, define a alergista.

A UCE é muito confundida com alergia, pois ambas apresentam sintomas semelhantes. Porém, ao contrário da alergia, a UCE não é causada por agentes externos como comida, produtos de limpeza ou picada de inseto, mas sim pelo próprio organismo.

As urticas coçam intensamente e mudam de lugar, ficando no máximo 24 horas no mesmo local e somem sem deixar marcas. Estas lesões duram mais de seis semanas e podem estar ou não associadas a edema de partes do corpo, principalmente lábios, olhos e boca.

“Para ser ter uma ideia do quadro, às vezes a coceira é tão intensa que há privação do sono e a imprevisibilidade das crises gera um estado mental sobrecarregado, aumentando nos pacientes com UCE o risco de transtornos de ansiedade”, afirma Luis Felipe Ensina, especialista em Alergia e Imunologia Clínica e coordenador do Centro de Referência e Excelência em Urticária (UCARE).

Confira: Quais lesões dermatológicas podem indicar doenças sistêmicas?

Dados da pesquisa

Levantamento realizado no 1° semestre de 2019 pela Novartis, tendo como base 352 pacientes do Programa Bem-Estar com Urticária Crônica Espontânea mostrou a dificuldade de se chegar ao diagnóstico correto: 66% dos consultados afirmaram que foram informados de que as máculas eritematosas apresentadas estavam associadas a quadro alérgico; quando indagados sobre quanto tempo levaram para obter o diagnóstico de UCE após o surgimento do primeiro sintoma, mais da metade (52%) levou mais de um ano.

Outros aspectos interessantes da pesquisa estão relacionados à questão emocional dos pacientes. Eles foram questionados sobre os impactos invisíveis da enfermidade e existe, de fato, uma associação entre a UCE e os transtornos como ansiedade e depressão; 63% tiveram ansiedade após o aparecimento dos sintomas e 37,7% tiveram depressão.

Os impactos não param por aí. A UCE também afeta o trabalho, 60% dos entrevistados já faltaram algumas vezes por conta da enfermidade e 29% não faltam, mas têm dificuldade de concentração ao desempenhar atividades rotineiras.

E, por fim, para 74% os sintomas de UCE afetam e muito a qualidade de vida.

Tratamentos

Com o tratamento adequado, 92% dos pacientes podem obter o controle completo dos sintomas da urticária crônica espontânea, vivendo com uma qualidade de vida equivalente à de uma pessoa sem a doença.

Como nos casos de UCE, 25% a 33% dos pacientes não respondem ao tratamento com antialérgicos, mesmo em doses aumentadas, o médico deve avaliar outras opções de tratamento mais modernas já disponíveis no Brasil.

“O tratamento medicamentoso é realizado com anti-histamínicos de segunda geração com doses que podem ser duplicadas, triplicadas ou quadruplicadas, corticosteróides; antagonista de receptor de leucotrieno (Montelucaste), imunossupressores ou imunomoduladores, como Ciclosporina, Methotrexato e Imunoglobulina intravenosa, e outros agentes, como Hidroxicloroquina; Colchicina; Dapsona e Sulfassalazina”, explica Suzana Altenburg.

Prevenção

A melhor forma de prevenir a UCE é aconselhar o paciente a se afastar dos fatores desencadeantes da enfermidade. Em seguida, é necessário descobrir quais são esses “gatilhos”. Também é indicado evitar calor, bebidas alcoólicas e estresse, pois são fatores que pioram a irritação.

“A dieta alimentar costuma ajudar a melhorar o problema mais rapidamente, evitando o reaparecimento das lesões durante o tratamento, mas essas orientações são falíveis e muitos pacientes irão manter o quadro cutâneo apesar de segui-las”, alerta a alergista.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referências bibliográficas:

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