A medicina reprodutiva tem evoluído substancialmente nas últimas décadas, com a introdução da fertilização in vitro no final dos anos 1970 e injeção intracitoplasmática de espermatozoides no início dos anos 90, entretanto a maior limitação tem sido a infertilidade devido a um fator uterino absoluto. Não há tratamento disponível para as mulheres que sofrem de um útero ausente ou disfuncional, em termos de obter uma gestação própria.
Aproximadamente 1 em cada 500 mulheres sofre de infertilidade uterina absoluta, e as opções, até então, para se tornar mãe tem sido a adoção ou “cessão temporária do útero” (ou “gestação de substituição”).
Até hoje, um total de onze casos de transplantes de útero humano foram relatados em todo o mundo, realizados em três países diferentes, com doadores vivos ou mortos. O número de histerectomias aumentou progressivamente, e com a chegada desta tecnologia as mulheres têm a possibilidade de gerar o próprio filho. Em 2014, foi publicado o relato do primeiro nascido vivo após transplante de útero humano, mostrando que a infertilidade do fator uterino, mesmo quando considerada absoluta, é agora potencialmente tratável.
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Esse novo tratamento abre a perspectiva de que essa mulher receba um útero transplantado e tenha uma gestação futura, à semelhança de receber um rim, um fígado, entre outros órgãos possíveis de transplante. O que muda é a funcionalidade. Não basta implantar, checar rejeição e menstruação, mas deixá-lo em condições de engravidar, para que o bebê tenha um desenvolvimento adequado. A função dele é mais ampla, o que provavelmente dificultou a sua realização no passado.
Os resultados destes primeiros casos experimentais ultrapassam o que se poderia esperar de um novo método cirúrgico. Porém, antes de introduzir o transplante de útero em um contexto mais amplo, são necessários mais estudos sobre as gestações, que devem ser cuidadosamente monitoradas para avaliar os principais riscos obstétricos, incluindo aborto espontâneo, pré-eclâmpsia, parto prematuro e restrição do crescimento fetal. Muitos outros transplantes de útero devem ser esperados num futuro próximo, já que outras equipes de pesquisa estão sendo preparadas para serem colocadas em prática clínica.
- JOHANNESSON, L.; JÄRVHOLM, S. Uterus transplantation: current progress and future prospects. Int J Womens Health, 2016; 8: 43–51.
- https://www.sogesp.com.br/noticias/sogesp/pioneiros-em-transplante-de-utero-vem-a-sao-paulo-ensinar-tecnicas-a-ginecologistas-e-obstetras
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