Entre as preocupações mais importantes associadas com o uso crescente de mídias (computador, tablet e celular) na juventude é o impacto no sono, de acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP).
Com intuito de auxiliar o entendimento sobre a temática, foi apresentado, na reunião anual da AAP, uma visão geral dos distúrbios do ritmo circadiano e como abordá-los.
Ritmo circadiano
Aproximadamente três horas antes de acordar, uma pessoa experimenta um nadir na temperatura do corpo. Esse é o ponto em que a exposição da luz altera o retardamento do ritmo circadiano para a sua aceleração. Uma exposição à luz antes de dormir pode atrasar esse processo e alterar o ritmo circadiano de uma pessoa.
Na juventude, em particular nos adolescentes, o distúrbio do ritmo circadiano mais comum é o transtorno do ciclo vigília-sono, definido por quatro critérios:
- Atraso significativo do sono em relação ao tempo desejado ou necessário e ao tempo de vigília;
- Sintomas presentes há mais de três meses;
- Quando permitido escolher um horário, a pessoa exibirá melhor qualidade/duração do sono e manterá a fase demorada;
- Um registro do sono e/ou actigrafia demonstra um atraso no período de sono durante, pelo menos, sete dias.
Como quase todos os gadgets que emitem luz, o uso de tais aparelhos à noite pode contribuir para o transtorno. Este pode interferir nas atividades escolares, laborais e nas atividades diárias normais, por isso, é importante que o pediatra oriente seus pacientes.
Algumas ações podem ser tomadas em relação a esse problema:
– Redução do brilho nos dispositivos pode atenuar o problema, assim como a utilização de luz vermelha ou amarela (disponível em alguns aparelhos como “modo noturno”), ao invés da luz azul emitida pela maioria dos dispositivos;
– Manter uma hora para dormir e acordar todos os dias, incluindo finais de semana;
– Exposição à luz no início da manhã. Paralelo a isso, indivíduos tentando retomar o ciclo circadiano podem tomar uma dose baixa de melatonina, cerca de 0,5-1 mg, de 2-6 horas antes de dormir.
Em relação às recomendações gerais aos profissionais de saúde sobre o uso de mídias e tecnologias, a Sociedade Brasileira de Pediatria destaca:
- Avaliar/aconselhar/orientar sobre o tempo de uso diário das tecnologias e celulares, videogames e computadores durante a consulta;
- Avaliar hábitos de sono, alimentação, exercícios, comportamentos e condutas com os colegas na escola, além do rendimento escolar e da dinâmica familiar. Prescrever atividades ao ar livre, sempre que necessário;
- Programar com as crianças/adolescentes e suas famílias um plano de “dieta midiática” de acordo com as idades e desenvolvimento cognitivo e maturidade, sobre o que seria mais conveniente em termos de tempo de exposição aos conteúdos como diversão ou distração, enfatizando os cuidados necessários para o acesso aos links dos filmes, vídeos, jogos e não somente limitar à quantidade de horas, assim, balanceando a qualidade versus quantidade com as outras tarefas diárias;
- Incluir nos protocolos de atendimento as rotinas que permitam tanto a prevenção como o diagnóstico e tratamento dos danos à saúde física, decorrentes do uso abusivo das tecnologias digitais, tais como: obesidade, distúrbios do sono, lesões articulares, problemas posturais, alterações da visão, perda auditiva, transtornos comportamentais e mentais, dentre outros;
- Considerar e avaliar com mais atenção crianças e adolescentes que apresentem comportamentos agressivos, dissociativos entre o mundo real e o virtual, dependentes da tecnologia-Internet-videogames, que apresentem transtornos de sono, alimentação, higiene, uso de drogas ou redução do rendimento escolar ou pratiquem/apresentam sinais de violência/bullying/cyberbullying, sinais corporais de automutilação (self-cutting) ou quando relatam “desafios” online com colegas da escola. Encaminhar para psicoterapia cognitivo-comportamental e terapias adjuntas quando necessário e precocemente, inclusive terapia de família;
- Sempre alertar/esclarecer sobre os sinais e sintomas de transtornos precoces durante a infância e adolescência, também em relação ao mundo digital e como procurar ajuda.
*Texto revisado pela biomédica Juliana Festa
Referências:
- https://www.sbp.com.br/src/uploads/2016/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf
- https://www.mdedge.com/internalmedicinenews/article/116546/adolescent-medicine/treatment-plan-addresses-circadian-rhythm
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