Transplante: Pacientes receberam órgãos infectados com HIV
Atualizado no dia 23/10/2024 às 15:45
De acordo com informações da Bandnews FM e do portal G1 pacientes transplantados no Estado do Rio de Janeiro receberam órgãos infectados com HIV. As autoridades responsáveis indicaram que ocorreu erro na triagem dos órgãos e exames de sangue feitos pelo laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme) de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, contratada sem licitação no final de 2023, devido a uma possível sobrecarga no Hemorio (Instituto Estadual de Hematologia).
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), “Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados. O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente.”
Casos detectados em setembro
Até o momento, segundo o governo do estado, foram constatados erros em dois exames de sangue realizados pelo laboratório (um do dia 23 de janeiro e outro do dia 25 de maio), com seis casos de órgãos transplantados infectados com HIV confirmados.
O primeiro caso foi identificado no último dia 10 de setembro, em um paciente que havia recebido um coração no final de janeiro e buscou atendimento após apresentar sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo. A partir de então foi realizado o rastreamento do órgão doado e chegou-se a outros três casos do mesmo doador. Foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea, os transplantados que receberam os rins também tiveram resultado positivo para HIV, a pessoa que recebeu a córnea teve resultado negativo e o paciente que recebeu o fígado faleceu após o transplante, contudo ele já estava com quadro grave e a correlação foi descartada.
No exame de maio, foram transplantados o fígado e os rins da doadora, todos os receptores testaram positivo para HIV após o transplante.
Desde o dia 13 de setembro, o Hemorio voltou a ser responsável por todo o material para transplantes e realizou a retestagem do material armazenado de 286 doadores que passaram pelo laboratório interditado. Todas as amostras dos doadores foram retestadas e não foram encontradas novas infecções, ainda assim o Hemorio realiza nova bateria de testes no material armazenado, devido à relevância do caso e necessidade de rigor no processo.
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Ações do Ministério da Saúde
Devido a gravidade da situação e a fim de manter a transparência e segurança do Sistema Nacional de Transplantes, a pasta ministerial anunciou as seguintes medidas:
- Interdição cautelar do Laboratório PCS-Saleme/RJ, cuja unidade operacional fica no Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro – IECAC;
- Que a testagem de todos os doadores de órgãos no Rio de Janeiro voltasse a ser feita exclusivamente pelo Hemorio, utilizando o teste NAT;
- Retestagem do material de todos os doadores de órgãos feitas pelo Laboratório PCS Saleme/RG, a fim de identificar possíveis novos casos falso-negativos;
- Que o grupo de pacientes receptores de transplantes de órgãos dos doadores infectados, bem como seus contatos, recebam total atendimento especializado;
- Instalação de auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS – DENASUS – no sistema de transplante do Rio de Janeiro, e a apuração de eventuais irregularidades na contratação do referido laboratório, dentre outras providencias.
O Ministério também reforçou a segurança e rigor do SNT que possui “normas rigorosas que visam proteger tanto os doadores quanto os receptores, garantindo que os transplantes realizados no país mantenham um alto nível de confiabilidade”. O governo também enfatizou que, “O SNT possui dispositivos regulatórios que já preveem protocolos específicos para a redução de riscos, como a transmissão de doenças infecciosas, e está em constante atualização para acompanhar os avanços médicos e científicos nessa área.”
Segundo a Anvisa, “As investigações estão em andamento, envolvendo autoridades estaduais e municipais, incluindo as Vigilâncias Sanitárias, o Ministério da Saúde e a Anvisa. Essas instituições estão trabalhando em conjunto para esclarecer a situação em prol da segurança dos transplantes. Todos os requisitos técnicos correlacionados devem ser rigorosamente cumpridos em cada fase, visando a saúde dos pacientes e o bem-estar coletivo.”
O Conselho Federal de Medicina (CFM), manifestou preocupação com a situação e reiterou “a necessidade de que laboratórios de análises clínicas, em especial os que prestam serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS), sejam alvo de fiscalização ostensiva da Vigilância Sanitária, com a cobrança de efetivo cumprimento de critérios e protocolos adequados ao seu funcionamento.”
Investigação
Em inspeção realizada pela Anvisa já no dia 10 de setembro, a agência constatou que o laboratório não possuía os kits necessários para realização dos exames de sangue e sequer apresentou os comprovantes de compra. O Ministério Público e a Polícia Civil do Rio de Janeiro investigam o caso e trabalham com várias hipóteses para o porquê dos órgãos infectados com HIV terem sido liberados. Entre funcionários e sócios do laboratório, seis pessoas já foram denunciadas no caso.
Em nota, o laboratório em questão afirmou que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso e que “informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado.” A empresa também disse ter utilizado os kits diagnósticos recomendados e se colocou à disposição das autoridades para investigação do caso.
Transplantes no Rio de Janeiro
Em agosto, dados da SES-RJ apontavam um aumento de 25% no número de transplantados no estado do Rio com um aumento de 15% no número de doadores. No último dia 11 de setembro, o Sistema Único de Saúde (SUS) contabilizava 826 transplantes realizados no Estado.
“Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias. Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas.” declarou em nota, a SES.
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