Foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o primeiro kit para o diagnóstico molecular da doença de Chagas no Brasil. Desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Kit NAT Chagas é baseado na detecção do material genético do parasito causador da doença, o Trypanosoma cruzi.
O kit foi capaz de detectar a presença de material genético equivalente a apenas um décimo do DNA do parasito nas amostras dos testes realizados. O produto inovador foi desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em conjunto com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), ambos ligados à Fiocruz.
“Esperamos que o Kit NAT Chagas possa ampliar o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento das pessoas com doença de Chagas, que são tão negligenciadas e têm dificuldade de acesso à saúde”, ressaltou a chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC e uma das pesquisadoras à frente da inovação, Constança Britto.
A expectativa é que o Kit NAT Chagas seja incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que dependerá da avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), com a decisão final do Ministério da Saúde em relação ao custo-benefício para os cofres públicos.
Avanço no diagnóstico da doença
A promessa é que o diagnóstico molecular traga avanços para a identificação de casos agudos de doença de Chagas, especialmente em recém-nascidos, que podem ser infectados durante a gestação ou na hora do parto, em casos em que a mãe é portadora do T. cruzi, e durante surtos de infecção oral, que são a forma mais comum de transmissão do agravo hoje no país.
Nestes casos, a confirmação laboratorial é realizada por exames parasitológicos, que buscam observar o parasito em amostras de sangue.
“Em comparação, o teste molecular é mais sensível, conseguindo identificar a infecção mesmo com o fragmento de um parasito na amostra”, destacou Constança Brito.
Utilização em grandes pesquisas
O próximo passo é que o Kit NAT Chagas seja utilizado em dois grandes projetos que buscam contribuir para a meta de eliminar a enfermidade como problema de saúde pública até 2030, estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O primeiro deles é o projeto “Cuida Chagas – Comunidades Unidas para Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas”. Desenvolvido em parceria com Brasil, Paraguai, Bolívia e Colômbia, o projeto vai estabelecer estratégias mais eficazes de diagnóstico e tratamento do agravo em mulheres em idade fértil, gestantes e recém-nascidos.
Já o “IntegraChagas” visa ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento da enfermidade crônica na atenção primária à saúde (APS) no Brasil. Outra aplicação do kit será no monitoramento da terapia, com o objetivo de detectar falhas terapêuticas.
Doença de Chagas
A doença de Chagas está associada a condições de vulnerabilidade e pobreza extrema. Estima-se que mais de 1,9 milhão de pessoas sejam portadores crônicos do T. cruzi no Brasil. De 2007 e 2019, foram registrados, em média, 222 casos novos do agravo por ano no país.
Segundo a OMS, a infecção congênita pela enfermidade atinge cerca de 8 mil recém-nascidos anualmente na América Latina. No Brasil, foram estimados 589 casos de infecção congênita em 2010.
Saiba mais: Doença de Chagas: transmissão oral
Os sintomas iniciais são febre, mal-estar, inflamação de gânglios e inchaço do fígado e do baço. O tratamento é realizado com medicamentos tripanossomicidas, que eliminam o T. cruzi na fase aguda da doença. Já na fase crônica, não há confirmação de eficácia total da terapia e os pacientes devem ser acompanhados a fim de buscar a melhoria da qualidade de vida.
Esse texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.
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