O Institute of Medicine fez uma ampla pesquisa para analisar como os pacientes recebem as informações passadas por seus médicos e os resultados são alarmantes: quase metade dos adultos têm dificuldade para entender o que o médico diz e cumprir suas orientações.
Os dados não mentem. Por mais articulado que você possa ser, algumas explicações dadas sobre doenças ou como tomar medicamentos não estão sendo compreendidas por boa parte dos seus pacientes. Por que? Os motivos podem variar desde problemas com alfabetização de saúde até jargões médicos.
Pacientes que podem ter problemas com a alfabetização de saúde incluem idosos, adultos jovens, pessoas com diferentes sistemas de crença cultural, indivíduos com educação limitada, deficiência visual ou cognitiva.
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Como fazer com que seus pacientes entendam o que você está falando?
Você não deve superestimar o que seus pacientes são realmente capazes de entender. Estudos mostram que entre pacientes com competências de literacia limitadas, 26% não entendem quando a próxima consulta está agendada, 42% não compreendem instruções para tomar medicação de "estômago vazio" e 78% interpretam errado rótulos de remédios.
Em outro estudo, neste com pacientes alfabetização de saúde limitada, os participantes não compreenderam o significado de palavras utilizadas regularmente por médicos como "do intestino", "cólon", "teste de triagem" ou "sangue nas fezes". Outro estudo revelou que 1 em cada 4 mulheres não sabe o que é uma mamografia.
Técnica de ensino
Uma das ferramentas mais eficazes para confirmar o quão bem os pacientes entendem o que você diz é o de inverter os papéis. Peça que eles expliquem, em suas próprias palavras, o que você acabou de dizer. Para isso, não diga apenas "Quero ver se você entendeu, repita o que eu disse", assuma a responsabilidade para si, falando "Quero garantir que eu expliquei isto claramente. Quando você for para casa e conversar com seu marido ou mulher sobre isso, o que você vai dizer?".
Caso seu paciente não entenda, reformule o que acabou de dizer em outras palavras. Não espere até o fim do compromisso, quando você já conversou sobre uma série de questões.
Fique alerta
Médicos e funcionários devem estar alertas para sinais que podem indicar um problema de compreensão. Alguns dos sinais são: formulários de registro incompletos ou imprecisos; não-adesão a terapias de medicação; resultados estranhos em testes laboratoriais ou de imagem.
Para aprender o que seus pacientes realmente entendem, marque uma revisão de medicamentos, que funciona da seguinte forma: peça ao paciente trazer todos os seus medicamentos para a consulta. Remova os medicamentos, um por um, e pergunte: "Você pode nomear cada um deles?", "Você sabe por que está tomando?", "Com qual frequência?".
Caso o paciente dê respostas genéricas - por exemplo, "3 vezes por dia" -, pergunte algo mais específico. Isso significa manhã, tarde e noite? Ou significa 7h, 7h15 e 7h30?
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Quanto tempo extra vou perder com isso?
Nem tanto quanto você imagina! Uma pesquisa mostra que essa preocupação é muito exagerada. Em um estudo, pacientes que foram autorizados a falar sem interrupção, falaram por apenas 1 minuto e 40 segundos. Em outro estudo, os pacientes foram autorizados a expressar suas preocupações no início da consulta e depois mais uma vez durante o tempo que quisessem, sem interrupção. O tempo médio de fala foi apenas 92 segundos, com um valor médio de 59 segundos.
Uma razão ainda mais fundamental para tornar a comunicação com os pacientes uma prioridade em sua prática é que a sua eficácia como um médico depende disso. Estudos mostram que a comunicação eficaz tem um efeito benéfico sobre os resultados, incluindo taxas mais baixas de ansiedade, dor e sofrimento psíquico, e maiores taxas de adesão e de resolução dos sintomas. A adesão do paciente aos regimes de tratamento é fortemente influenciada pelo estilo de comunicação do médico.
Você pode perder um pouco mais de tempo em cada consulta, mas, no final, será um tempo bem gasto.
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Referências:

- Agendamento
- Formulários
- Na consulta

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