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Saúde10 dezembro 2021

Pesquisa abre caminho para o início da produção de leite humano em pó com qualidade nutricional preservada

Uma pesquisa da Universidade Federal de Viçosa pode ampliar a eficiência e a capacidade de produção dos bancos de leite humano do país.

Por Úrsula Neves

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa (UFV) pode ampliar ainda mais a eficiência e a capacidade de produção dos bancos de leite humano do país.   

O pesquisador Otávio Augusto Silva Ribeiro, durante seu curso de doutorado, constatou que o leite humano ordenhado não conforme (aquele que é descartado pelos bancos de leite pela presença de sujidades/poeiras físicas) pode ser consumido pelos recém-nascidos, após ser processado da maneira correta e ainda ser transformado em pó, sem perder sua qualidade nutricional. 

Otávio Ribeiro, que também é engenheiro de alimentos e professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), explicou que 40% do leite humano ordenhado é descartado por causa de algum tipo de poeira, que pode ser proveniente de pelos da própria mãe ou descamação da pele do seio.

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Na pesquisa, o pesquisador realizou processos de filtração, pasteurização e homogeneização e verificou a qualidade do leite humano ordenhado não conforme por sujeiras físicas. O aspecto nutricional e a segurança, no que diz respeito à ausência de microrganismos contaminantes após pasteurização, também foram analisados. 

O agora doutor Otávio Ribeiro também realizou a quantificação de ácidos graxos livres durante os seis meses de armazenamento visando investigar quantidade de leite perdida na concentração desses ácidos, que têm um papel essencial no desenvolvimento da criança: da formação dos sistemas cognitivo e visual e proteção do organismo até a absorção de cálcio, com auxílio na formação do sistema ósseo. 

As análises concluíram que após o processamento do leite humano ordenhado não conforme por sujeiras físicas manteve as suas características nutricionais, além da sua segurança microbiológica depois da pasteurização. 

E essa descoberta possibilitou uma nova etapa do trabalho: a do beneficiamento para a obtenção de leite humano em pó. Embora já existam estudos nesta direção, o pesquisador explicou que nenhum abrange todas as tecnologias que utilizou até chegar à secagem, dentre elas a homogeneização. 

Durante a pesquisa, foi desenvolvida uma técnica de processamento que adaptou tecnologias já existentes para a utilização no leite humano, como a homogeneização por ultrassom, o spray dryer e a liofilização, para que não houvesse perdas expressivas nos componentes nutricionais. 

E essa técnica desenvolvida resultou em um leite humano homogeneizado em pó que conseguiu manter, praticamente, todas as características nutricionais do leite humano ordenhado.

leite humano

Perspectivas

Para entender a abrangência dos resultados e das perspectivas que se abrem com essa pesquisa, é fundamental ressaltar que os bancos de leite humano são responsáveis pela promoção do aleitamento materno e execução das atividades de coleta, processamento e controle de qualidade do leite humano para distribuição. 

E esses bancos fornecem aos bebês que não podem ir ao seio materno o leite humano ordenhado, que é submetido a um tratamento térmico de pasteurização para a segurança microbiológica, e congelado e armazenado a -18ºC por até seis meses 

Apesar do foco inicial não ter sido esse, a nova técnica pode ser utilizada tanto no leite não conforme quanto no conforme. Isso porque o leite em pó não necessita dos 18 graus negativos de temperatura de congelamento para o seu armazenamento.

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Além dessa vantagem, o leite pode ser guardado em embalagens a vácuo, que demandam espaços menores e facilitam o transporte para locais com maior demanda. 

As análises do pesquisador Otávio Ribeiro ocorreram na UFV, entre 2017 e 2021, e teve início graças a uma parceria com o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), através do coordenador da rBLH-BR, João Aprígio Guerra de Almeira, ex-aluno da UFV, e da responsável pelo Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite Humano, Danielle Aparecida da Silva. 

“Temos muito ainda a conhecer sobre o leite humano e, por isso, é necessária a continuidade de estudos na área”, afirmou Otávio Ribeiro.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED 

Referências bibliográficas:

 

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